quinta-feira, 28 de março de 2013

"O Homem e a serra"


“O homem e a serra”

A barreira de homem da cidade do litoral e o homem castrejo precisa de ser vencida nem que seja à custa de algumas noites de aguardente, coisa que nunca estive habituado, mas talvez seja uma das saídas. Penso que o problema está comigo, eu é que terei de me libertar de preconceitos citadinos.

Serei eu um bicho-do-mato? – Que mania eu tenho de me denegrir! Arr! Valha me DEUS!

Não pretendo que as pessoas da cidade, conhecendo-me há cinquenta anos, pensem que fugi delas. Optei por mudar de vida, e de ares para respirar. Estava a precisar da serenidade da serra, fugir ao tráfico automóvel e constante mau-olhado que me vigiava no dia-a-dia.

No mês de Agosto a aldeia veste-se de cor com a vinda dos filhos emigrados em França. São as motos quatro, todo terreno, enfim, a civilização chega à aldeia. Muitos dos filhos dos filhos emigrados, crianças até aos dez anos já pouco português falam. São franceses de origem portuguesa que os pais fazem questão de os trazer às suas origens. Não são rebeldes, tem no sangue a alma de Portelinha, das suas gentes bondosas.

Terei que ter um pouco de paciência com este movimento inesperado. Na última semana de Agosto já terão partido para o país que os acolheu e lhes deu trabalho porque Portugal não lhes soube dar.

Tenho andado surpreendido comigo, os meus medos existências têm desvanecido de dia para dia. Preocupo-me pouco o que poderão falar de mim aqui em Castro, não tenho provocado qualquer tipo de celeuma entre esta gente, tento integrar-me o melhor possível. As pessoas já então a habituar-se à minha presença diária. Gosto de descer até à vila e pelo caminho observar os vários e bonitos cães Laboreiros que deambulam pela estrada, em atos pacíficos, de meros observadores de movimentos. Tem um porte de respeito, mas muitos dóceis.

 

Excertos do Livro: “ Diário do Medo na Existência “, escrito no lugar da Portelinha, Castro Laboreiro

 

Quito Arantes/Portugal

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