quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Memórias do BDE

(Emerson Wiskow)


O Bar mudou! Atravessei a porta e pedi licença ao Barman, pois  da última vez que lá estive andei metida em encrenca das boas! Pois é...Mas a saudade daquele cheiro de álcool com perfume barato  era enorme! As bocas malditas,  arroxeadas de batom do Avon, rebolando em saltos 15. E os caras... De sapato branco e paletó que transpirava malandragem!
No Bar todos eram viciados em nicotina! Os olhos dos gatos eram tomados por um tom vermelho Jamaica e as pupilas, putz, as pupilas...Abafa o caso!
 Naquela época qualquer coisa era motivo para fuzuê, ninguém media as palavras: texto ruim era porcaria e nas bocas embriagadas ficava muito pior! Os bons eram ditos certinhos, sem muito mel. Claro, como todo ambiente noturno havia grupos, os protegidos, os protetores... Panela? Talvez, o fato é que naquela época essa palavra era proibida por lá e se tivesse alguma era muito bem guardada.
Mas hoje quando entrei senti falta...Das falcatruas de um veio safado, ah, quanta safadeza! Das brincadeiras de um índio tarado, lembro que roubou a antiga garçonete e foram morar lá na Amazônia... Dos carinhos de um ursinho velho que eu adorava, batizei-o de Rui... Eu não dormia sem ele. De um empresário amigo que vivia me encaixando nas putarias pelo Brasil e me tomava com suas mulatas...E do meu cafetão, o Barman, que roubava-me em comissões absurdas, eu vivia estropiada e ele é que ficava com boa parte da grana de meus clientes.
Sabe que minha saudade era tanta que até senti falta daquele segurança que me expulsou? Acho até que minha saudade tinha virado doença...
Mas hoje, quando entrei nesse antro que me deu tantas alegrias e que foi uma de minhas desgraças, percebi que nada mais restou de nossos mentores, só mesmo as fotografias espalhadas pelas paredes de reboco descascado.
Hoje percebo que somos história, uma lembrança apenas...Mas que talvez inspire novos rostos.
Caramba! Dispa-se de suas roupas e regras e venha se sentir vazio como esse copo que tenho nas mãos! E grite por um conhaque!
-Qual é Giovani? Viemos aqui para beber ou conversar?


MP/MM

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