Ali sentado. O
cansaço bate. E nada acontece.
E o cansaço bate mais
forte. Bate no corpo, bate no rosto. Não há distração que faça o relógio
correr. Ou ao menos andar. No momento, ele parece parado. Parado naquele
momento. Todo o resto correndo. E ele parado.
Esperando.
Esparramou-se na
cadeira. Como um sorvete que se derrete na casquinha. Tomou a forma da
cadeira. Inerte. Angústia, cansaço. Uma dor que não sabe ao certo se é no
pescoço, na nuca, nas costas ou nos três.
Esperando.
Pegou mais um café.
Já é o terceiro (é grátis mesmo). Sentou novamente, corrigiu a postura.
Queimou a ponta da língua. Arqueou novamente a coluna, tomando a forma da
cadeira. Subiu o olhar para o relógio. Aproximou o copo da boca e assoprou.
Seguiu assoprando. O café esfriando.
Esperando.
Pensou que podia ter
aproveitado melhor esse tempo. Umas horinhas poderiam fazer alguma diferença.
Talvez pudesse ter adiantado aquele trabalho. Podia ter conversado com alguém
interessante. Chegou à conclusão de que nada o impedia de conversar com alguém
ali mesmo. Era o que pensava. Na prática percebeu que muita coisa o impedia de
ter uma boa conversa. A pressa, o medo, a tendência a não falar nada
interessante, a falta de intimidade, o distanciamento mínimo comum, o
pensamento múltiplo comum, as idéias vagas, as vagas idéias, as idéias
procurando vagas, sem espaço para estacionar em meio aos transtornos que ocupam
as mentes. Desistiu após duas conversas sobre o clima, quatro sobre futebol,
uma sobre violência e outras três sobre religião. Caminhou desoladamente, de
volta para sua cadeira. Não que fosse sua, mas aquela onde ele estava antes, na
qual devia ter sentado muita gente diferente. Tentou fazer um cálculo de
quantas pessoas deviam passar ali por dia, dividir pelo número de cadeiras e
talvez chegar a um número médio de pessoas por dia naquela cadeira. Podia fazer
um livro só sobre aquela cadeira e os tantos personagens incomuns que passam
por ali. Mas desistiu da idéia. Esparramou-se novamente na cadeira. E ficou
ali.
Esperando.
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