terça-feira, 3 de junho de 2014

CAUSOS DE ASSOMBRAÇÃO


– Gente, juro. Tô vendo uma luz vindo pra cá.
– Onde, Deca?
– Ali, olha. Vermelha.
– Putz, tá vindo mesmo.
– Corre então, vamos embora daqui.
Eu, Márcia e Mauro, em frente ao clube das piscinas de Arroio Grande. Já era noite escura quando, sem nada para fazer, cansamos de passear pela praça e fomos de carro até os portões do tal clube.
Chegando lá, descemos do carro e ficamos de papo furado.   
Morro de medo de fantasma. Mesmo. Me borro toda. E como em toda cidade do interior existe uma boa lenda de casas fantasmagóricas e aparições misteriosas, eu, claro, não podia deixar de contar um desses sustos para os dois coitados que me acompanhavam.
Comecei de brincadeira a contar historinhas para meter medo em todo mundo. Uma delas quem me contou foi meu pai. Diz ele que quando era criança, em Rio Grande, também lá no Rio Grande do Sul, certa noite foi para o cinema.
Combinou de encontrar com a mãe dele logo que acabasse o filme. Minha avó foi ao Clube dos Ferroviários (como tem clube em cidade do interior, meu Deus!) e ficou à espera do filho logo após o baile.
Meu pai chegou apressado, esbaforido, no clube onde minha avó ainda se recuperava da dança do baile.
– O que foi meu filho? – Perguntou ela, preocupada.
Foi aí que ele contou: para chegar ao clube, passou em frente ao cemitério. Quem conhece Rio Grande sabe que o cemitério é enorme, cheio de mausoléus, estátuas e sombras. Ao lado do cemitério passava uma linha de trem.
Para não ficar mais apavorado do que já estava pelo simples fato de passar perto do cemitério, meu pai foi andando pelo trilho dos trens. Era um caminho seguro, segundo a lógica dele. Se precisasse sair correndo de alguma alma penada, estava preparado e o trilho era melhor que a rua de areia.
Foi quando, cheio de medo do escuro, ouviu uns passos atrás dele. Olhou para trás e não viu nada. Aumentou o passo e o barulho aumentou também.
Em pânico, meu pai saiu correndo e os passos atrás dele acompanharam a corrida. Foi então que ele chegou ao clube e encontrou a mãe. Os passos pararam junto com ele.
Quase sem fôlego, contou o ocorrido e, assim que terminou a história, ela caiu na gargalhada.
– Meu filho, olha o seu sapato. O que é isso?
Era um galho seco que se prendera no cadarço do pé esquerdo e toda vez que meu pai dava um passo, o galho arrastava no trilho e fazia um barulhão.
Para disfarçar, ele riu e tentou esconder a vergonha que estava sentindo.
O tal clube, na época em que eu morava em Arroio Grande, na minha visão infantil, era composto de uma piscina descomunalmente gigantesca, outra média e uma que eu odiava que era para as crianças, e que tinha um cheiro de xixi insuportável. Havia uma floresta encantada em volta e era bem isolado.
A lanchonete de lá fazia a melhor torrada, ou misto quente, que se tem notícia na região sul.  Além de vender coca-cola, aquela da garrafinha de vidro.
Era uma festa ir para lá. Lembro de uma cena marcante em que meus pais ficaram na água até a noite chegar, e tinha umas luzes internas na piscina. Ficou tudo muito brilhante. Meu pai deixou eu e meu irmão entrarmos na área dos adultos. Me senti gente grande. E quase morri afogada porque não sabia nadar direito. Mas foi memorável. Felicidade é um pouco isso, né? Pequenos momentos que produzem boas lembranças.
Enfim, naquela noite do susto estávamos ouvindo minhas histórias de fantasmas, quando eu jurei que vi uma luz em cima da piscina grande e que vinha em nossa direção.
Naquele momento senti meu corpo todo arrepiando. As luzes da cidade não eram suficientes para deixar o lugar iluminado. Contávamos apenas com os faróis do carro. Estávamos em pé entre o automóvel e os portões. A tal luz era vermelha e vinha devagar em nossa direção.
Pelo poder da sugestão, ou sei lá o quê, os dois também viram aquilo.
Imediatamente demos meia volta e corremos para o carro. Eu fiquei tão nervosa que entrei de qualquer jeito, quase torci o tornozelo. O Mauro saiu dirigindo, levantando poeira, já que a estrada que dava acesso ao clube ainda era de chão batido.
Mal entrou na garagem e saímos batendo as portas. Eles moravam no segundo andar do prédio e eu estava hospedada na casa deles. Juro que nunca subi uma escadaria tão rapidamente.
Até hoje não sei o que aconteceu. Só sei que nunca mais fiquei em frente a portões, seja de clube, cemitério ou qualquer outro que apareça. Eu, hein? Vai que…
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