Estava
escuro já, por volta de 5:45 da tarde. Perto do natal. Hemisfério norte. Pacata
cidade dormitório de Okotoks, -12 graus. Para os cidadãos locais, tempo bom,
pouca neve, pouco vento. Rose voltava para casa. Ela vinha devagar, acidentes são,
de certa forma, frequente nessa época do ano. Ela sonhava sozinha, por dentro.
Ouvia música e pensava em um dia encontrar seu grande amor. As pessoas buscam
tantas coisas, perdem tempo com tolices e dentro delas, os sonhos vão virando
apenas pensamento e nunca ação. Se arrependia de certas escolhas, tentava se
enganar com tudo de material que tinha. Sabia que não poderia voltar atrás,
teria que fazer novas escolhas dali pra frente.
Estranhamente,
ao aguardar em um sinal, um homem acena para ela de fora do carro, pedindo para
que ela baixasse o vidro. Ela estranha, mas julga o homem de forma positiva e
baixa o vidro. Ele pergunta a ela se pode levá-lo até em casa e mostra o que
seu carro está parado mais à frente. Ele diz que o carro quebrou e precisa de
uma carona. Ela sente algo diferente por dentro, está atraída pelo homem.
Rapidamente ela precisa decidir, tudo acontece muito rápido na cabeça dela, ela
pensa no risco, ela pensa no fato de já estar parada de vidro aberto olhando
para ele.
Ela decide
levá-lo em casa e correr o risco. Ela diz sim e ele rapidamente contorna para o outro lado e entra no carro. Os dois se
olham e ela sente como se algo mais estivesse acontecendo, mas se contém um
pouco e tenta disfarçar. Ela pergunta onde é a casa dele e ele dá o endereço.
Ela inicia o trajeto até a casa dele.
Eles
iniciam um papo normal: Onde você trabalha? Mora aqui faz tempo? E em poucos
minutos chegam na casa dele. Antes de descer do carro ele olha para ela e diz:
Seria demais eu te convidar para entrar, sei que só de dar essa carona para um
estranho a essa hora, você já deve estar preocupada, mas gostaria de conhecê-la
melhor e convidá-la para jantar em algum lugar que você goste. Ela ficou sem
palavras, mas resolveu ceder e disse: Sim, gosto de correr riscos, seria ótimo.
Trocaram telefones e ele desceu, entrou em casa e ela foi embora.
Menos de 10
minutos depois, logo que Rose chegou em casa, o telefone dela tocou e era o número
daquele homem, que agora ela sabia se chamar Logan. Logan parecia apressado e
disse sem rodeios: Hoje seria uma ótima noite para jantar com você, não quero
perder tempo. Rose ficou sem palavras por uns segundos. Quis aceitar e disse
que talvez fosse melhor ela saber mais sobre ele primeiro. Ele não desistiu e
disse em seguida: Pra que esperar mais? Você é linda e não consigo parar de
pensar em você. Anote meu nome todo, pesquise sobre mim na internet e me ligue.
O nome completo era Logan Bennett. Rose ficou sem ar. Aquilo tudo era muito
louco, muito rápido e muito cheio de perigos. O mundo não aceita mais esse tipo
de encontro, estamos cercados de incertezas, pessoas com más intenções. Ela
demorou um pouco e ele perguntou de novo: E então, você tem acesso a internet,
certo?
Ela disse:
Sim, tenho. Vou verificar e te ligo. Ele agradeceu e desligou. Ela sorriu.
Lembrou do que ele disse: “Você é linda e não consigo parar de pensar em você.”
Não era fácil aceitar que algo assim tão bom pudesse ser verdade e estar
acontecendo. Era preciso conferir, aguardar, não vivemos mais assim. O receio,
o medo, os riscos tinham que ser analisados primeiro. Rose queria que fosse
mais simples. Ela temeu se arrepender e foi para o computador. Em 10 minutos,
lá estava Logan Bennett na sua tela, pelo Facebook, pelo Twitter, e ainda mais
incrível, na página da empresa dele. Uma start-up recém-comprada por uma
empresa gigante dos Estados Unidos, na área de segurança em telecomunicações.
Ela resistia em acreditar que era um golpe. Passou mais tempo vendo as informações
dele na tela e encontrou algo que a deixou arrepiada. Em um de seus posts
recentes, lá estava escrito: “Ah, se eu pudesse encontrar uma rosa, pelo menos
uma rosa, nesse imenso jardim do mundo…”. Era tudo muito louco, Rose colocou as
mãos no rosto, esfregou os olhos e continuou olhando tudo que tinha sobre ele.
Nenhuma referência a ex-namoradas, filhos, quase nada de família, apenas uma irmã
que parecia morar em outra cidade.
Rose
suspirou, pegou o telefone e marcou o encontro. Seria em um restaurante
conhecido e movimentado, ela achava que estaria mais segura. Logan ficou
visivelmente animado e disse antes de desligar: Cada segundo que desperdiçamos é
vida que deixamos de viver. E acrescentou: Gostaria de ter te encontrado antes,
muito antes.
Rose resolveu
relaxar, começou a acreditar que coisas boas também acontecem de repente. Se
arrumou e foi de novo para a casa dele. Ele disse para ela que deixaria o carro
quebrado naquele local mesmo e que cuidaria disso no dia seguinte. Foram então
conversando para um restaurante italiano famoso e com muita gente. Era
sexta-feira.
Ela achou
estranho que ele ainda estava com a mesma roupa e aparentemente não tinha se
arrumado, mas ela o achava charmoso e bonito, mesmo com uma roupa já amassada e
não muito alinhada, típica de fim de dia de trabalho. Conversaram por duas
horas e ele disse não querer comer nem beber nada, disse que preferia apenas
falar e olhar para ela. Não era algo comum, mas ela estava começando a se sentir
muito bem tratada, como sempre sonhava ser. Aquilo a deixava cada vez mais
interessada nele. Ela achava que sentia amor de verdade, mas sua mente tentava bloquear
aquilo porque era cedo demais.
O
restaurante já dava algumas pistas de que ia fechar e ele então tocou nas mãos
de Rose, nas duas de uma vez. Rose gostou, apesar de serem mãos geladas. Ela
sorriu e ele disse para ela: Devemos amar enquanto ainda há calor em nossos
corações. Era estranho, mas era bom. Ela se sentia feliz, ela imaginava que
poderia ser algo mais na vida dela realmente.
Voltaram
para o carro e antes de entrar, ele a abraçou e a beijou bem devagar, cada pedaço
do lábio dela era tocado aos poucos pelo lábio dele, suas mãos geladas
acariciaram sua nuca e desceram até a base de suas costas. Ela estava quente,
mas ele era todo frio. Rose não se conteve e perguntou: Vamos esquentar seu
corpo melhor em casa?
Logan
sorriu e disse: Parece uma pergunta de sonho. Entraram no carro e foram para a casa
de Rose.
Chegaram lá
e foram para a sala ouvir música enquanto tomavam um licor e apreciavam a neve
caindo pela janela ao lado da lareira. Logan comecou a contar para Rose mais
sobre sua vida, sobre quantas pessoas ele havia deixado de lado para poder
trabalhar mais e ter sucesso. O sucesso definido pelo mundo atual. Rose se
sentia mais confortável e falou sobre ela também, falou que estava pensando em
encontrar alguém quando ele bateu no vidro e que ainda não conseguia entender
muito tudo aquilo que estava acontecendo, como se ela tivesse caido no sono e
continuado um sonho e que fosse acordar a qualquer hora. Logan aproveitou e
disse para ela: A vida é o sonho, mas às vezes, não vivemos ele. Eu ouvi o que você
dizia pelo lado de fora do vidro. Rose ficou arrepiada e achou que fosse mais
um “charme” dele para conquistá-la.
Logan
sorriu de novo. Rose achava que de certa forma, ele sorria mais com a boca do
que com os olhos. Os olhos dele eram bonitos, mas muito escuros e muito sem
brilho. O brilho dele vinha mais das palavras. Ele a beijou de novo e começaram
a tirar a roupa. Rose não queria mais resistir, ela queria aproveitar aquele
momento. Sexo com amor é algo que ela adorava e não tinha a muito tempo. Ela não
se questionava mais o fato de estar sentindo amor tão rápido. Logan disse: Perdemos tempo demais tentando definir o
amor. Ela achava que ele lia sua mente.
Os dois
corpos eram um só. Êxtase, prazer, ternura, tesão. Por 30 minutos, tudo era
extra-terrestre, incontrolável, sensorial, irracional, instintivo. Então, dois
corpos apareciam sós de novo. Logan fechou os olhos. Mesmo assim disse para
Rose: Certos momentos duram 1, 5, 10 minutos, mas na verdade, duram para
sempre. Rose fechou os olhos. Ouvia a madeira da lareira estalar com o fogo.
Rose se sentia amada. Não acreditava ainda, procurava a razão, que estava longe
dela nessa hora. Continuou de olhos fechados e acabou dormindo.
Quase oito
da manhã e Rose abriu os olhos. Ela estava calma, se lembrava de tudo. Não viu
Logan. Acreditou então que estava sonhando, mas estava nua por baixo da coberta
e nunca dormia sem roupa. A lareira ainda acessa. Dois copos de licor na mesa,
mas um ainda com licor. Lembrou que Logan não comeu e não bebeu no restaurante.
De longe viu um papel pendurado na porta com um durex. Começava a crer de novo
que não tinha sonhado. Onde estaria Logan? Teria ido embora a pé? Ficou um
pouco preocupada, teria sido roubada? Enganada?
Foi até a
porta e pegou o papel. Era um bilhete de Logan. E lá estava escrito. “Obrigado
pelo seu amor ontem. Nunca sabemos o que virá amanhã. Viva hoje!”
Ela sorriu,
ficou feliz. Sentiu o amor de novo. Achou romântico. Foi tomar banho e pensou
em ligar para ele depois.
Ela tomou
banho com calma e ao se enxugar ligou a televisão. Jornal local. Não mais de 5
minutos e a foto de Logan aparece na tela da TV. Ela olha despreocupada, mas o
texto abaixo da foto faz com que ela quase perca o folego. Dizia que Logan
Bennett, empresário local, tinha falecido na noite anterior.
Aquilo era
inacreditável, Rose não conseguia acreditar no que estava vendo e ouvindo.
Resolveu se vestir rápido e dirigir até a casa de Logan.
Chegou lá e
tudo parecia calmo e exatamente como na noite anterior. Bateu na porta várias
vezes, chamou por alguém e nada. Até que um vizinho resolveu ir falar com ela.
O vizinho disse que a irmã de Logan havia passado por lá bem cedo e que tinha
deixado um endereço de onde o corpo seria velado. Rose não conseguia acreditar.
Disse que ia embora e antes de se virar, o vizinho fez uma pergunta que ela
achou muito estranho. Ele perguntou: Foi você a pessoa que esteve aqui ontem de
noite depois que a família saiu com ele para o hospital?
Rose estava
confusa, queria chorar, parar tudo, mas precisava ir atrás das respostas para
algo tão inpensável. Tinha medo, mas precisava ir até o endereço do velório.
Depois de
20 minutos dirigindo, chegou a uma casa afastada da cidade, na área rural. Uns
20 ou 30 carros estacionados por perto. Queria acreditar que aquilo não estava
acontecendo. Não conseguia entender se a noite passada havia sido sonho ou
outra pessoa. Era tudo tão forte e ela não conseguia acreditar que tinha sido
um sonho.
Entrou na
casa e uma mulher veio falar com ela. A mulher se apresentou como irmã de Logan
e perguntou quem ela era. Ela disse apenas que era Rose, parecia confusa. A irmã
de Logan perguntou se Rose precisava de ajuda e levou-a para sentar-se em um
sofá. Poucas pessoas conversavam por perto. Rose foi perto do caixão e viu
Logan, era ele com certeza. Não era um sonho. Rose chorou ali parada. Era a única
pessoa que chorava na casa. Rose não sabia quem eram aquelas pessoas todas.
Rose caminhou
até a irmã de Logan e disse que precisava conversar com ela em particular.
Foram para uma sala no andar de cima e Rose disse que tinha conhecido Logan no
dia anterior e que tinham jantado juntos. A irmã de Logan fez uma cara
esquisita e perguntou para Rose se ela era alguma golpista. Rose não entendeu e
disse que não. A irmã de Logan disse para Rose parar de brincadeira e que respeitasse
aquele momento de dor. Rose então pediu desculpas e perguntou para a irmã de
Logan como ele havia falecido, que era a única coisa que ela queria saber antes
de ir embora. A irmã de Logan respirou fundo, pediu desculpas e disse que
estava nervosa e contou para Rose como ele havia falecido: Ontem ao voltar
dirigindo para casa, Logan me ligou depois de encostar no acostamento e disse
que sua cabeça estava doendo demais e que estava preocupado com os coágulos.
Logan tinha três coágulos que poderiam estourar e tirar sua vida a qualquer
momento. A irmã disse então que iria buscá-lo e saiu de casa, mas quando
cheguei lá, ele estava desacordado dentro do carro. Chamei uma ambulância e
fomos com ele para casa, mas antes que pudéssemos ir para o hospital, ele não
respirava mais.
Rose estava
perplexa e disse para a irmã de Logan que precisava fazer mais uma pergunta,
mesmo tendo dito que aquela seria a última. Rose perguntou que horas Logan
havia ligado para a irmã dele. A irmã de Logan pegou o celular, abriu a tela de
ligações recentes e mostrou para Rose o horário da última ligacao do irmão. Lá
dizia 4:45 da tarde de ontem.
Rose
levantou-se, correu para o andar de baixo, correu para o carro e dirigiu direto
para a casa dela. Uma mistura de medo e tristeza. Ela não conseguia acreditar
naquilo, ela sabia que não tinha sido um sonho.
Seis
semanas depois, a vida parecia continuar. Rose pensava naquilo tudo, mas ia
levando. Até que seu maior espanto estava por vir. Havia feito um recente teste
periódico de saúde pela empresa onde trabalhava e o envelope dos resultados já
estava com seu médico. O telefone tocou e era a secretária do médico para
marcar a revisão dos resultados. Rose anotou a data e horário da consulta
futura, mas antes que a secretária desligasse, ouviu uma frase alucinante: Ah,
e parabéns pela gravidez! Temos um presentinho para você quando vier para a
consulta!
3 comentários:
Massa! Gostei bastante.. eu estava esperando se no meio a estória iria virar sexo total, terror ou comédia.. ficou no drama mesmo.. muito bom!
Se quiser fins alternativos para essa estória com viés de Terror ou Comédia, é só falar que passo o texto....ehehehe.
Cara, sinistra essa historia!
Parabens ;)
Eh veridica ou nao? Nao vou mais pra Okotoks nao!!!
Dalton
Marcelo, quero fins alternativos sim. Em formato de comedia seria otimo! :)
Dalton, a historia eh ficcao, mas a ideia veio de uma historia muito louca que um coveiro do cemiterio de Brasilia contou em um programa de tv.
Valeu! :)
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