sábado, 1 de outubro de 2011

Oportunidade



Ele acelerou desembestado para alcançar espaço entre os carros mas logo travou as rodas para não encaixotar o fusca da frente. Puta merda, que susto. O babaca que entrou atrás piscou o farol sorrindo. Seguiu a fila até um cruzamento, um vermelhinho pediu passagem. Ele cedeu.
Era uma loira deslumbrante de óculos escuros. Ela estacionou em seguida e ele a seguiu.
- Oi. – Ele a interpelou à porta.
Ela sorriu confusa.
- Sou o cara que te deu passagem no carro. – A frase lhe soou ridícula.
- Você tá brincando, né? – A incredulidade a fez mais bela.
- Bem, - ao menos o toco, pensou, terá valido a pena. – é que eu tava no meu carro, meio de saco cheio quando me decidi a esquecer aquela bobagem e partir para uma nova vida. Um novo destino, sabe. Então, pensei, vou me apresentar à primeira mulher que passar pela minha frente. – Ele a contemplou, linda, um decote acolhedor, ancas firmes, pernas torneadas. Sim, o fora terá seu valor. – Daí seu carro apareceu, eu dei passagem e era uma gata. Tô aqui.
Ela o analisou antes de responder:
- Eu estava puta, imaginando como deixei as coisas me levarem a este ponto, agora que estava sem saída, decidi simplesmente esquecer. E falei para mim mesma: vou dar para o primeiro cara que aparecer. – Ela tocou o antebraço do rapaz. Massageou os ombros largos, viu as pernas fortes. – De repente, um tipão como você me aparece com essa história doida.
Ele fez o olhar matador. Ela virou o rosto.
- Se for esperto, já notou nossas alianças. – Ele só então viu o dedo da mulher. – Sabe que não pode dizer: na sua casa ou na minha.
A sinceridade dela o surpreendeu, mas se recompôs:
- Eu estava pensando no hotel mais perto.
Ela aproximou o corpo a ponto de roçar os seios.
- Não seria melhor um motel? – A voz sedutora ronronava. Ele quase foi agarrado pelas nádegas.
- Eu contava com o café da manhã. – Alargou a perna esquerda para ajeitar os documentos. – Uma noite é pouco.
Só voltaram a se falar entre a segunda e a terceira rodadas. São casados até hoje, mas não querem filhos. Estragam as oportunidades.





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