terça-feira, 27 de outubro de 2015

Pivetes




Acordou com dor de cabeça e sentimento de culpa.

Soubera na noite anterior que um grupo de extermínio eliminara três pivetes que perturbavam o sono e o sossego dos comerciantes do bairro.

Ele não tivera qualquer participação no episódio.


Mas ficara feliz quando soube do ocorrido.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Todo dia


– Eu passo o dia todo esperando ela aparecer.

– Que triste isso...

– Não é triste não. Triste é quando ela não vem.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Ah, é mesmo? Tá bom, então...

Você é uma pessoa que lê muito?

A pergunta, neste caso aqui retórica, faz a gente se questionar: afinal, o quanto significa “ler muito”? Existe uma medida para tal? E se existe, seria esta mensurada pelo número de páginas lidas? Ou pelo histórico de leitura de cada indivíduo? Seria pela média de livros lidos em um ano?

Bem, independente de como medir o quanto cada um de nós lê, hoje em dia vale a pena lembrar o que de fato estamos lendo. Por exemplo: uma piada que você recebe no seu WathsApp. Ah, isso certamente entra para o seu repertório de leituras. Mesmo que você não esteja procurando ler uma piada naquele instante, você a lê! – seja por curiosidade, por respeito à pessoa que lhe enviou, ou para se livrar de uma tarefa chata no seu trabalho. No fim, valeu a pena – você riu um pouco (ou não), mas definitivamente leu esta piada que estava lá em seu Whats. Se você não a entendeu bem, bastou uma segunda leitura para finalmente entender a piada, o que levanta mais uma questão: ler duas vezes a mesma coisa conta como “ler mais”? Eu diria que não, até porque no caso específico da piada, se ela não tinha graça nenhuma na primeira lida, você, querendo mostrar os dentes para o amigo (a) que lhe enviou, gentilmente a lê novamente, desta vez de forma mais pausada, para ver se você não perdeu nada lá pelo meio dela. Se ainda assim você julgá-la sem graça, talvez na próxima vez você leia só a primeira linha dela...

Outra coisa que se lê muito hoje em dia é a data de validade de qualquer produto alimentício que você compra no supermercado. A tarefa às vezes é inclusive taxada de complicada, afinal, muitas vezes a data está apagada e borrada, ou fica em lugares difíceis de achar, o que ocasiona de a pessoa ler por engano outras informações desnecessárias até chegar a tal data – apesar de quê, dizia-se antigamente: “ler demais não mata ninguém”. Já de menos...

Sabia que, neste papo todo de ler pouco, muito ou nada, um aluno adolescente me respondeu outro dia o seguinte, após eu questioná-lo acerca de o quanto ele lia:
- Ah, professor, eu prefiro ver vídeos no Youtube.
- Mas, meu caro, são duas coisas distintas, veja bem que ler é...
- Não professor, na verdade eu quis dizer que SOU BOM em ver vídeos do Youtube, não em ler livros. Isso é o que sei fazer. Sabe fêssor, cada um cada um, né?
- Ah é mesmo? Tá bom, então... - Após uma explicação tão boa como essa, não tive mais o que falar ao meu aluno...

Bem, agora sendo sincero com você que me leu até aqui, em primeiro lugar MEUS PARABÉNS por sua força de vontade por chegar aqui; penso que das duas uma, ou você é um leitor ou leitora contumaz, ou, alguma amiga ou conhecido meu que de tanto ver o link em minha página do Face, tomou coragem e disse “Meu Deus, vou ler este cara ou ele vai me perguntar qualquer coisa algum dia... Que saco!!!” – o que não quer dizer que esta pessoa não tenha o hábito de ler, talvez ela não tenha tempo ou não goste de crônicas mesmo... Enfim, o que lhes peço agora é que você poste um OK para mim, seja aqui nos comentários logo abaixo, ou nos comentários do Face ou do Twitter. Tudo bem? Isso é fácil de fazer; o mais difícil, que era você chegar até aqui, já está feito: missão cumprida. Ponto pra você, leitor e leitora!










domingo, 18 de outubro de 2015

Caro Amigo Fred

Antes de tudo, queira desculpar-me por escrever-lhe esta carta tanto tempo após o acontecido, mas você há de convir que fui pego de surpresa pelo desenrolar dos fatos e só agora me sinto em condições de relembrar todos os momentos que juntos passamos. Nada como o tempo para cicatrizar tristezas e fazer germinar alegrias.
Lembro-me bem do dia em que o vi pela primeira vez. Mal desconfiava que, algumas horas depois, você já estaria instalado em minha casa. Logo que lhe avistei, saído do ninho em sua inaugural excursão junto com seus outros dois irmãos no telhado da fábrica que dava para a varanda do meu apartamento, desconfiei que você, amigo Fred, era o mais levado do trio e daria muito trabalho à sua mãe. Você não curtiu cinco minutos em liberdade, caindo pela fresta que existia no teto da loja abaixo de casa. Como já era fim de expediente e o estabelecimento estava fechado, você miou por toda a noite. Miado de filhote, assustado, temeroso do desconhecido e do desamparo.
No dia seguinte, eu fui resgatá-lo, lembra-se? Meu plano era devolvê-lo ao telhado, mas, apesar de estranhar o local,  você me conquistou e foi ficando. Com dias de convívio era praticamente o dono da casa e, já que insistia e permanecer junto a nós, que ao menos tivesse um nome. Frederico José, nome de imperador, Fred para os íntimos.
Curti por demais suas brincadeiras de filhote, como a de se atracar com o meu braço que, por consequência, vivia arranhado. Você ainda desconhecia o poder de suas garras, mas com o passar do tempo soube domá-las. Meu braço agradeceu sua disciplina.
Quem disse que gatos são indiferentes aos seus donos?  Se a afirmativa estivesse correta, você, Fred, possuía então alma de cão. De fidelidade canina, sempre ao meu lado em casa, varava madrugadas deitado sobre a minha impressora enquanto eu trocava a noite pelo dia em salas internéticas de bate papo. Era divertido abrir a porta da casa e você vir receber-me, revelando haver passado o dia dormindo eu seu gesto de espreguiçar-se.
Fatos pitorescos envolveram sua curta existência, meu amigo, como aquele em que, durante sua primeira ida ao veterinário, o mesmo, ao examinar sua genitália, declarou solenemente: “é uma fêmea”. Por dois meses você foi chamado de “Frida”, até os testículos aflorarem, revelando sua masculinidade.
Ou quanto você “surtava”, correndo de um lado a outro da casa, subindo nas camas e nos encarando com um olhar ao mesmo tempo brincalhão e assustador? Durante seus surtos, eu tinha a impressão de ter um tigre, um puma ou pedaço da selva dentro do meu apartamento.
Imaginei que conviveria no mínimo dez anos com você, caro Fred. Durou um ano e meio. Gatos em geral morrem de forma violenta, diziam. Eu não acreditei.
Ficou a lembrança Frederico José, doze anos depois, tornada pública.
Do seu amigo,
Zulmar Lopes

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Marcha

Tem protesto lá na esquina democrática
Me convidaram
Não vou
Eu sou bundão
E covarde
Estou cagando e andando

Protesto em casa
Fazendo sexo

Os miliquinhas
Continuarão abusando
O Zé não vai para de gritar
Vai ficar tudo na mesma merda

Algum fulano
Até vai ocupar novamente
Os painéis de controle do poder
Mas não irá desligá-los.