quinta-feira, 10 de julho de 2014

Convidado Fábio Portela

Três Textos



“Parece que a vida depende mais da dor do que do próprio prazer, por que então haveria de a natureza dar tantos pontos sensíveis à dor e de grandeza sem igual em cada um deles? Quem dera o desatino da dor fosse equivalente ao do prazer eu teria uma felicidade surreal, sairia por ai à qualquer lugar a cantar, a gritar, a recitar poesias. Me ao corpo e m’alma veria uma sensação latentemente duradoura, eu correria aos brados lacrimejando; risos formariam orquestras, prantos escorreriam rios, a paz em mim seria infinita e eu não seria mais normal, sim, seria louco, louco porque não há motivos para ser feliz até que encontre razões que se faça entender os motivos de tanta euforia, afinal, só não é louco aquele que derrama prantos porque em um mundo acostumado a tristeza só se entende aquele que sentir dor.”

“Quem nunca sentiu o gosto de uma lágrima jamais poderá saber que todas já derramadas formaram os nossos mares, não sabemos que ventos as trazem ou que as levam embora, sabemos que com elas não se sacia a cede nem se destrói a alma, difícil é entender por que em um mundo com tanta fartura ainda há oceano de dores.”

"Todo aquele que não se comove com o pranto que jorram dos olhos de uma criança nem coisa considerada pode ser, até mesmo as pedras que no auge da desgraça humana transformam-se em pão e alimentam o coração vazio de uma alma miserável. O que se pode sentir quando se depara com a face de uma criança que estar no auge do sofrimento, de grandeza sem igual, no ponto máximo da dor que chega ao ápice de dizer a Deus que a morte foi sua maior criação? Os olhos dela não enxergam porque não há globo ocular, mas inda derramam prantos, sua boca sem dentes não mais sentem o sabor, mas ainda clama por ajuda. A pele em carne viva arde paulatinamente como a constante badalada de um sino numa igreja distante “calma minha criança, toda dor cessará, toda dor cessará” dizia a morte no compasso do sino. “Veja aquela estrela, como és bela, pode até arder-te a pele ao meio-dia, mas tanto seu nascer como seu poente será uma das coisas mais belas que a natureza já produziu. Deita-te em meu colo, criança, e adormece. Estás em paz agora, a partir de então não sentirás mais frio, não sentirá mais fome, não terás mais medo ou ao teu peito a angústia há de habitar. Tu és minha criação e ao colo do criador livrar-se-á de todo o mal, agora adormece para o despertar da eternidade.”


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