“O
homem e a serra”
A barreira de homem da cidade
do litoral e o homem castrejo precisa de ser vencida nem que seja à custa de
algumas noites de aguardente, coisa que nunca estive habituado, mas talvez seja
uma das saídas. Penso que o problema está comigo, eu é que terei de me libertar
de preconceitos citadinos.
Serei eu um bicho-do-mato? –
Que mania eu tenho de me denegrir! Arr! Valha me DEUS!
Não pretendo que as pessoas da
cidade, conhecendo-me há cinquenta anos, pensem que fugi delas. Optei por mudar
de vida, e de ares para respirar. Estava a precisar da serenidade da serra,
fugir ao tráfico automóvel e constante mau-olhado que me vigiava no dia-a-dia.
No mês de Agosto a aldeia
veste-se de cor com a vinda dos filhos emigrados em França. São as motos
quatro, todo terreno, enfim, a civilização chega à aldeia. Muitos dos filhos
dos filhos emigrados, crianças até aos dez anos já pouco português falam. São
franceses de origem portuguesa que os pais fazem questão de os trazer às suas
origens. Não são rebeldes, tem no sangue a alma de Portelinha, das suas gentes
bondosas.
Terei que ter um pouco de
paciência com este movimento inesperado. Na última semana de Agosto já terão
partido para o país que os acolheu e lhes deu trabalho porque Portugal não lhes
soube dar.
Tenho andado surpreendido
comigo, os meus medos existências têm desvanecido de dia para dia. Preocupo-me
pouco o que poderão falar de mim aqui em Castro, não tenho provocado qualquer
tipo de celeuma entre esta gente, tento integrar-me o melhor possível. As
pessoas já então a habituar-se à minha presença diária. Gosto de descer até à
vila e pelo caminho observar os vários e bonitos cães Laboreiros que deambulam
pela estrada, em atos pacíficos, de meros observadores de movimentos. Tem um
porte de respeito, mas muitos dóceis.
Excertos do Livro: “ Diário
do Medo na Existência “, escrito no lugar da Portelinha, Castro
Laboreiro
Quito Arantes/Portugal
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