- sabe por que te parei? – o
guardinha da PM conferia meus documentos.
“Denúncia de que vim a esta
favela para comprar maconha?”, mas deixei o pensamento só na cabeça e a sacudi
num muxoxo de dúvida.
- o senhor não está usando o cinto.
“Ufs”. E respondi numa
indefectível rima urbana: - sinto por isso.
- o senhor sabe que o uso do
cinto é obrigatório, a falta de uso é passível de multa...
Fui concordando, enquanto
pensava que essa lei servia apenas para o Estado exacerbar seus deveres e
transferir ao cidadão o direito de escolher como se proteger em seu próprio
carro ou na sociedade, igual o uso obrigatório de capacete para pilotos de
motos e bicicletas e a proibição da posse de armas.
- mas desta vez vou te deixar
ir embora. – Falou, magnânimo.
“Ah, a providencial preguiça
das autoridades públicas que regula o sistema”. Assenti num ok, dei ré e
engatei a primeira.
- coloque o cinto, cidadão.
- ué, você não disse que me
deixaria ir embora?
- sim, mas de cinto.
Fingi que prendia o cinto e
acelerei. Soltei meu corpo tão logo rodei alguns metros. “Sinto mais uma vez,
seu guarda, mas sigo regras somente quando são úteis”. Peguei o baseado no
cinzeiro, traguei e joguei a bituca pela janela, entristecido, eu não gosto de
jogar lixo na rua, mas não podia manter o flagrante no automóvel. “Tchau, seu
guarda”.
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publicado originalmente no blog Bastardos do Velho Safado.
Um comentário:
caramba.
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