segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Salgado


Fazia sol.
Tão forte, que ele mantinha os olhos ligeiramente fechados. Estava sentado em um banco no calçadão, em frente à praia, olhos fixos no mar.
Tranquilo.
Olhos no movimento das ondas. Ligeiramente fechados.
Pensou em Fernando Pessoa. Não porque fizesse sentido, mas porque achou que combinava. Quis declamar um poema dele. Mas não havia clima para. Também não conhecia nenhum de cor, o que impediria qualquer gesto.
Desviou, então, o olhar do mar, observando o que havia em volta.
Nada interessante.
Voltou e ficou pensando no tranquilo movimento ligeiramente fechado das ondas. E naquele eterno ir e vir.
Horas antes, ouvira muito sobre o ciclo da vida. Ir e vir. Começo e fim. Tranquilo. Que as coisas acabam. Que foi melhor. Que a única certeza da vida é.
Era clichê, mas, ao final de todo aquele discurso previamente idealizado, pôde sentir, de fato, o peso. Com a mão esquerda numa das alças.
Não tinha chovido. O sol forte. Desde cedo. Os olhares parados. Desde cedo. Não choveria. Não do lado de fora.
Olhou em volta de novo. Mas não encontrou ninguém. E pensou que peso não é só o resultado da ação da gravidade sobre os corpos. E pensou que pesava. E que talvez um gerúndio se adequasse melhor aquela sensação. E resolveu parar de pensar um pouco.
E respirar.
Mas não conseguiu. Angustiou-se um pouco. Havia um peso. Passou a mão no rosto e olhou pro mar. Procurando uma resposta. Tantas perguntas. Mas só uma, justo a sem resposta, era a única que interessava.
Durou alguns minutos. Talvez horas. Não saberia precisar.
Não houve resposta. Nem haveria.
Foi quando sentiu os olhos arderem um pouco e o gosto salgado da lágrima na boca. E, mesmo sem a resposta, pôde respirar.

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