quarta-feira, 4 de abril de 2007

Fim de Semana Amoroso Ou da Efemeridade do Eterno

Ela vivia entre cifras e números. Trainee de uma multinacional, MBA quase concluído, ótimas notas, curriculum perfeito; ele, entre palavras e estrofes. Poeta semi-profissional, escritor por opção, ex-executivo, ex-empresário, extenuado pela busca da carreira correta, alguns contos reconhecidos, alguns rabiscos elogiados.
Se conheceram em uma sexta-feira. Ela animada com o começo do final de semana; ele, buscando beber de graça no coquetel da empresa dela. Alguns passos para o mesmo lado, a escolha da mesma bebida (sem gelo, por favor!), um olhar correspondido e uma avassaladora paixão nascendo; conversas até a madrugada sobre tudo o que cerca os antenados... Uma despedida na manhã, dois telefones trocados e um beijo para ser lembrado.
Saíram no sábado, conforme o combinado na sexta, ela mostrou a ele o prédio da Bolsa (ainda vou trabalhar ali!), ele profetizou que ainda lançaria alguma coisa no prédio do Masp (nem que fosse o próprio corpo, lá do alto...). Os beijos se tornaram mais ardentes e os olhares mais profundos; a lua na madrugada os encontrou se amando por entre sussuros e desejos, as primeiras promessas brotando.
No domingo acordaram abraçados, beijando-se sem se escovar, rindo-se das mesmas coisas, bebendo do mesmo copo, trocando apelidos e segredos, constatando na pele as marcas físicas de uma noite de amores... Constatação essa que reiniciou todo o fogo, todos os movimentos. No auge do calor, a bomba: prometeram-se mutuamente amor infinito por todos os séculos que ainda restassem, juraram que seus sentimentos estavam em sintonia para todo o sempre...
Na segunda ela saiu para trabalhar cedo, ele ficou deitado de cuecas... Ela ligou de tarde dizendo que estava tudo acabado: iria se transferir para Nova York com um dos filhos do presidente da empresa; ele suspirou aliviado: a mulher e os quatro filhos deveriam estar putos da vida com seu desaparecimento... Esvaziou o barzinho dela e se escafedeu para o subúrbio.

16 comentários:

MPadilha disse...

Puta que pariu Cris, ninguém descreveu melhor uma paixão de momento como vc. Por uma boa transa se diz eu te amo, se promete casamento, fidelidade e tdo que for preciso. Licença Poética da paixão. Adorei. Muito bom. Me surpreendeu. Super beijo lobinho.

Anônimo disse...

Tive o prazer de ler esse texto antes dele ser postado aqui, e quando o Cris me perguntou se estava bom para o blog, não tive dúvidas!Excelente! Irônico e bem realista ao mesmo tempo. Uma salva de palmas!

Lameque disse...

Putz, sensacional! Além do texto enxuto e de toda a ironia presente, fica a mensagem de que arte e negócios são irreconciliáveis!

Muryel De Zôppa disse...

quando penso que já li de tudo por aqui tu me vem com essa! excelente trama, sem desvios, sem excessos. tua escrita tem conteúdo, sim, estilo. e não é pessoal, Cris, pois me agrada a tua narrativa, como a conduz.

Larissa Marques - LM@rq disse...

Amores descartáveis, me inspirou, adorei a escrita, e farei um poema sobre...
Beijo, meu caríssimo!

Klotz disse...

Muuuuuuito bom. Gostei muuuuito.
Este sim é o verdadeiro lobo que se esconde debaixo da pele do cordeiro.
O final do conto é o mais comum possível. Acontece milhares de vezes por dia. Mesmo assim, da forma como foi escrito foi surpreedente.
Este é daqueles textos que eu gostaria de ter escrito.

Klotz disse...

Muuuuuuito bom. Gostei muuuuito.
Este sim é o verdadeiro lobo que se esconde debaixo da pele do cordeiro.
O final do conto é o mais comum possível. Acontece milhares de vezes por dia. Mesmo assim, da forma como foi escrito foi surpreedente.
Este é daqueles textos que eu gostaria de ter escrito.

Anônimo disse...

Eu te disse Cris, eu te disse! :p

ofilhodoblues disse...

Ótimo Cris!
Só nas duas ou três últimas linhas, duas informações surpreendentes... e o jeito que você guiou o leitor até chegar nesse desfecho foi sensacional...
Com certeza, vai para o ranking dos seus textos com nota 10
eiaehiheaiaeuhae

flew!

(gostei da esvaziada do bar, no final) como diria bezerra da silva, malandro é malandro, mané é mané
eaiuheaiaehiuheaiuhea

Rebellis disse...

Muito bom, conterrâneo! Confesso que o final, apesar muito bem conduzido, me deixou meio triste. Esperava ver sangue! (risos) Destaco essa frase como realmente inspiradora: "ele profetizou que ainda lançaria alguma coisa no prédio do Masp (nem que fosse o próprio corpo, lá do alto...)".

Um abraço!

Eduardo Vilar disse...

muito bom!
não gostei do "a lua na madrugada os encontrou...", gostei de todo o resto!
abraços

Fernando Maia Jr. disse...

Bom, sim. :-) Vendo o tamanho do texto, vemos que em pouco espaço vc conduziu uma história concisa.

Achava que o fim ia ser sangrento, ia ter morte. Gostei de não ter tido - vc fugiu do lugar comum, mostrando o que comumente acontece! Esvaziar o bar da moça, como bem disse o André, coisa de malandro mesmo; encher o nosso bar de visitas, coisa de bom escritor. :-)

Do texto, não gostei de alguns detalhes de estilo, apenas, coisa mínima - alguns usos de vírgula e ponto-e-vírgula, além de uma frasezinha que, acho, destoou um pouco do ritmo da narração (falo dessa parte: "Constatação essa que reiniciou todo o fogo...").

Um brinde a este bar - a cada, uma bebida que desce bem.

Deveras disse...

Agradecendo atrasado aos afagos e me penitenciando pelos erros.

Gracias.

fiquemnapaz

Eduardo Perrone disse...

Cris... Posso plagiar?HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

BOM DEMAIS!

E, um detalhe... O "crescendo" do conto, encontra o ápice na transa, como aliás, convêm...rsrs
Mas, atentem para a "brochada"... Ao invés do "cara" se emputecer, deu de ombros, encheu a moringa , no 0800, e admitiu ser, ele tbm, tão canalha e adorável quanto ela!
Isso não é o maximo?
Eu mesmo respondo: É .

Anônimo disse...

Ainda de queixo caido por aqui : ) Excelente!!!

Véïö Chïñä‡ disse...

hahaha! Muito bom! Mesmo!
Genial o fim. hehehe