segunda-feira, 30 de maio de 2011

Convidado Gustavo Martins

Eu amo Garen Muttin


Coube a mim bater com o candelabro de prata na cabeça da megera. Meu herói e mentor advertiu: não hesite, mire no alvo e ataque. Ela foi ao chão, mas foi por pouco, pois no átimo da pancada abafada esboçou um reflexo de reação.

A cabeça abriu com a força do golpe, e fez uma sujeira que não se vê nos filmes. Fui atrás de um lençol para limpar ou cobrir aquilo antes que me provocasse ânsias. Enquanto Garen Muttin (que nome encantador) cumpria a parte que lhe cabia, eu faria a vigilância. O dinheiro que conseguíssemos na empreitada garantiria o começo de nossa vida a dois. E ele prometeu me comprar um labrador!

Limpei e cobri como deu, sangue, fiapos de cabelo e ossinhos. Meu herói demonstrou uma habilidade de planejar impressionante, e agora de agir sem emitir um ruído sequer. A ansiedade de esperar repercutiu prazerosa em mim, tal a segurança que Garen transmitia. Como demorou um pouco, recostei no divã. Acordei com o estampido da porta derrubada e flashes de luzes vermelhas e azuis.

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domingo, 29 de maio de 2011

Falaria sobre a morte algumas bobagens

Eu mal sabia o que era a morte a uns anos atrás. Poderia classificá-la entre os mitos e fábulas aos quais ouvíamos atentos, sentados em roda. Me contaram sobre o curupira, o saci-pererê, e que um dia a vida de todos teria um fim. Em conformidade às autoridades, acreditei. Mas, em segredo, duvidava, não havia como não duvidar. Eu presenciava tanta vida ao meu redor: eu só crescia, e meus pais sempre iguais. A horta crescia, meus irmãos se graduavam, eu ia para a segunda-série (e até onde minha vista alcançava eu tinha muitas séries a cumprir). A vida aparentemente era eterna, e seguia para algum lugar grandioso. A lista de compras sempre cheia, almoço sempre na mesa.

Até que enterramos meu vô Jorge, meu querídissimo vô Jorge. Era parte da minha vida chegar em sua casa nos finais de semana, e à primeira vista de minha presença, o velho Jorge ia logo ao seu quintal, lindo e florido, catar um vistoso maço de espinafre para mim e me presentear nutrientes para a semana toda. Eu não gostava de comer, e bolinhos de espinafre com banana eram um dos meus poucos quitutes preferidos. Na minha família, comida e amor são o mesmo.
Enterramos o vô, então entrei num mundo antes completamente desconhecido. Eu desconhecia todo e qualquer ritual acerca da morte. Aprendi que o certo seria dar os pêsames (e recebê-los de tantos desconhecidos). Meu pai e meus tios tinham tantas coisas a resolver, tanto seguia a morte. Avisar os familiares, ligar para a funerária, pagar (como pobre faz pra morrer?). Eu não sabia o que era um velório, e quando descobri achei bem macabro. Entre um cafezinho e outro, ficamos horas sentados ao redor do corpo do meu avô. No interior de Minas Gerais ainda se contrata carro de som para fazer anúncios pela cidade, e enquanto íamos resolver coisas de funerária, cartório, e outras burocracias inoportunas, cruzávamos com um chevette velho dizendo em alto e bom som: meu avô era morto.
Seguimos em procissão até o cemitério, pelas ruas da cidade que meu vô conheceu menino, meu pai ajudando a carregar o caixão, e então vi meu pai chorar a morte do seu. Pela primeira vez aquilo não me dizia respeito, meu pai não me dizia respeito: era apenas um filho, recém-órfão de um pai. O que aconteceria depois daquilo, eu não sabia. Somente acompanhava a procissão, então o caixão foi coberto por concreto. Nada daquela terra bonita de cemitério de filme - ali era cheio, quente e cimentado. Uma família inteira chorando e um trabalhador concretando meu avô para sempre. Ao final, viramos nossas costas ao meu avô, meu vaqueiro e vô Jorge, e fomos pra casa do vô, sem o vô. Ver aquele concreto cobri-lo e virar as costas foi das coisas mais difíceis que fiz.

Depois perdi minha vó, meu outro vô, minha amiga e minha mãe. Aquilo que não conhecia até então se tornou minha vida; a morte era a minha vida, e eu convivia com ela diariamente. Cada ida ao hospital, cada resultado desanimador de exames repetidos, tudo era um pedaço da morte que se aproximava. Há uma certa facilidade em viver a morte quando esta é óbvia; outra história é vivê-la em vida, em conjunto. Eu e minha mãe vivíamos sua morte, ao mesmo tempo em que aproveitávamos tudo que sua maquinaria metabólica, enquanto funcional, nos permitia: abraços, eu te amos, noites estreladas nas areias de Pernambuco. Trocamos palavras de carinho e conforto, manhãs de domingo, e em cada gesto nosso lia-se amor. Aliás, sentia-se amor, físico. Com sua morte redescobrimos a vida, e a dividimos por alguns dolorosos e bonitos anos.

Recentemente uma amiga perdeu um dos seus, seu irmão, de maneira trágica e repentina. Fiquei triste, e sem palavras a alguém com quem trocava tantas. Uma expert em morte, eu agora saberia o que dizer, mas não. Fiquei sem palavras, e cheia de sentimentos e pensamentos. Revivi minhas perdas, e os aprendizados que elas talvez teriam me presenteado.

Com a morte aprendi algumas coisas, todas inesperadas. A primeira delas é que a sua vivência não vem acompanhada de entendimento algum. Seria bom se fizesse sentido, mas não faz. Não há sentido em uma pessoa estar ao seu lado em um momento e no instante seguinte não estar mais. Esse acontecimento não cabe no nosso entendimento. Não há nada comparável em nossa experiência; sabemos do fato, sabemos algumas consequências, mas não necessariamente o compreendemos. E a vida não pára, mesmo sem entendermos. Sim, ainda temos que ir ao cartório, agora sem mãe. O que isso significa, não sei.

A vida continua absolutamente igual e completamente diferente, ao mesmo tempo. A bolsa da minha mãe seguiu na cadeira onde estava, mesmo quando deixou de respirar. Nossa cadela ainda sentia fome e precisava ser alimentada, os pratos na cozinha eram os mesmos, seus suplementos alimentares continuavam na geladeira. Nada além de seu corpo havia ido embora, mas isso foi o suficiente para que nada mais seguisse como era - o que a falta de um metabolismo funcional é capaz de causar. Os pratos eram os mesmos, comer não. Eu era a mesma; minha vida, não.

Eu aprendi que a vida não é infinita. Acreditar nessa fantasia tornou-se, no mínimo, improvável. Seu fim é inevitável, apesar de nossos esforços. Essa incapacidade de controlar fica, a pessoa vai. Entende-se como nunca o fato de não termos controle. Isso facilita viver com a morte - não há outra opção. Continuando vivos, a única opção é sentir saudades, e viver esse mundo que não parou porque você perdeu alguém.

Os dias seguintes serão ruins, mas nada que você não dê conta. Se tiver sorte, o ato também não será tão ruim, poderá até ser impresso de uma beleza como poucas vistas. Uma calma, uma beleza quase palpável caiu sobre nós, e não houve outra opção a não ser percebê-la. Na concretização de um dos meus maiores pesadelos, eu achei tudo bonito. Era grande o amor naquele quarto, nada me importava além de seu conforto nesse seu processo, eu queria que minha mãe fosse bem. Disse a ela em seu ouvido que ficaria bem, e a amava. Que poderia ir tranquila e feliz, e ela foi bem. Em uma das nossas maiores declarações de amor, ela confiou em mim, que eu faria uma bonita vida, mesmo sem ela. E eu a deixei ir, feliz pelo fim de sua dor, minha única preocupação. O feio veio depois.

A morte não se restringiu àquele momento da falha dos órgãos. Ela segue acontecendo, dia após dia, no que parece se suceder para o resto de nossos dias. A morte é mais presença que ausência. Será sua companhia, se fará presente quando menos esperar, tomará outras cores e formas. A perceberá em vários momentos, como quando procura por uma receita de bolo. Não poderá mais conversar com o morto. Jamais saberá como estaria; ele jamais saberá como estás. Assim sendo, a morte é um pouco sua também. Ela cristaliza duas existências: a sua e a outra. Também fui com minha mãe, e tudo que é feito hoje é pura reinvenção, com doses cavalares de coragem.

Ela será sua maior companheira, mas não poderá falar dela. Essa grande parte de você é um tabu. Então, que esses segredos todos fiquem entre nós. Podemos deixar alguém desconfortável. Converse com amigos em comum com a dona morte, reúna seus amigos órfãos e faça piadas sobre como seus companeheiros não terão problemas com as sogras e sogros. Dê boas risadas, porque não há nada mais mesmo que possa fazer. Se o fim é inevitável, divirta-se em qualquer pedaço de caminho. Aí levante-se da mesa de jantar, escove os dentes e coloque seu pijama. Vá dormir, que amanhã começa um novo dia.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sugestões no Prosas e Viagens

Hoje é dia de sugestões no meu blog www.prosaseviagens.blogspot.com:

Museu Vivo da Memória Candanga: é o texto mais acessado do blog; o museu abriga oficinas culturais, sessões de cinema, exposições temporárias e a exposição fixa "Poeira, lona e concreto", com fotos e objetos da época da construção. Acesse pelo link http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/Turismo%3A%20o%20DF%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20s%C3%B3%20Bras%C3%ADlia

A (re)volta de Policarpo: é o texto com mais comentários, foi premiado com o 1º lugar em um concurso peomovido pela Prefeitura de Barueri (SP), em 2010. Conheça através do link http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/Contos

Ponto de Vista e Hipocondria: poesias visuais com boa aceitação na web. Conheça pelo link http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/Poesia%20visual

E quem quiser comentar no próprio blog, fique à vontade...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Traço

peço
quando faço
do meu traço
um verso
que nasça
do som que passa
e que a pena
apenas grafa
a graça
que o belo
elo após elo
em letras disfarça

domingo, 22 de maio de 2011

Mais perto do Senhor


          Ela vestiu sua melhor roupa, tirou do armário aquele perfume guardado para ocasiões especiais e ficou fazendo e desfazendo o cabelo até que ele ficasse impecável.

          Saiu de casa meia hora antes do que de costume e caminhou pelas ruas vazias em direção à praça. As poucas almas vivas que encontrava estavam entre vivas e mortas, acordadas e desmaiadas, resquícios da noite anterior. Era assim toda manhã de domingo, especialmente na época da colheita do café, quando a população da cidade dobrava apenas com os trabalhadores temporários, nômades, a serviço de quem tivesse serviço a oferecer.

          Como planejado, chegou a tempo de pegar o melhor lugar, na primeira fila, à margem do altar. Observou atentamente cada movimento do padre enquanto ele preparava-se para subir ao púlpito, estava esperando por este momento desde a semana anterior, mas não se arriscava a dirigir-lhe a palavra. Ela pensava que se ele ao menos a olhasse com atenção, ela nem precisaria falar nada.

          Em pouco tempo começaram a chegar outros fiéis, alguns infiéis e outros que nem sabiam muito bem o que estavam fazendo ali. Entre todos, uma lhe chamou a atenção, ela nunca tinha visto aquela moça por ali. Não era muito bela fisicamente, tinha lá um ou outro detalhe a reparar, mas o que mais chamava a atenção era a roupa. Era uma roupa de sábado, parecia imprópria para a missa de domingo, uma saia alguns dedos acima do joelho e uma blusa de alça, com um leve decote, que deixava à mostra as linhas do pescoço adornadas com um belo par de colares, um em tons de madeira e o outro vermelho.

          Logo ela deixou de reparar no pescoço e na moça dona do pescoço. Mas, então, quem reparou na moça foi o padre e, após reparar que ele havia reparado, ela voltou a reparar na moça. Analisou cada detalhe, cada leve defeito, cada pecado que ela havia de ter cometido. E reparava também no padre, nos seus olhares e seus sorrisos. Assemelhavam-se ao olhar e ao sorriso do último domingo, mas ela tinha certeza que se direcionavam ao quinto banco do lado esquerdo da igreja.

          A situação foi lhe deixando ansiosa, não sabia como proceder diante de tal afronta. Ainda mais porque ela estava na primeira fileira, em meio a duas senhoras, no meio da cerimônia, em meio aos olhares e colares, pensando em um meio de cessar aqueles atos indecentes. Foi então que começaram uma oração e ela, sem outra opção, começou a rezar alto, mais fervorosamente do que qualquer pessoa já havia orado diante daquele altar. Por conta disso, os olhares de todos, inclusive os do padre, direcionaram-se a ela. Percebendo a situação, ela continuou, em alto e bom tom, a pronunciar todas as falas que cabiam aos que ficavam de frente para o altar, já sabia todas de memória.

          Ao final da cerimônia, após cânticos entusiasmados e orações fervorosas, ela olhou para o padre e ele fez um gesto para que ela se aproximasse. Ela sentiu um frio na espinha, até o ar dentro dos seus pulmões sentiu-se intimidado e acabou ficando por ali mesmo enquanto ela caminhava em direção ao altar. Durante a breve caminhada, observou com um sorriso a moça dos colares retirando-se pela porta lateral.

          Quando ela já estava perto o suficiente, ele disse:

          - Já na minha segunda celebração não pude deixar de notar tua presença. Não há modo de não ficar admirado com tua devoção às orações e aos cânticos. Tens algum motivo especial a celebrar?

          Ela deu mais um passo em direção a ele e respondeu:

          - Tenho só um motivo, ficar mais perto do senhor.







Texto publicado no livro Vem cá que eu te conto - obra disponível gratuitamente aqui: http://livrovemca.blogspot.com


sábado, 21 de maio de 2011

Poema para Aquele que passou





... e eu que sei de poucas coisas
descubro as que são dolorosas

Já sei que é por sua causa
a educada dor da rosa
e que por seu desencanto
a lua nasceu nervosa,
que é por seu coração
- que é algo entre fibra e rocha -
que as coisas todas na terra
- entre a saudade e a quimera -
que tudo, tudo, tudo
se espraia e se desintegra

ou talvez seja porque
amei tanto você
que já não vejo saída.

Talvez seja culpa só sua
ou
quem sabe, da vida.




(Jessiely Soares)

Luminescência

No crepúsculo do teu olhar notívago

O murmúrio das horas ancestrais

Paira contemplativamente

Sobre os vórtices do tempo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Convidado Bruno Bossolan

Você nem imagina


Você que me vê
distante em
caráter singular

Não imagina as
tantas deformidades que
carrego por debaixo
do rosto
mascarado

Não imagina que
disfarço muito
bem quando tento
sorrir em um grupo
de palhaços

Não imagina o
obtuso rasgo
do tormento que
me arrebenta
me torce
me espanca
me tira o sono
e me joga contra a parede
dos estigmas

Não imagina que o
instinto é meu espírito
e o medo sempre consta
nas decisões imprecisas

Não imagina que
estou cagado e assado
e ninguém se compromete
em limpar minha bunda
com receio de se contaminar

Não imagina
que minhas mãos
são violentamente delicadas
e ferem a escrita em
busca do conforto
passageiro

Não imagina que arregaço
estripo
estrangulo
cada rosa que tenta

desabrochar no meu jardim
de lesmas
ratos e corvos e insetos da putrefação

Não imagina que
de dia sou couraça
e na noite pele
carbonizada
à pururuca nos pratos
dos paralíticos intelectuais

Não imagina o quanto
já fui fodido por
criar convicções onde
existia apenas a
saliência do vazio

Não imagina o solo
frágil e arranhado
por onde me equilibro
onde me arrasto
onde lustro com
a cara faminta
sendo que era apenas
pra cuspir com cuidado
e pisar devagar

Não imagina a
origem ou a falta
monstruosa de covardia
que busquei
quando pensei em
desistir da vida

Não imagina as intraduzíveis
intransgressíveis
incompreensíveis
atitudes imaturas
de quando chorei
no banheiro tentando
tirar o encardido
da agonia

Não imagina que a minha
sentença é a liberdade
e fico no compasso da
injustiça que cometo
quando tento me igualar
aos cegos mudos surdos
incapazes de sangrarem

quietos

Você me olha tão de
longe que não sente
o arrepio do meu frio
cardiovascular

Você nem imagina
o esforço que faço
pra te dar um
suspiro-abraço
no teu pensamento
distante

---
Bruno Bossolan

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Amores.


São os amores uma espécie de lembrança. Aqueles que passam e nos tocam. Aqueles que vez por outra aparecem e aqueles que nunca mais temos notícias.
E todos residem em comunhão em um mesmo lugar e comungam quase os mesmos sentimentos como se no anonimato da alma pudessem andar de mãos dadas.
E aqueles que fogem para outra dimensão não desaparecem nunca, estão sempre com um sorriso a dizer do que poderia ter sido.
Sem esquecer dos amores que nunca serão e brincam que são donos dos momentos cavando seu lugar junto aos que foram e insistem em ser pele em alguma situação.
O melhor de tudo isso é que nos marcam de leve, deixam um gosto bom até quando conseguiram ser ruins. E são recordados até depois de confirmarmos para nós que não queremos nem um fio deles.
Recolho as pessoas que conheci, os amores que vivi e não faço coleção, mas observo o espaço que cada um conseguiu conquistar em minha vida e comparo como cada qual é diferente. Passado. Um passado que no presente é alegria, carinho, dor e amizade. Instantes tão diferentes e tanta emoção parecida.
Há os que são amigos e juntos não vivemos mais nada do que sonhávamos, mas somos quase irmãos.
Os que por personalidade forte demais não deixaram endereços ou sequer algo que justificasse o vivido e ficam ali, do lado de fora do portão olhando para dentro.
Os não importantes que foram brincadeiras ou desejos e esquecemos, só sendo lembrados com muita insistência da mente.
Os amores carinhosos e brincalhões que não passam nunca, e não interferem, são somente gosto bom.
Os amores da carne, os mesmos dos desejos, passatempo para ambos. Uma sintonia entre beijo, sexo e tchau.
Os virtuais em sua excelência que não vingam e em sua transparência que acalentam. Que é um conhecer o outro no mais íntimo e não conhecer. Ou mesmo para muitos, o altar.
Amores descoloridos, proibidos e amores brilhantes. Tantos e adormecidos. Pequenos fragmentos na saudade a nos fazer melhores. Pequenos pedacinhos de vida a nos ensinar mais da própria vida. Aprendizado com rota certa: um único e insubstituível amor entre as pernas de tantos amores.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Dancing With The Devil

- dizem que cachaça
alimenta o monstro
dentro da gente.

- é verdade,

- então, mestre, traz mais uma
e bota uma música

que hoje eu vou dançar com ele.


André Espínola

domingo, 15 de maio de 2011

Incompletudes


já tenho em minha carne
o rangido franco,
frio
e solitário
das horas
indivisíveis.

não mais
me demoro os dedos
sobre o fio da faca
na tangência
de um tempo
que não tenho,

pois que me adormece a luz
nas mãos espalmadas,
privadas de palavras
em um silêncio imortal
que se imprime absoluto.

abasteço,
recorrentemente,
a incompletude desta loucura
com teus olhos fugidios,
insistentemente sádicos

: olhos de amassar maçãs
e envenenar riachos lacrimosos.

e é quando as auroras
se transfiguram
em dias cinzentos
que me doo à chuva.

neste então me voltas,
sob a rama deste ipê,
tal um espectro
entre pétalas violáceas

a me contar
que inda existo.

(Celso Mendes)

O Silenciar dos Anjos

(Sonia Cancine)
.

Na calada fria da noite escura
Ao ouvir o sussurrar dos Anjos
Emudecem-me os sentidos

Um olhar de olhos infindos me vigia...

Inquieta, reverencio o tempo
Onde o aqui agora nem perto nem distante
Canta junto ao meu coração e
Entrego-me na finitude de tudo o que sou.

Em meio a nuances e tormentos
Teço traçados desalinhados em cunho e
Perco-me neste labirinto de metáforas.

Um Anjo tetro num recôndito invisível
Pelas vias/mente, algoz - a morte me anuncia.
Peregrino pela campina verde e me deito no sereno.

Sonho (de novo) ao ouvir o gorjeio das gaivotas

O murmurinho das águas do mar e do vento.

O perfume que exala das flores
Cintila na aparição do céu inexorável
E me liberta do cárcere em que vivo.

Será loucura de meus pensamentos?

Luto para fugir do mal que me assola
Montada no meu cavalo indomável
Na noite sombria à luz da Lua nua.

Meu destino, minha senda
Que transita entre o céu e o inferno
Como vidro se despedaça no chão.

Alço finalmente de asas abertas à Luz ao final do túnel e
Vencendo o vento angario do pó alma minha.

Do efêmero isolamento
- vôo como fênix em direção ao Sol -

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Nudez

Tentei calcular sem sucesso
e confinei-me numa cela gélida
onde chacoalhava desesperada
uma fera chamada libido.
Nas nuances do suave e bestial
aderimos aos nossos desejos,
desatando das prisões
para encontrar nosso refúgio.

Entrelaçados e agitados
ignoramos tudo e todos,
encaixando nossas peças
num jogo de movimentos,
no qual o clímax revelava
duas formas de nudez.

- Mensageiro Obscuro.
Abril/2011.

Foto: Modelo da grife Madeleine Chemise com lingerie e máscara pelo site de lingerie Allure Lingerie.
Portal da grife: Allure Lingerie

terça-feira, 10 de maio de 2011

Convidada Marina Mara

A força do nosso lado Negro




E se os racistas estiverem certos a respeito dos Negros? E se a influência africana no Brasil for realmente negativa? Para comprovarmos a hipótese de que o racismo tem fundamento, iniciaremos o nosso processo de branqueamento do país por uma, tipicamente afrobrasileira, roda de Samba. Retiraremos de lá o agogô, o batuque, a cuíca. Logo em seguida, retiraremos a ginga, o tempero, as raízes do Samba, o Samba. Até que a roda veja Pixinguinha e Cartola apagando as luzes, fechando suas portas, desaparecendo da memória e da história do Brasil.

Aproveitando o ensejo, vamos desaparecer também com os escritos de Machado de Assis e afundar o navio negreiro com Castro Alves dentro. Vamos pichar as obras de aleijadinho e aleijar Pelé em nossos corações. Zumbi a partir de hoje será somente o morto-vivo do videogame – e se for à Bahia, enforque Gilberto Gil. E para mantermos a coerência do discurso, não será permitido o uso de palavras afroimportadas como cafuné, cachaça, moleque, dengo – e pena de morte para quem tomar uma branquinha.
Alguma dessas heranças fará falta ao Brasil ou a você? 
A súbita saudade que nos bate só em pensar no mundo sem essa negritude é a parte que nos cabe dessa miscigenação pulsando pela parte de dentro da pele, falando mais alto que qualquer discurso racista. O Negro que nos ensinaram a repudiar sem explicação lógica ainda é aquele criado pelos colonizadores do mundo para desvalorizá-los como mercadoria, baixando seu preço. Esse é o Negro não-assumido dentro de cada um, com o qual ninguém quer se parecer. Assinemos agora a abolição desse Negro, vamos libertá-lo para que ele fuja do imaginário coletivo. Que suma para deixarmos fluir a negritude genuína que corre em nossas veias ou em nossos quadris. Esse Negro é parte da gente e repudiá-lo nem sempre é racismo, às vezes é falta de amor próprio. 
O racismo mensura arbitrariamente o valor das pessoas baseado em uma palheta de cores em tons de cinza – quanto mais claro, melhor. E por falar em cores, ouvi de uma criança outro dia: “Tia, é verdade que se a gente ficar em baixo do arco-íris e a chuva cair a gente fica todo pintado de colorido?” E, entusiasmada, emendou: “vamos pintar todo mundo de colorido, Tia?” Topei na hora. Aquela menininha de apenas seis anos, sem perceber e de forma lúdica, acabava de encontrar um jeito de resolver nossas questões raciais, a partir de então não teríamos mais uma cor, teríamos todas.
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segunda-feira, 9 de maio de 2011

PSICO-FOFO

PSICO-FOFO

Meu nome é Lua
Vou falar de João
João apareceu
Domingo
O lugar
Bar do Gomes
Bairro
Santa Teresa
Cidade
Maravilhosa
Chovia muito
João
Veio bajulando
Gostei
Conversamos
Trocamos telefones
E-mail
Orkut
Eu bêbada
Sempre bêbada
Não ficamos
Tem de rebolar
Ele é feio
Não trabalho com feios
Um homem feio, bêbada...
Não dá
Não dou
Ligou a primeira vez
Bêbada
Não atendi
Ligou
De novo
Bêbada
Nada
Mandou e-mails melosos
Bajulando-me
Bêbada
Não gostei
Não quero
Nunca quis
Não gosto de...
... Muita doçura
João não desiste
Sempre mel
Sou mais fel
Difícil
Homens
Querendo-me a todo custo
Nunca me satisfazem
Sem chances
Tenho vários
Sou budista
Faço meditação
Hidratação
Enganação
whatevers
Procuro caminho no meio
João é muito fofo
Fofos...
... Apenas bons amigos
Não vou ficar com João
...
Do outro lado da cidade
João fala ligadão pro trafica
Sexo é supervalorizado
Aquela puta pratricinha
Por cinquentinha eu bato nela
Por quinhentos quebro ela toda
Por cinco mil eu mato ela
Por cinquenta mil dou-te a cabeça de bandeja
Meu serviço é assim
Quero reconhecimento

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

domingo, 8 de maio de 2011

Enuma elish...


havia a raiva

feito serpente

bicho ruim

pelos cantos

havia poder

deslindando o caos

dissecando tudo

havia o desejo

certezas vagas

chuva miúda

minha boca na sua

havia tua beleza errática

minhas culpas temáticas

teus sorrisos asmáticos

havia mil beijos esquecidos de se dar

eles beiravam o abismo

e voejam ao teu redor

não vê?

havia você

na tal caixa

que Pandora abriu

sexta-feira, 6 de maio de 2011

As Bodas de Fígado



Casou-se moço, no auge de seu vigor produtivo: viçoso, trigueiro, reluzente, belo. Celebração natural de um amor brotado à primeira mirada, os folguedos vararam madrugadas e dias, de sol, fogo, chuva, mormaço. Malgrado protestos, sem cocas, crushs ou tubaínas afins, barraram-se os crentes à porta. Assevera a História Oral que o bagulho foi frenético, bombou. Pena o festivo começo não ter escapado à sanha tradicional dos matrimônios felizes. Amante fogosa, insaciável, ela reclamava elevadas e diuturnas performances e potências do fatigado cônjuge que, herculeamente, desdobrava tripas para satisfazer à amada. Debalde. Tamanha azáfama cotidiana fê-lo, paulatinamente, murcho, verde, opaco, feio de se ver. Apaixonado, chupado pelo amor que devora, consumiu-se até à morte; feliz. Doña Calibrina, a viúva, dizem, à boca pequena, logo anunciou núpcias novas, desta feita, múltiplas. Dada a profusão de pretendentes, decidiu-se por todos. Embevecidos, festejam os excessos da esposa volúvel. De quando em vez, tomba um. Outros poucos convertem-se à seita das vogais iguais. Porém, muitos outros vêm e juntam-se à bacanal. Sempre sorrindo, Doña Calibrina dança. E queima. E roda. Roda. Roda. Roda.

Carlos Cruz - 20/04/2011

* Pintura de Serhiy Reznichenko.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A horrível sensação de ser vice

Domingo, 03 de Maio de 2009.
Estava na Bienal do Livro de Goiás, atuando no corpo-a-corpo, vendendo a Antologia do Bar do Escritor de forma guerrilheira, abordando as pessoas, oferecendo literatura, praticando a arte de escrever de forma física, full contact. Como era o último dia da feira, muita gente estava aproveitando a queda dos preços e as vendas prometiam. Os corredores cheios de visitantes, expositores fazendo contatos, leitores conferindo estantes, editores sondando escritores; estava empolgado com a possibilidade de fazer bons negócios, mas também estava com a cabeça quilômetros dali. Mais exatamente no Maracanã, onde rolava Flamengo e Botafogo. Mas como deixar a primeira participação em uma feira?
Conversei a respeito do assunto com o Jurandir Araguaia, o escritor que havia cedido o espaço para que pudesse expor meu trabalho e dos companheiros do BDE e chegamos à conclusão que a coisa mais profissional a fazer era continuar com o stand aberto, pois o evento ainda se estenderia até as 18:00 h, acabando no mesmo horário que gritos de “É campeão” estivesse nas gargantas de diferentes torcidas em diferentes estados.
Mesmo sabendo que a era a coisa certa a se fazer, ainda assim ficava com o pensamento longe, imaginando a quantas estaria a coisa. Conversava com as pessoas, apresentava os livros, mostrava diversos títulos, falava sobre os autores, enumerava a origem de cada um, mas todo momento a imagem de uma bola cruzando o espaço das traves, indo morrer gloriosamente nas redes ficava rondando a mente. Vendi cinco livros enquanto rolava o primeiro tempo e em quase todos dei uma vacilada na hora de autografar: caneta que fura página, erro de data, até o ápice que foi a troca de nome em uma dedicatória. Tenho uma habilidade natural em ser desastrado, mas assim já é demais.
Um amigo ligou durante o intervalo, tomando todas, estava alguns coqueiros pra lá de Marrakesh, mas no ritmo dos 2 x 0 do Flamengo ele atravessaria a África toda rapidinho. Imaginava isso enquanto comentava o mercado editorial para um jornalista que buscava respostas sobre o futuro da literatura contemporânea no século das comunicações instantâneas. Bom, era isso ou qualquer coisa que tivesse um título extremamente grande e que se mostrasse aparentemente culta.
Alguém de um stand próximo conseguiu descolar uma televisão e “o pobre entretenimento das massas invadiu o sagrado solo da literatura,” segundo as palavras de um poeta performático que estava presente. Aproveitei para espichar o olho e ver se conseguia alguma informação relativa ao duelo no Maraca. Em rápida sucessão, um uniforme alvinegro corria para o lado do campo, várias pessoas pulando na arquibancada. Sinal de gol. A tensão começou a se apossar do resto de pensamento que ainda tinha.
Como a imagem estava um tanto truncada, um dos presentes resolveu agir mudar a configuração da coisa. Acabou derrubando a tevê; um baque surdo no chão, algumas fagulhas no ar e dezenas de torcedores imaginando milhares de formas dar fim ao infeliz.
Voltei então para a literatura novamente. Recebi a visita do escritor e jornalista Valdivino Braz, que propôs um negócio para lá de generoso: dois por um. Minha pequena biblioteca particular saiu no lucro. O papo anarquista e amistoso me devolveu a serenidade para dar tempo ao tempo e saber do resultado mais tarde. Na verdade, cheguei até a esquecer a partida. Acontece que o velho guerreiro das letras teve que puxar o carro. Até os bárbaros vão para casa uma hora.
A ansiedade voltou para ficar, assim como o Roberto disse um dia. Perguntei a uns dois ou três passantes e nada de notícia. Foi quando vi um sujeito com um radinho de pilhas colado ao ouvido, daqueles que a gente nem acredita que exista mais. Vinheta de programa de esportes derramando-se para fora das minúsculas caixas, batata: o cara com certeza saberia do resultado. Adiantei-me com fome de informação, coração aos pulos e os ouvidos apurados para não ter que perguntar mais de uma vez (tem gente que não gosta de responder mais de uma vez, vai que fosse o caso). O elemento me olhou profundamente no fundo dos olhos e, como eu não portava nenhum adereço que demonstrasse minha filiação futebolística, arriscou: Botafogo 3x2, de virada, 45 do segundo tempo. E saiu andando com jeito de quem estava em uma feira de livro. Na Alemanha.
A espera havia acabado, afinal. Mas a feira do livro ainda continuava, e como em um passe de mágica várias pessoas adentraram o stand ao mesmo tempo, minha atenção teve que ser toda dedicada a estes. Mesmo naquele estado bagunçado da mente ainda consegui fazer as mesmas apresentações sem demonstrar qualquer alteração no humor; um inglês em frente à rainha não teria feito melhor.
Finalmente a feira acabou, começando assim o desmonte. Juntei livros, decorações, cartões, contatos; ainda havia muita coisa a fazer, mas o corpo apresentava um cansaço descomunal. E nem mesmo o convite de um amigo botafoguense (que também estava na feira, ajudando no stand), para tomar umas cervejas às suas expensas me animava. Estava esgotado, física e mentalmente. Decidi ir direto para casa. A noite caiu rápido, e enquanto tirava as coisas do Centro de Convenções os buzinaços dos vencedores saíram das ruas principais, indo para outras paragens. Peguei aquele trânsito de domingo-tarde-da-noite, inóspito, silencioso e calmo. Menos pelos gritos do meu carona, animado com a conquista.
Mas alguma coisa ainda me encucava e não sabia o porquê. Parecia que algo não estava exatamente no lugar em que deveria estar. Foi quando parei isoladamente em um semáforo que descobri. Ao meu lado, parou uma moto, com um casal jovem. Ambos vestidos com as cores da Gávea e com uma estranha animação no rosto, que pude perceber mesmo por entre a viseira do capacete. Não resisti e disparei a pergunta para a moça que ocupava a garupa:
- Aí, quanto ficou mesmo o jogo?
- Você não viu? – o rosto dela irradiava alegria – Um jogão! 2x2 no tempo normal, pênaltis e o Mengão levou!
Soltei o berro preso na garganta enquanto que no banco do carona a felicidade tomou asas. Ia começar a tirar o sarro mais pesado do planeta, cantar todas as marchinhas que sabia e as que ainda iria inventar, quando ao ver a expressão de perplexidade na face do outro (até então tão enganado com o resultado como eu), vi ali a mesma apatia que havia me corroído por mais de duas horas. A horrível sensação de ser vice. Meio sem saber o que fazer, só me ocorreu na hora de citar os versos de Djavan: “Ainda bem que sou Flamengo”.

terça-feira, 3 de maio de 2011

trópico de câncer

ao marcar-me uma linha
como quem demarca
território vasto e improdutivo
feriu-me de modo permanente

pereceu-me cálido
ao meiar meu hemisfério
e santo ao devastar crenças
ao deitar-se efêmero
fez-se diáspora setentrional

ameno, quase ingênuo
meu equador
esfriou e saiu

minhas lembranças
viraram meninas cegas
numa gleba inóspita
fria e decadente.

paramare

batizei telas, cores, vielas
com seu nome
vinhos, sambas, beijos
com seu sobrenome

jamais quis tanto alguém
esta é a canção
única que compus
paramare pelo mundo afora

e as nuvens, pobrezinhas
seguem sufocando
por serem inconstantes
breves bocejos

eu culpo esta cidade
as pedras surdas
e seu excesso de
palma e prego

enfim estou de volta
inteira como fui
como não deixaria
de ser, não nego
dias e noites paramare.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Não dizes,

mas sei.

Eu sei, meu bem,
que gostas,

de escrever poemas de amor
em minhas costas,

para que eu não perceba
mais do que mostras

e acabe por dobrar
as apostas.

Boto by Ruy Villani, no lançamento de Poesia se escreve com Tesão.

domingo, 1 de maio de 2011

hipocrisia nacional manifestada


Sou subsíndico de um prédio da asa norte que realizará reforma. Em reunião com a Comissão de Obras, fomos informados que o empreiteiro contratado pagou à administração do Plano para aprovar o projeto de construção. Reagi dizendo que aquilo era corrupção, não poderíamos aceitar. Uma membra da comissão respondeu que não via problema algum em utilizar nossa maior capacidade econômica para adiantar a posição na lista de avaliação de projetos. Pirei! Aos gritos, mostrei que aquela atitude era a mesma que desaprovamos em políticos e governantes malandros. A senhora tentou se justificar, afirmando que simplesmente contrataram um “despachante”, como se estivéssemos num terreiro de macumba. Em minha completa indignação, ameacei denunciar o fato caso a situação se firmasse. A tal senhora chorou e esperneou, igual à promotora tão noticiada nesta cidade, mas não arreiguei. Morro lascado mas não me maculo. Decidimos por cobrar explicações do empreiteiro.
Mas o pior estava por vir. Ao final da reunião, a síndica me chamou de lado e falou:”lembra, algum tempo atrás, que recolhemos assinaturas para o projeto de lei da Ficha Limpa?” Nossa quadra fez parte da movimentação nacional para aprovar a lei. “Pois foi essa senhora que trouxe da Unb o projeto para recolhermos assinaturas.” Fiquei pasmo. Estava ali a hipocrisia nacional manifestada. Só pude, então, resmungar entredentes: “precisamos limpar a cozinha antes de reclamarmos do vizinho.”

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Giovani mora em Brasília, capital do Brasil, no Plano Piloto, que é Patrimônio da Humanidade e protegido pelo IPHAN, mas tá longe de ser um lugar civilizado.