quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Convidado Nazareno de Sousa Santos

Teatro Maldito

(Legítima defesa)


Noite calada,

Escura e fria.

Beco fechado,

Rua vazia.

O palco está sempre montado,

E, as personagens fazem, de fato,

Novas cenas do mesmo ato.

No elenco,

Como é constante,

O experiente

E a iniciante.

O silêncio pesa,

Quase não há luz,

Ela soluça,

- essa é a deixa -

Ele introduz.

Ela se esforça,

Tenta gritar.

Com a boca ocupada,

Por mãos e língua,

Somente pode chorar,

Enquanto seu sangue

Escorre e pinga.

Em sua mente,

Pensamentos desordenados

Passam como um furacão.

Ela é só dor,

Ele todo tesão.

No desempenho de seu papel

Ele se acha o melhor do planeta.

Ela já não se acha nada.

Sente, apenas, muita dor

E o horrível gosto de gameta.

Ele estremece e relaxa,

Outra explosão.

Ela percebe, movimenta rápido,

O brilho metálico troca de mão.

O novo quadro surpreende,

Ela não está mais no chão.

Ele, paralisado, quase se arrepende,

Experimenta algo novo,

O medo trocou de coração.

O dedo, tenso,

Pressiona o gatilho.

O coração dispara,

O dele pára.

Ela, nua, corre, chora e grita.

Mas está aliviada

Caído e sem vida,

Ele interpreta, brilhantemente,

O final, definitivo, daquela história,

Que ele próprio estrelou,

Em tantas outras madrugadas.


---


E do Fernando, o meu livro de cabeceira
Basta abri-lo
E meu quarto se enche de “Pessoas”

---

Nazareno de Sousa Santos

4 comentários:

Deveras disse...

O primeiro texto seria a vingança da violentada?

Legal o trocadilho do segundo.

ficanapaz

"Naza" disse...

Sim, Deveras.
em http://deriva-pi.blogspot.com/2009/04/teatro-maldito-ou-legitima-defesa.html você pode ver em uma formatação que facilita a leitura.

Glauber Vieira disse...

Belo texto, atual e muito bem escrito.

Anônimo disse...

Adorei o texto, me fez ler intensamente. Perfeito! Parabéns, *-*