quarta-feira, 13 de junho de 2012

A fantasia


Ela não tolerava o abandono. E havia sido abandonada.

ELA: Boa tarde.

Saiu de casa e atravessou a cidade determinada.
Entrou na loja de costura ainda mais.

ATENDENTE: Em que posso ajudar?
ELA: Queria deixar pra fazer uns ajustes.

Entregou a atendente uma fantasia. Junto, um papel com as medidas para os ajustes.

ELA: Tá aqui.

A atendente observou, um pouco em choque. Era uma roupa de mulher maravilha num cabide. Olhou para o papel e viu os ajustes pedidos.

ELA: Muito cuidado que o tecido é delicado. E o meu chefe não quer de jeito nenhum que estrague. É um presente.

Não havia chefe algum. Havia ele.
Que havia partido há muito. Não queria mais nada.
Ela não era capaz de entender. Todos os sonhos destruídos. Não haveria casa com quintal, cachorro e crianças brincando na rua.

ELA: Tem que apertar a cintura. Dá pra fazer?
ATENDENTE: Dá... dá pra fazer...

A atendente gaguejou um pouco.
Ela sorriu.

ELA: Ótimo. Aqui tem um endereço de entrega.

Ela nunca havia digerido a separação.
Ele apenas fora embora. Relacionamentos acabam, as coisas sempre tem um fim. Era o que dizia.
Mas pra ela não. Era necessária uma vingança. Era passional.

ELA: E um cartão.

Ela abriu o cartão e pegou o celular. Fingiu ligar para alguém, mas não fez.

ELA: Oi, tudo bem?... Coloco o que no cartão?... Aham...

Enquanto fingia falar ao telefone, começou a escrever. A atendente pôde ler o escrito.
Para aquele que é a minha verdadeira mulher maravilha, a única pessoa capaz de fazer o avião invisível subir. Beijos, do seu.
Não sabia exatamente como agir. Tentou disfarçar. Fingiu que não estava prestando atenção.
Ela desligou o celular e entregou o cartão a atendente.

ELA: O endereço tá certo. Meu chefe disse que talvez ele resista um pouco a receber. Sabe como é, né? Mas insistam. É um presente muito importante. Eles brigaram. É uma tentativa de fazer as pazes.

E foi embora.
Sorria. Estava satisfeita. Era sua vingança.
Mas durou pouco.
Morreu uma semana depois. Atropelada.
Dizem que o carro era dirigido pela mulher maravilha.


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