quarta-feira, 21 de setembro de 2011

búúú

Como um típico sem autonomia, sou alguém caminhando até a porta da casa da mãe. Sinto-me debilitado. Com minha última depressão, é como se eu tivesse ficado com a cabeça plantada em um balde cheio de merda aguada, não podendo respirar por horas. Giro a maçaneta – pois o costume é de se deixar a porta aberta. Ao vacilo um cheiro de urina se exala de toda a parte. Meu estomago se vira, dando-me a sensação de algo errado. Vou me arrastando levando os jornais petrificados amarelados com urina por todo o espaço. Alcanço o sofá e sento-me. Percebo uma nuvem de poeira e pêlos se erguendo ao meu lado por um feixe de luz que reflete da persiana. Ouço o barulho de um ponteiro a cada segundo. São dez e meia da manhã. Recosto e medito. Um cachorro negro e cego vem até mim. Percebo que ele é cego quando bate com o rosto em minha canela. Ele me parece bastante debilitado. Identifico-me com ele. Ergo a mão para acariciá-lo. Ele se assusta e gira, tenta encontrar alguma coisa, mas só o que ele faz é se bater em tudo. Fica assustado e late. Mi madre grita “cala a boca!” lá do quarto que não enxerguei. Ela ainda está deitada e não quer ser incomodada. Ouço latidos vindos de lá também. São os outros animais ao perceberem movimentação. O cachorro negro começa a chorar. Mi madre grita novamente “Gordo, cala a boca!” Gordo sossega em um canto. Espirro e observo, então, o relógio. Mais latidos, dessa vez, sem motivo e, decido ir ao banheiro. Tentei não arrastar os jornais, observando cada passo, levantando os pés para driblar onde tinha urina. Piso em um excremento canino coberto por uma folha de jornal. Ele é macio. Chego ao banheiro e olho no espelho. O que eu vejo não me alegra. Devidamente levanto a tampa e miro no centro da privada. Motivo de ele ter permanecido durante tanto tempo ali amassado embaixo da cueca, talvez, foi que o jato saiu torto. Acertei o lixo ao lado. Seguro a urina, faço uma massagem e recomeço. Agora sim, consegui. Jogo uma água no rosto e desejo que tudo vá à merda. Volto, prestando o dobro de atenção, a fim de desviar qualquer coisa. Sento-me no sofá. Poeira, caos. Gordo se deitou num canto. Tita ao meu lado, no sofá. Ela tem câncer. A mais velha delas, das três. Metade de seu corpo está despelada, e nódulos gigantes crescem a cada dia na região mamária. Também há uma ferida que virou uma bolha. Não posso fazer nada para ajudá-la. Ao menos tento. Pego um saco de ração que vejo em cima da mesa e a sirvo. Ela agradece, levantando a cabeça e olhando os meus olhos. Volta a recostar-se. O relógio fica mais alto. Ouço o ponteiro cada vez mais alto. Tita ergue a cabeça e pega um grão da ração. Eu a amo, e faço carinho em sua cabeça. As outras duas cachorras não saíram do quarto de mamãe. Ficaram lá. E eu aqui. Ouvindo os ponteiros. Poeira e caos.

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