sábado, 11 de outubro de 2014

A Cadeira 41

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- nada pra ler!! - resmungava o velho e bom faxineiro do bar enquanto arrumava a bagunça do ambiente depois de outra madrugada de sexta-feira - assim não dá!! - percebia que sua irritação não era só pelo salário carcomido pela pensão alimentícia ou pelo trabalho 'insalubre' que vez ou outra deixava-o em crise de depressão. - tenho que dar um jeito nessa joça!! - sabia, por mestria na profissão, que a inércia das coisas implorava agoniada por uma ação rápida e precisa porque ali, mais que um local de trabalho, é que resumia sua vida.

naquele instante, ao passar o úmido pano sobre o balcão notou que, sob o cinzeiro ainda repleto de cinzas de Free extra longo, extra fino e extra tudo havia um bilhete destinado ao patrão. e ele, ignorante e ingênuo e intruso, leu.

"Adeus chefia, isso aqui tá uma merda!!

Ass. O Zelador"

-eu avisei!!- pensou alto, enquanto limpava o cinzeiro e amassava o bilhete. -mas ninguém me escuta!!- protestou esmurrando o pote de ketchup cujo jato do vermelho molho foi pintar o retrato do pai e da mãe do dono do lugar.

e esse ato impensado brotado (sic) de um misto de fúria e indignação é que despertou nele uma espécie de luz. viu na sujeira que ele mesmo fez e que ele mesmo limparia o sonhado teorema. tal qual arquimedes, (só não nu, porque aí seria forçar a barra, mas pensando bem, por que não? faxineiro é meu e ninguém tasca) tirou o chinelo, o macacão e a cueca e saiu correndo.

-eureka! eureka! eureka!

pobre sujeito, o rio de janeiro não é na grécia, não era amigo do rei e muito menos da polícia. foi condenado por atentado ao pudor, mas teve sua pena trocada por serviço comunitário. desde então vem fazendo faxina na sede da abl três vezes por semana, onde aproveita para ensinar seu teorema aos 'cadeirantes'.

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