sexta-feira, 16 de março de 2007

Fakes, verdades, mentiras e preconceitos.


- Silêncio! Silêncio!
- Queira o réu levantar e ouvir a sentença.
- A União o condena a 1 ano de reclusão ou pagar a fiança de 15 mil reais! - proferiu, dentro do seu ar severo e na pertinaz aparência do senhor absoluto.
- Eu sou inocente! Eu sou inocente! Eu vociferava inconformado para uma platéia constituída de uns 6 ou 7 gatos pingados, todos desinteressados, evidente.

Plaft,plaft,plaft...E ele batia insistentemente o martelo na bancada e, eu me perguntava se haveria algum local específico pra abrigar as batidas, afinal, a União não poderia ficar arcando com os danos que elas causavam na mobília antiga e de bom gosto. Dessa forma, ao me levantar e aproximar para ouvir a sentença eu pude ver em cima da mesa, uma peça sobressalente de madeira que funcionava como uma espécie de amortecedor e, por mais estranho que possa parecer, aquilo me confortou.
E sentença proferida, eu olhava para o advogado que me fora indicado pelo Estado já que eu não tivera a menor possibilidade de arcar com os honorários de um. Ele era um daqueles garotos legais, de fala meiga e de boa aparência, talvez uns uns 24 ou 25 anos e o jeito de quem esperava se dar bem na vida, mas, que momentos antes, sentira-se intimidado pela austeridade do juiz que em boa parte do julgamento (julgamento? uma piada,isso sim!) o intimidou ao indeferir sistematicamente suas alegações. Evidente, e eu sabia que já fora sentenciado antes mesmo julgamento,quando ao sentar-se no banco dos réus fui fulminado pelo olhar preconceituoso e odioso do senhor juiz. E certamente foi um caso recíproco de antipatia pois também não fora com a cara dele. E, em sendo assim, acredito que a prepotência aliada ao seu preconceito deve ter abalado o pouco que restara da autoconfiança do meu advogado, e isso acabou fazendo sentir-se tão ou mais culpado que eu, e aí, nada ou, quase nada ele pode fazer por nós. E eu continuava o olhando e ele não conseguia me retribuir o olhar e me parecia tão desprotegido como um gatinho arrancado das tetas da mãe, e então, passados alguns segundos, ele levantou o olhar e me fixou desajeitadamente me fazendo sentir toda sua decepção por não ter conseguido me livrar da acusação.
Como nada mais havia a ser feito só me restou rir de daquela comédia absurda. E assim, eu acabava de me conscientizar que estava condenado a 1 ano de reclusão, já que não havia os 15 mil reais que conseguisse me livrar dessa.
- Ok, doutor Erico, está tudo bem! Apareça em lá casa para tomarmos umas cervejas quando tudo isso terminar - eu lhe disse, antes que me saíssem porta afora.
- Ok, vou sim, senhor China, aparecerei por lá! - respondeu, ajeitando os papéis e os enfiando rapidamente dentro da maleta executiva.
Claro, ele nunca apareceu e foi aquela a última vez que o vi.


Mas qual foi à acusação? haverão de me perguntar.
Ah! A acusação foi simplesmente de ser um perfil FAKE e transitar livremente pelo ORKUT, barbarizando outros perfis normais e detonando pessoas de boa índole. E talvez não gostassem desse meu transito exacerbado, livre e sem compromissos por suas páginas, falando o que bem quisesse, insinuando aqui e ali casos amorosos ou mesmo, hipotéticas trepadas virtuais.
Talvez não suportassem a idéia que me mantesse no anonimato de um perfil irreal e sob o seu manto e, em alguma Comunidade por aí, insinuasse qualquer admiração ou tesão por um outro perfil, ou que dissesse que gostaria de transar com alguma madame X, fosse ela um perfil verdadeiro ou não.
E por falar em perfil FAKE, nada como considerar algumas situações vividas dentro de algumas Comunidades que se tornaram as minhas favoritas. Nessas comunidades as pessoas são inteligentes e interessantes e os papos que rolam são pra lá de malucos, e onde também se respira o pó da literatura nas suas mais variadas formas. Evidente, admito que se utilizar um perfil FAKE em alguns casos possa se revestir de um extremo mau gosto, pois nem todos tem a finalidade de se divertir e utilizar como nós, que conseguimos fazer dos nossos fakes “quase” que uma identidade real, tal é o nível de interação e contato que mantemos. Talvez me perguntem ; Por que então não se mostrar a feição real? Bem, a mim, não faz menor diferença mostrar-me ou não, mas, ao sabermos que o Veio China nada mais é que um mero personagem perdido entre os milhares que compõe esse espaço virtual e, não vendo qualquer motivo ou necessidade de fazê-lo, assim eu o deixo se permanecer.
Haverá mais algum sisudo juiz de plantão??
.....................................................................................
Ninguém?

19 comentários:

MPadilha disse...

Um texto com teor autobiográfico que pecou pelo tamanho, extenso para blog, um detalhe que ofusca o brilho, pois, apesar da falta de imparcialidade, prima pela construção bem feita, boa gramática e mensagem.Perfeito para o que o autor se propôs, desabafo.
Parabéns ao autor.

Giovani Iemini disse...

Velho é foda, desconfigura a parada e depois reclama.
hehehe.
Já arrumei o trem, Véio, foi vc mesmo que impediu os comentários.
Agora já tá arrumado.

Sobre o texto: adoro os fakes. Fazem da nossa vida mais divertida. Obviamente há os idiotas, que se escondem por covardia. Desses só quero distância.
Acho que ser fake é colocar para fora seu lado podre. Depois de um tempo, a pessoa até percebe que esta podridão nem é tão maléfica e se acalma. Ou não.

De qualquer modo, NESTE BAR sempre haverá espaço para todos.

E viva o pseudônimo.

Véïö Chïñä‡ disse...

Uai, como posso ter impedido se nao tenho acesso a configuração dos comentarios? Se puder me explicar irá me fazer um favor assim nao incorro no "mesmo" erro ao postar alguma coisa no meu. Abs Gigio.

Giovani Iemini disse...

Vc tem esse poder sim, Véio, cada escritor pode impedir os comentários ao seu post.
Deve ter clicado por engano...

Véïö Chïñä‡ disse...

Ok! Vamos deixar isso pra lá, afinal são questões administrativas.

Evidente, vão dizer que gosto de causar polêmicas e a intenção não é essa. E eu acho que o tamanho do texto pouco importa e ninguém é tão ingênuo que nao perceba que postagens longas tem um núumero reduzido de comentários (da preguiça de ler) e então cada qual que se sujeite aquilo que quer para si.(Igualmente fizeram essa observação no texto do Cristiano e lá eu deixei o que eu achava sobre isso) Mas também, curiosamente, li o conto do Perrone (do qual eu gostei muito)e surpreendentemente é maior que o meu e não houve nenhuma observação nesse sentido.
Então eu acho que as observações deveriam ser equivalentes para não gerar qualquer interpretação discriminatória.

Fernando Maia Jr. disse...

Bem, cada caso é um caso, assim como cada fake é um fake e assim como cada pessoa é uma pessoa. Do ponto de vista filosófico a discussão pode ser longa... Mas um "fake escritor" certamente é mais perdoável do que outros tipos de fake.
Do ponto de vista textual, acho que poderia ter rolado uma revisãozinha de nada, para corrigir umas repetições, uma crase penetra e umas trocas (de lugar) entre algumas palavras. No mais, fora isso, o texto tá bem conduzido mesmo. :-)

Mas ainda temos uma questão: vale a pena diferenciar fakes, pseudônimos e heterônimos? Se sim, isso ajudaria numa discussão filósofica sobra a coisa. :-) O que vc é, Sr. China, mais rigorosamente falando?

MPadilha disse...

Eu citei o tamanho do texto numa análise crítica mesmo, como leitora, jamais por ser o texto de fulano ou ciclano.Eu acho que um texto longo tem que ser impecável, criativo, perfeito em todos os sentidos.Que prenda a atenção do leitor enquanto lê, para que assim a leitura não fique cansativa.Lógico que o texto do Perrone, que não vem ao caso aqui, foi perfeito (so falo dele pois foi citado).Já o texto em questão foi repetitivo, poderia ter sido mais resumido, deixando assim uma leitura clara e agradável.Esse erro, na minha opinião, tirou a perfeição do texto.Se meu comentário fosse preconceituoso ou direcionado a esse ou aquele suposto "ser discriminado", eu provavelmente não veria qualidades e sim, só os defeitos.Mais um vez, na minha opinião foi longo demais.

Lameque disse...

Como Fake escritor, assino embaixo este belo texto do Véio descarado. Sempre digo que esto honorável ancião sabe das coisas.

Incluo-me na categoria de fakes que necessitam, por questões de Segurança Nacional, manter a identidade secreta.

Saudações Fac-similianas!

Véïö Chïñä‡ disse...

Fernando, como você pediu uma resposta, darei.

O Velho China é uma homenagem ao Bukowski (inclusive é ele na foto) e, onde você vê um aparente par de lentes na verdade era um par de laranjas que foram pintadas de negro.
O China é um personagem que carrega muitas coisas do que sou e outras que gostaria ou não de ser. A única diferença que possa ter com relação a boa parte dos fakes é que estou aqui pra me divertir. Nada de barracos ou palavrões pessoais e qdo os falo é dentro do contexto da postagem. Sobre o China ser um terrível e malígno fake? isso é mera bobagem, tanto, que algumas pessoas aqui já viram quem o veste, tanto por inicitiava própria como atráves de fotos que foram linkados num TPC do Bar do Escritor e que só foram substituídas no dia posterior para não se deixar perder completamente o encanto (encanto??..eu heim!!) Em São Paulo, vai haver uma bebedeira no Bar Ibitorama, muito conhecido na R. Augusta e lá vão estar alguns meninos e meninas da Velho Safado. Se sou o avô da galera? Ah! nenhuma dúvida! Quem quiser que apareça e pague uma cerveja pro Véio China. (hoje,16/3 as 21hrs) hehehe

Matheus Costa disse...

Começa como conto e termina como crônica. E, caso tivesse parado na "1a parte da história", já estaria ótimo, embora passasse outra imagem, nada a ver com fake.

Fakes já marcam a minha vida. Toda vez que vejo a palavra ME, eu já penso na Mezinha com sua foto e seu véu mal-feito e digital. Fato!

O que se deve pensar é que um perfil 'falso' não deve nada a um verdadeiro: de ambas as formas existe alguém que o comanda. O Fake poético é um eu-lírico escritor.

Sobre seu comentário na minha poesia: não são travessões de fala, são simplesmente travessões, pausas maiores. Esse recurso já foi muito usado, mas pouca gente conhece. E fica claro, dentro do contexto, que não é fala - obviamente.

Klotz disse...

Véio China, julguei que a pena poderia ser maior: tirar a máscara de fake. O que sugere que o juiz não era assim tão carrasco afinal.
Gostei pelo fato de trazer à discussão o aninimato.

Véïö Chïñä‡ disse...

Perfeita explanação e agora eu entendi o que é ser um texto longo e cansativo ou um texto longo e entusiasta.
Em todo caso ficaria feliz se não houvesse mais essa obervação pois fatalmente nao induziremos ninguém a escrever de forma condensada e que se adapte a filosofia de um blog. Evidente, entendi também que esse texto deverá ser perfeito sob o ponto de vista de quem o lê, caso contrário essa tese perde a sua validade.
Não faço essa pergunta a ninguém em especial, mas, imaginemos quantos milhoes de jovens, não jovens, acham Bukowski um gênio e some-se outros milhoes que o acham um lixo e afinal: "Bukowski escrevia bem ou mal pra caralho?"
Quem há de dizer? os que gostam ou os que não gostam?
Portanto essa questão de avaliação é meramente pessoal e taxar um escrito com um "é ruim", "é bom", e dar a ele o conceito de que isso possa ser idéia generalizada, pode se tornar imprudente.

Deveras disse...

É como o Matheus disse; são dois textos diferenciados, quase. Começo de um jeito e termina de outro. Umas correções e ele fica redondo.

Quanto ao tamanho, acho que todo texto deve ter o tamanho da mensagem que o autor quer passar. Se o leitor conferir tudo até o final, é por que ele conseguiu prender a atenção dele, caso contrário é pq tá ruim

ficanapaz!

[barba] Uonderias disse...

eu não considero dois textos
e sim uma crônica só
com elementos de conto, crônica e prosa...
eu gostei do desabafo

Eliane Alcântara. disse...

E depois da sua defesa, véio China, quem ousaria contestar? rs* Amei a mistura réu e escritor. A continuidade: 'Mas qual foi à acusação? haverão de me perguntar', dá a sensação de que o escritor entra em defesa da personagem já que o advogado não estava a dar conta do recado e, deliciosamente personagem e escritor se somam a cada palavra na construção do original.

Eduardo Perrone disse...

Um desabafo... Pertinente , sob o aspecto de um texto, muitíssimo bem escrito.
Do anonimato eu percebo - sempre-uma certa timidez. E , timidamente, no BDE , os fakes vão assumindo as personae de seus criadores...rs . E , escancaradamente , eles criam um mundo à parte, que INTERAGE COM O - DITO- Mundo Real... Isso é FANTÁSTICO!

Anônimo disse...

Um de seus "escritores" COPIOU meu texto inteiro!!!!!
Eu quero a retirada do texto e um pedido de desculpas!!!!

MEU TEXTO: RELÓGIOS – PUBLICADO EM 27/02/2007

A CÓPIA: Terça-feira, 13 de Março de 2007
Mente humana?

Véïö Chïñä‡ disse...

hehehehe!

Dona, não precisa protestar aqui não! Tá certo! eu sou o ancião da tchurma mas não sou o dono do estabelecimentos não!
Sou um mero e reles fregues, daqueles de encostar o umbico no balcão.
Ô Giogio! por falar nisso, fecha a minha conta e fala com a senhora aeh porque ela quer falar com o dono do boteco. ( ih! a coisa ficou feia em meu fio?)heheheeh.

Véïö Chïñä‡ disse...

Estranho, mas será que é comum a egolatria aos escritores ou anaqueles que acham que o é??
Reparei que a moça veio e com certa razão estrilou (aliás, roda razão).
Reparei que deixou o link de sua página para visitarmos e eventualmente opinarmos em seus seus escritos. Se apoderou e postou na sua pagina os comantários que fizemos (nao deveria fazê-lo já que demos, moralmente, por cancelada a postagem do confrade)mas, mesmo assim, não teceu qualquer comentário sobre o que leu aqui (apesar que não deve ter lido nada) hehehe.
Cada coisa!!!