sexta-feira, 24 de outubro de 2008

...Trinta!


Mulher incansável,

De complexo A, B, C.
De vontade Insaciável,
Não dá pra entender.

Mulher de fases.
A TPM é a desculpa
Para fazer as pazes,
Depois da balburdia.

Mulher oscilante.
De quase trinta,
De querer incessante.
Quer que eu minta?

A idade tenta esconder.
Hão de se acostumar.
Quando uma ruga nascer
Não adianta chorar.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Se não me falha

Um roteiro sem nexo
De um filme sem começo

Cheio de furos e pontos de virada
Com conclusões absurdas
E outras esperadas

A ficção que se encontra nos jornais
Baseada em fatos reais

A boa memória falha
A mente mente
O passado volta diferente

E essa história - ou estória
Eu não sei se volta
Ou se vai pra frente

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Segredos de Azul





Absorvo os segredos do azul
Da manhã enfeitiçada pelas horas.
As flores laranjas ultrapassam as tramas,
Iluminando o verde.
Repouso ao som de pássaros
O encantamento com a vida.
Luminosamente entorpecida,
Não há tempo, não há segredos.
Apenas sons, cores, e o medo.



Imagem: Remédios Varo.

domingo, 19 de outubro de 2008

Sem mais (mais).




Sem mais (mais).

Sensível intromissão em seus dias
caço ventanias para ser tempestade,
dívida paga em seu corpo meu abraço,
vida em várias vias no secreto que sou,
amor, loucura, perdão e tesão.
Forte tormenta ao pé do ouvido
nas bobagens que digo se agimos.
Mulher em vôo rasante no peito aberto
por cima seios e línguas, encaixe molhado
e ai, tudo é só envolvimento de alma e corpo,
tela em branco. Sua foda minha foda.
Joelhos dobrados e mais
sem rédeas, sem promessas - por todos os lados.
Suados pergaminhos do mar, fúria em ser o meio.

Eliane Alcântara.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Estação extinta


Pro inverno você,

e as doses de saudade
que não me bastam

Carregue também os seus silêncios
constantemente apontando minha cara

Quando na crescente me procurar
surrarei no seu ouvido
palavras de cetim

Se na minguante retornar
perceberá os meus lábios
impregnados de carmim

Por favor, não peça desculpa
pois detesto ter razão.

Vá pro inverno você
e as sobras de verão


Barbara Leite

domingo, 12 de outubro de 2008

Fragmentos

O Imbecil
meu filho vai nascer com cara de índio. o óbvio é mais prova contra do que a favor da ingenuidade matuta do cabra. o mandarinato político vigente contorcia-se em desentendimento da própria língua em estrangeiro. a réplica é a mais original das virtudes do imbecil. incapaz de se situar na linha de tiro, o grito acaba por sair pela culatra. Chaves que o diga. não é Evo? nada de novo no front...

A Dama da Estação 4
à primeira vista consumia-lhe a história das carruagens. a estação quatro vivia sob concessão dos patronos. Ana dos Duques pintava bordéis e declamava coronéis. se agradasse era paga aos papos e sopapos. dois tostões e luzes acesas. também se dava aos botões. o único inconveniente se exibia como sonata na voz dos homens: vem meu amor, eu também sei te amar...

Brasilia e Outras Artes
a arte de assinar monumentos com o próprio monumento lhe é peculiar. Brasilia tem, nela, o nome, o edifício marco da capital. reparem. o velho centenário não é míope. infelizes, não saberão nunca o valor do toque hipnótico a despertar a capacidade criativa das mãos numa cidade em forma de poesia concreta. assim como no cinema, arte muda. e o Oscar vai para...

Camille Claudel
conheci-a louca. bela obra, a cena. desgraça, o caso. vidraça, a estátua. quem viria dizê-la, pelas mãos no corpo frio querendo-o quente e nu... o negro véu, o presságio do fim incurável de uma possessão. também na esteira, uma mulher de quem se fala, cala e consente. besteira, a vida foi tão pouco a tê-la. retê-la na angústia fustigante num pé de mármore. parti com um recado a Rodin: pensa na dor de mim...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vampiros na Bienal do Livro



Na Bienal, a jovem escritora passa pelo nosso stand entregando convites para a sessão de autógrafos de seu livro de contos, que se realizará dentro de meia hora. Entrega um a cada pessoa presente e deixa um montinho em cima da escrivaninha a que estou sentada.

Uma senhora se aproxima de mim, com o convite na mão.

– “Um Vampiro Atrás da Porta” – lê, com cara de desgosto. – Por que você acha que ela deu esse nome para o livro?

– Não sei ...

Ela insiste:

– Você acha que ela deu esse nome só pra aparecer?

Parece realmente indignada. Contemporizo:

– Não... Deve ser o título de um dos contos.

– Um conto sobre vampiros?

– Metaforicamente, talvez...

– É uma brincadeira dela? Ela está só brincando? Você acha que é um livro infantil?

– Acho que não. Ela escreve para adultos. Já li contos dela, são muito bons.

– Porque, você sabe, crianças adoram essas coisas de vampiros, desde que fizeram aquela novela...

– É verdade.

(Não estou com ânimo para discutir.)

Ela prosseguiu:

– Você não acha um absurdo fazerem novela com vampiros? Não se brinca com isso!

– É só ficção...

– Mas vampiros existem, sabia?

Fiz uma cara interessada.

– Existem –, ela asseverou. – Existem vampiros vivos e vampiros mortos.

– É mesmo? Pensei que vampiro não morria.

– Algumas pessoas mortas voltam à Terra como vampiros... daí não morrem mais.

– Ah!

A gente aprende tanto, em uma tarde na Bienal...

– Tem um paciente no hospital em que eu trabalho que é vampiro –, ela contou. – Acho que ele nem sabe disso.

– Como pode não saber?

– Às vezes eles não sabem. Quando são sugados ainda muito pequenos, eles esquecem. Passam a sugar os outros e nem percebem.

– Mas... mordem o pescoço?

– Não! – ela se aborreceu com minha ignorância. – Não precisa morder. Eles sugam a energia da gente.

– É verdade, tem gente que se aproveita dos outros...

– Não é disso que estou falando! Estou falando de dreno de energia. Sabe o que é isso?

– ... Não...

– Não tem gente que te suga? Que te deixa exaurida?

– Hum...

Fiz uma cara de dúvida. E ela:

– Mas agora eu aprendi a me proteger. Eu via que todos os que lidavam com aquele paciente estavam ficando doentes... Médicos, enfermeiras... Todos! Aí resolvi me proteger. Agora só lido com ele com a mão esquerda.

– E funciona?

– Claro! Ele só pode sugar a energia da gente pela mão direita. Se eu não encostar a mão direita nele, estou protegida.

– Ah!

– Tem uma senhora no meu prédio que também é vampira. Ela era viciada em psicotrópicos e dormia o dia inteiro. Mas quando estava dormindo saía do corpo e ia nos apartamentos dos vizinhos.

– Ia?!

– Um dia percebi que ela estava no meu apartamento. Eu estava vendo TV, distraída, e de repente senti a presença dela.

– Como você percebeu?

– Ora! Como que um cego percebe quando tem alguém na sala com ele? Foi assim, do mesmo jeito. Eu sou sensitiva. Mas na hora em que eu senti a presença dela, peguei o desodorante e fiz assim: tsschhhhh! Bem em cima dela!

Encenou o gesto, empunhando um desodorante imaginário e dando uma sprayzada com o indicador. Arregalei os olhos:

– Puxa!

– E sabe o que ela fez, na hora que eu taquei o desodorante nela?

– O que que ela fez??

– Ela mora bem em frente do meu apartamento, a janela do quarto dela dá pra minha sala. Ela abriu a janela do quarto e deu um grito assim: AAAAAAAA!

Gritou bem alto. Arregalei mais os olhos. Algumas pessoas que passavam diante do stand nos olharam, curiosas.

– Depois, quando encontrei ela no corredor do prédio, sabe o que aconteceu?

Eu ia arriscar o palpite de que a tal senhora estaria com cheiro de desodorante. Ainda bem que eu não disse essa bobagem. Ela explicou:

– Quando ela passou por mim no corredor do prédio, ela gritou de novo: AAAAAAAA! Ela lembrou que fui eu quem jogou o desodorante nela...

– Que coisa...

– Pois é. Desde aquele dia ela mudou completamente. Agora ela acorda cedo e vai à igreja todo dia. A igreja lá dela... porque é católica fanática.

Eu diria “fervorosa” em vez de fanática, mas é questão de vocabulário. Concluí:

– Ainda bem que você tinha um desodorante à mão...

– Pois é...

Com esta conclusão filosófica ela se foi, que a Bienal era grande e havia muitos stands a visitar. Mas não deve ter ido à sessão de autógrafos de Um Vampiro atrás de Porta.

sábado, 4 de outubro de 2008

Das eras, das feras e dos monstros interiores


Entre milênios espremidos em minutos
eras que se passaram em horas
no espaço imutável de um segundo
guardei aquele olhar dentro do meu
aprisionei-o e o trouxe comigo;
às vezes minha cruz mais pesada
em outras meu único abrigo
das acusações que me faço
sem me defender;
não peço nunca clemência
nem estou disposto a oferecer.
Último voluntário da pátria
sigo esbarrando nos ombros
dos que não me vêem
que não sabem onde guardo
meus tesouros e escombros
Dou de beber aos filhotes da minha loucura
crias gordas e sadias
rainhas, cadelas, vadias
percussoras da minha crucificação diária
último pária
seguindo sozinho em busca do horizonte
bebo o fel da fonte
do amargo lembrar
do rememorar
auroras de perdidas cores
de vários festins
e difusos amores
Aos séculos e seus sagrados segredos
respondo que ainda persisto
e apesar das derrotas e dos meus medos
não acenderei a candeia que eliminará a escuridão
no meio das sombras danço
mas o coração não acalento:
eu o picotei em pequenos pedaços
e o cozinho em fogo lento

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

funarte e fac (df)

prorrogada a inscrição para projetos de literatura na funarte para 20/10. tem proposta tb para crítica literária. será que o BDE será aprovado?

o fac (fundo de amparo à cultura) de brasília tb está com as inscrições abertas até 3/11/2008. é a única e real oportunidade de sermos publicados sem financiarmos a obra.