O BAR DO ESCRITOR está à toda. Veja:
- Em novembro promoveremos a antologia TOMO IV em lançamento nacional, com eventos em todas as cidades do participantes. Já ocorreram dois lançamentos prévios em Brasília - DF;
- Em 2014 será publicada a Graphic Novel Bar do Escritor, em que contos das antologias serão adaptados para os quadrinhos, inspirado em NOITE NA TAVERNA de Álvares de Azevedo;
- O Blog BdE conta com a colaboração de 11 novos colunistas. Por nossas mesas já passaram 35 ex-critores e já publicamos mais de 133 convidados;
- Neste agosto de 2013, mês em que completamos 08 anos de existência, o Blog publicou textos em todos os dias;
- Os Convidados do Blog já estão programados para publicação até julho de 2014 e
- ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA A PRÓXIMA ANTOLOGIA, a Quinta Barnasiana, que será publicada e lançada em 2014. Acesse a Factotum e veja como participar.
Vamos que vamos, barnasianos!
sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Convidado Newton Silva
Escrito por
Bardo
MÃE
Debaixo de um viaduto, no meio de entulhos de construção e sacos de lixo, dividindo com ratos e baratas o tosco casebre feito com caixas velhas de papelão e restos de madeira, abandonado à própria sorte, encontrava-se um homem tremendo de frio e de fome. Estava miseravelmente imundo e doente. Quem o examinasse veria em uma de suas pernas um inchaço que o impedia de levantar, oriundo de algum ferimento mal curado, má circulação ou doença renal crônica, cujo estado inflamatório fora agravado talvez pelas péssimas condições de higiene em que ele se encontrava. Enrolado em jornais, jogado sobre um colchão velho manchado de urina e fezes, febril, delirava, sufocado pelo odor nauseabundo que exalava dele mesmo. Quem passasse por ali, caso tivesse o interesse ou a curiosidade de saber as condições daquele pobre homem, é possível que escutasse suas preces fervorosas, mescladas de arrependimento, vergonha, perdão e palavras desconexas sobre uma imensa riqueza que tivera um dia, há muito tempo, quando era jovem e que perdera tudo quando se entregou ao mundo abominável de prazeres carnais e vícios descomunais.
Em algum lugar muito distante dali, bem distante, uma pobre mãe com o semblante desesperado e aflito e uma dor profunda, atormentada por visões diabólicas, orava fervorosamente suplicando a Deus por seu filho desaparecido há muitos anos e implorando, pedia a Nossa Senhora do Amparo que amparasse seu rebento perdido e que lhe enviasse um anjo para que o guiasse de volta.
O homem debaixo do viaduto sentiu de repente a dor passar e com muito esforço, cambaleante e ainda tonto pela fraqueza da fome, levantou-se disposto a voltar para casa e para sua mãe. Viu a febre passar quando sentiu o suor frio gotejar e lhe banhar completamente as roupas esfarrapadas.
Quem passasse por ali, caso tivesse o interesse ou a curiosidade de saber as condições daquele pobre homem, é bem possível que, no meio de entulhos de construção e sacos de lixo, iria ver um anjo exausto caminhando ao lado dele.
---
Newton Silva
http://calamus-scribae.blogspot.com.br/
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Memórias do BDE
Escrito por
MPadilha
(Emerson Wiskow)
O Bar mudou! Atravessei a
porta e pedi licença ao Barman, pois da
última vez que lá estive andei metida em encrenca das boas! Pois é...Mas a
saudade daquele cheiro de álcool com perfume barato era enorme! As bocas malditas, arroxeadas de batom do Avon, rebolando em
saltos 15. E os caras... De sapato branco e paletó que transpirava malandragem!
No Bar todos eram viciados
em nicotina! Os olhos dos gatos eram tomados por um tom vermelho Jamaica e as
pupilas, putz, as pupilas...Abafa o caso!
Naquela época qualquer coisa era motivo para
fuzuê, ninguém media as palavras: texto ruim era porcaria e nas bocas
embriagadas ficava muito pior! Os bons eram ditos certinhos, sem muito mel.
Claro, como todo ambiente noturno havia grupos, os protegidos, os protetores...
Panela? Talvez, o fato é que naquela época essa palavra era proibida por lá e
se tivesse alguma era muito bem guardada.
Mas hoje quando entrei
senti falta...Das falcatruas de um veio safado, ah, quanta safadeza! Das
brincadeiras de um índio tarado, lembro que roubou a antiga garçonete e foram
morar lá na Amazônia... Dos carinhos de um ursinho velho que eu adorava,
batizei-o de Rui... Eu não dormia sem ele. De um empresário amigo que vivia me
encaixando nas putarias pelo Brasil e me tomava com suas mulatas...E do meu
cafetão, o Barman, que roubava-me em comissões absurdas, eu vivia estropiada e
ele é que ficava com boa parte da grana de meus clientes.
Sabe que minha saudade
era tanta que até senti falta daquele segurança que me expulsou? Acho até que
minha saudade tinha virado doença...
Mas hoje, quando entrei
nesse antro que me deu tantas alegrias e que foi uma de minhas desgraças, percebi
que nada mais restou de nossos mentores, só mesmo as fotografias espalhadas
pelas paredes de reboco descascado.
Hoje percebo que somos
história, uma lembrança apenas...Mas que talvez inspire novos rostos.
Caramba! Dispa-se de suas
roupas e regras e venha se sentir vazio como esse copo que tenho nas mãos! E
grite por um conhaque!
-Qual é Giovani? Viemos
aqui para beber ou conversar?
MP/MM
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Escrito por
Francisco M. M. Arantes (Quito Arantes)
Se o tempo foge…
Não é porque fiquei para trás
Mas porque a Alma não tem tempo
E o Amor eterniza os sentimentos.
(Quito Arantes)
Não é porque fiquei para trás
Mas porque a Alma não tem tempo
E o Amor eterniza os sentimentos.
(Quito Arantes)
VINHO
Escrito por
Samuel Balbinot
Vinho tinto, vinho fino...
Aroma dos parreirais;
Bebida do Deus menino...
Dos deuses, dos imortais;
Vinho que acalenta o ser...
Que alegra a alma descontente...
Que seduz nosso querer
Quando o amor se faz presente;
Vinho que é só tentação...
Bebido em noites de amor;
Fazendo do coração
Um lindo jardim de flor;
Aroma dos parreirais;
Bebida do Deus menino...
Dos deuses, dos imortais;
Vinho que acalenta o ser...
Que alegra a alma descontente...
Que seduz nosso querer
Quando o amor se faz presente;
Vinho que é só tentação...
Bebido em noites de amor;
Fazendo do coração
Um lindo jardim de flor;
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Cidade dos cães (projeto de livro)
Escrito por
Glauber Vieira
Pois, então, colegas, estou chegando nos quarenta anos e sinto falta de um trabalho solo... tenho participação em mais de 20 antologias, inclusive duas do nosso BDE. Entendo que já passou da hora de apresentar um trabalho novo. Comecei a escrever contos aos 18 anos, que no início não passavam de anedotas um pouco mais elaboradas. O tempo passou e os contos se tornaram mais relevantes, com temáticas diversas e ocupantes de mais que meia página... Ultimamente, tenho me debruçado na produção de um livro de contos chamado, por enquanto, “Cidade dos Cães”, título de um dos textos. São histórias independentes, mas que possuem um gancho entre cada uma. Tratam de violência, suicídio, problemas sociais e reflexões psicológicas. Provavelmente conterá pouco mais de 20 contos, mas dois deles ainda não foram escritos (no momento, existe apenas uma pequena resenha deles).
Torçam por mim. Quem sabe em 2014 não vem novidade por aí?
Lançamento do TOMO IV na Bienal do B de poesia em Brasília-DF.
Escrito por
Bardo
De hoje a sexta feira (27 a 30/08) haverá lançamento da antologia Bar do Escritor - TOMO IV - durante a 3ª Bienal do B de poesia e literatura na rua.
Serão cem poetas se apresentando durante os quatro dias de festa, que tem por patrono Nicolas Behr, o mais famoso poeta da cidade (ele editou a 50a rodada de drinks literários do Ezine Bar do Escritor, em homenagem aos 50 anos da capital). O evento também terá mesas de debates sobre a literatura de Brasília e contará com shows musicais.
A quarta antologia do Bar do Escritor, de contos, crônicas e poemas, reúne 45 escritores de todo o país
escrevendo sobre o que apreciam para um bom bate papo num botequim, são textos com a mais pura filosofia barnasiana.
O livro, de 228 pgs e tamanho pocket, será vendido ao preço promocional de R$ 15,00 para comprovar a intenção precípua do BdE em estimular a literatura acessível a todos.
De Brasília, há na obra a participação de 15 autores: Andrea Carvalho, André Giusti, Cinthia Kriemler, Danilo Berardo, Glauber Vieira Ferreira, Larissa Marques, Marcelo Jost, Nicola Maniglia e Sandra Fayad, além dos membros da Academia de Letras de Brasília: José Carlos Gentili, Ena Galvão, Iran de Lima, Arlete Sylvia Mendes, Romildo Teixeira de Azevedo e Giovani Iemini.
Durante a Bienal haverá a apresentação dos autores André Giusti, Sandra Fayad e Giovani Iemini.
- 3ª Bienal do B de Poesia e Literatura naRua, no AÇOUGUE CULTURAL T-BONE, SCLN 312, a partir das 20hs.
Serão cem poetas se apresentando durante os quatro dias de festa, que tem por patrono Nicolas Behr, o mais famoso poeta da cidade (ele editou a 50a rodada de drinks literários do Ezine Bar do Escritor, em homenagem aos 50 anos da capital). O evento também terá mesas de debates sobre a literatura de Brasília e contará com shows musicais.
A quarta antologia do Bar do Escritor, de contos, crônicas e poemas, reúne 45 escritores de todo o país
escrevendo sobre o que apreciam para um bom bate papo num botequim, são textos com a mais pura filosofia barnasiana.
O livro, de 228 pgs e tamanho pocket, será vendido ao preço promocional de R$ 15,00 para comprovar a intenção precípua do BdE em estimular a literatura acessível a todos.
De Brasília, há na obra a participação de 15 autores: Andrea Carvalho, André Giusti, Cinthia Kriemler, Danilo Berardo, Glauber Vieira Ferreira, Larissa Marques, Marcelo Jost, Nicola Maniglia e Sandra Fayad, além dos membros da Academia de Letras de Brasília: José Carlos Gentili, Ena Galvão, Iran de Lima, Arlete Sylvia Mendes, Romildo Teixeira de Azevedo e Giovani Iemini.
Durante a Bienal haverá a apresentação dos autores André Giusti, Sandra Fayad e Giovani Iemini.
- 3ª Bienal do B de Poesia e Literatura naRua, no AÇOUGUE CULTURAL T-BONE, SCLN 312, a partir das 20hs.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Saudades
Escrito por
Marcos Campos
Tremia diante de ti
e já não o faço mais
Preferia não estar aqui
queria voltar atrás
e já não o faço mais
Preferia não estar aqui
queria voltar atrás
Hoje falo fácil
tenho confiança
Com humor ácido
Sem nenhuma esperança
tenho confiança
Com humor ácido
Sem nenhuma esperança
Sinto falta do sabor
das noites mal dormidas
Lembro bem daquela dor
Vinda de carícia não vividas
das noites mal dormidas
Lembro bem daquela dor
Vinda de carícia não vividas
Serás sempre o símbolo
do mel da inocência
Eternamente elo
Do amor em paciência
do mel da inocência
Eternamente elo
Do amor em paciência
Poema publicado originalmente em: www.ilusoesliterarias.blogspot.com
Sedução
Escrito por
Cesar Veneziani
I
Primeiro olhar.
Cedo são envoltos
sentidos soltos
em mágica euforia.
II
Primeiras palavras.
Desce do som a frequência
que em demência
confirma a magia.
III
Primeiro arrepio.
Nasce do são a dor
em frêmito torpor:
paixão, agonia...
IV
Primeiro sonho.
Como se do samba enredo
se afastasse o medo
por pura fantasia.
V
Primeira lágrima.
Se do sal vem o amargor
da irracionalidade do amor
me prostro em apatia.
VI
Primeira esperança.
Sedução em mulher
que quer como quem não quer.
Poesia, poesia...
Primeiro olhar.
Cedo são envoltos
sentidos soltos
em mágica euforia.
II
Primeiras palavras.
Desce do som a frequência
que em demência
confirma a magia.
III
Primeiro arrepio.
Nasce do são a dor
em frêmito torpor:
paixão, agonia...
IV
Primeiro sonho.
Como se do samba enredo
se afastasse o medo
por pura fantasia.
V
Primeira lágrima.
Se do sal vem o amargor
da irracionalidade do amor
me prostro em apatia.
VI
Primeira esperança.
Sedução em mulher
que quer como quem não quer.
Poesia, poesia...
domingo, 25 de agosto de 2013
O velho e a estrada
Escrito por
Rafael Cal
A
chuva batia no vidro diante dos olhos dele.
A
estrada molhada era a mesma. De sempre.
O
velho numa das pontas do caminho.
Meu
destino, na outra.
sábado, 24 de agosto de 2013
Primeira debruçada de braços sobre o balcão do BDE
Escrito por
geraldo trombin
UMA DE PORTUGUÊS
Desde a primeira vez
que viu “Antônio Maria” na televisão, o seu grande sonho era conhecer Portugal:
Açores, Madeira, Lisboa, Porto; as praias de Algarve; as montanhas ao norte do
rio Tejo... Os vinhedos... Ah!!! Os vinhedos e seus deliciosos vinhos! O sabor
de frutas frescas do Adriano Ramos Pinto em um jantar romântico regado a
bacalhau e vozes fadistas como as de Amália Rodrigues, Carlos do Carmo ou
Mariza. Tudo bem! Até mesmo a de Roberto Leal. Por que não?
Só que existe um
“porém”: por medo de avião, ela nunca foi, e jamais irá, a Cumbica nem a
Congonhas, muito menos subirá as escadarias da TAP. Acabou, então, casando-se
com Manuel - o “portuga” da “padoca” em frente à sua casa -, se contentando com
o seu “cacetinho” e algumas lembranças que ele trouxe a tiracolo de lá da sua
terra para cá, quando veio ao Brasil no navio da clandestinidade.
RINHA
Eles nunca se bicaram. Até aquele dia, quando
se viram frente a frente no porão gélido daquela casa abandonada, envoltos por
ânimos exaltados, sentimentos frios e calculistas. Após a botada, a ação! Um
metendo a pua no outro. Foram bicadas e patadas pra tudo o que é lado,
machucando, cortando a papilha com lâmina afiada. Sangrando, cada um tentando
defender o seu território. Ilusório! E a plateia vibrando. Lutando até a morte,
a pancada fatal: nenhum cantou de galo. Os dois foram a nocaute! Blecaute! Fim
da briga. Fim daqueles homens que, de uma hora pra outra, viraram inimigos
mortais. Em frangalhos, dois corpos abandonados, estendidos no chão. Não sobrou
ninguém, muito menos galista para contar história. Ordinários!
EM
PAUTA
Questionado sobre a qualidade de sua
sinfonia, Beethoven ironicamente responde: musiquinha é a Nona!
Obs:
• UMA DE PORTUGUÊS, RINHA
e EM PAUTA, minicontos extraídos do
livro “Só Concursados – diVersos poemas,
crônicas e contos premiados” – 2010.
• RINHA também foi publicado no livro “É duro ser cabra na Etiópia”, antologia
organizada e editada por Maitê Proença.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Protetor
Escrito por
Rodrigo Domit
Ele dá gritos agudos ao meu ouvido. Logo depois, me empurra com toda força; E, em seguida, atira grãos de areia em meus olhos. Tudo para que eu volte para casa.
O vento fica muito nervoso quando, por mais que ele avise, as pessoas insistem em enfrentar as tempestades.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Ordem do dia
Escrito por
Angela Gomes
Mataram a mata e o santuário.
Na conta da energia,
O obituário.
Ninhal de pássaros
Passaram.
Mamíferos de grande porte,
Só o homem
Redimensionando os lugares.
No canteiro das obras
(Já oculto do canto dos pássaros)
Investigo os seus passos,
Antepassados,
No traçado das ferramentas de pedra
Ou, modelados nas cerâmicas quebradas.
Desejo olhá-lo com outros olhos,
Que causem menos estranhamento.
Embora, mesmo os sóis se devorem.
Na conta da energia,
O obituário.
Ninhal de pássaros
Passaram.
Mamíferos de grande porte,
Só o homem
Redimensionando os lugares.
No canteiro das obras
(Já oculto do canto dos pássaros)
Investigo os seus passos,
Antepassados,
No traçado das ferramentas de pedra
Ou, modelados nas cerâmicas quebradas.
Desejo olhá-lo com outros olhos,
Que causem menos estranhamento.
Embora, mesmo os sóis se devorem.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Convidado Gustavo Corrêa Barreto
Escrito por
Bardo
A peleja de Marx com Bakunin:
o manifesto comunista versus a Comuna de
Paris
Num país imaginário, numa época longínqua, um
seleto grupo reuniu-se numa taberna encantadora, para comer, beber e jogar
conversa fora. Um pomposo "banquete", salientou Platão.
A confraria de amigos reunia-se com costumeira
frequência na taberna, mas aquela, em especial, tinha um frescor divino, pois
era a última ceia do ano. Eu estava de passagem pelo local e me deliciava com
os comensais.
Tudo ia muitíssimo bem, até que um velhinho
barbudo, depois de várias Weißbier na cachola, resolveu subir à mesa e
conclamar os demais.
– Proletários de todos os países, uni-vos!
– Aqui não é lugar para propagar ideias
autoritárias, bradou outro velhinho barbudo, com forte sotaque russo.
O que até então era um ambiente de relativa
tranquilidade transformou-se num fecundo palco de debates.
– Quem é você para me questionar, seu burguês de
uma figa!
Bakunin, o russo, não deixou por menos:
– Vocês marxistas alegam que o proletário chegará
ao poder, eu os refuto, pois "sob qualquer ângulo que se esteja situado
para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo
da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada.
Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com
certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou
representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o
mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si
mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a
natureza humana”.
– Cale-se, seu anarquista de meia-tigela!
"Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem",
verberou uma senhora, dona Rosa Luxemburgo.
A taberna, daquele momento em diante, tornou-se uma
épica peleja entre os simpatizantes do alemão, Carlos Marx, e dos adeptos de
Marco Bakunin, o russo.
– "Nenhuma revolução social pode triunfar se
não for precedida de uma revolução nas mentes e corações do povo",
vociferou Pedrão Kropotkin, pendendo para o lado de Bakunin e abandonando a sua
sopa de batatas.
– Meu nobre senhor, isso é um plágio, pois
"assim falava Zaratustra", questionou um senhor até então calado, que
ostentava um bigode bem estranho.
Um cidadão, com o nome de Manuel Kant, que
acompanhava a contenda, interveio:
– Vocês estão divagando, meus caros, isso foge da
mais elementar "razão pura".
– Essa discussão estéril, com uma legião de
sectários, são as causas e "origens do totalitarismo", argüiu a meiga
Hannah Arendt.
Um italiano, de alcunha "Malatesta", que
saboreava uma bela massa, manifestou em bom tom, "anarquia, este sonho de
justiça e de amor entre os homens".
– Anarquia é uma falácia, a mudança só virá através
de uma "revolução permanente", inferiu um ucraniano chamado Leôncio
Trotski.
Sir Huxley, completamente extasiado, vislumbrava
com o litígio um "admirável mundo novo".
Um francês, que entrou por engano na taberna,
desabafou ao dono do comércio, numa fusão de línguas:
– Ces personnes não entendem l'essence humaine,
precisamos de questões existenciais, je parle com propriedade.
Outro francês, que estava ao lado e um pouco
embriagado, ouviu só o final da frase e ficou enfurecido. Bradou retumbante:
– Falaste em propriedade? "A propriedade é um
roubo!”.
O circo estava armado! A algazarra tomou conta e a
taberna social clube materializou-se dialeticamente num picadeiro. Uma “divina
comédia”.
"Em busca do tempo perdido" retirei-me da
taberna, juntamente com os meus amigos, "os Irmãos Karamazov".
"Madame Bovary" me aguardava em casa. Se não chegasse em casa no
horário, iria sentir na pele a "microfísica do poder". Só quem
conhece a bela dama tem noção do seu explosivo temperamento e é capaz de prever
a fúria que emana daquele "Leviatã".
Não presenciei o desenlace, o the end da história.
Só sei que não sobrou pedra sobre pedra e a humanidade nunca mais foi a mesma
depois daquela peleja.
---
Gustavo Corrêa Barreto
http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/
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