Ela vivia entre cifras e números. Trainee de uma multinacional, MBA quase concluído, ótimas notas, curriculum perfeito; ele, entre palavras e estrofes. Poeta semi-profissional, escritor por opção, ex-executivo, ex-empresário, extenuado pela busca da carreira correta, alguns contos reconhecidos, alguns rabiscos elogiados.
Se conheceram em uma sexta-feira. Ela animada com o começo do final de semana; ele, buscando beber de graça no coquetel da empresa dela. Alguns passos para o mesmo lado, a escolha da mesma bebida (sem gelo, por favor!), um olhar correspondido e uma avassaladora paixão nascendo; conversas até a madrugada sobre tudo o que cerca os antenados... Uma despedida na manhã, dois telefones trocados e um beijo para ser lembrado.
Saíram no sábado, conforme o combinado na sexta, ela mostrou a ele o prédio da Bolsa (ainda vou trabalhar ali!), ele profetizou que ainda lançaria alguma coisa no prédio do Masp (nem que fosse o próprio corpo, lá do alto...). Os beijos se tornaram mais ardentes e os olhares mais profundos; a lua na madrugada os encontrou se amando por entre sussuros e desejos, as primeiras promessas brotando.
No domingo acordaram abraçados, beijando-se sem se escovar, rindo-se das mesmas coisas, bebendo do mesmo copo, trocando apelidos e segredos, constatando na pele as marcas físicas de uma noite de amores... Constatação essa que reiniciou todo o fogo, todos os movimentos. No auge do calor, a bomba: prometeram-se mutuamente amor infinito por todos os séculos que ainda restassem, juraram que seus sentimentos estavam em sintonia para todo o sempre...
Na segunda ela saiu para trabalhar cedo, ele ficou deitado de cuecas... Ela ligou de tarde dizendo que estava tudo acabado: iria se transferir para Nova York com um dos filhos do presidente da empresa; ele suspirou aliviado: a mulher e os quatro filhos deveriam estar putos da vida com seu desaparecimento... Esvaziou o barzinho dela e se escafedeu para o subúrbio.
16 comentários:
Puta que pariu Cris, ninguém descreveu melhor uma paixão de momento como vc. Por uma boa transa se diz eu te amo, se promete casamento, fidelidade e tdo que for preciso. Licença Poética da paixão. Adorei. Muito bom. Me surpreendeu. Super beijo lobinho.
Tive o prazer de ler esse texto antes dele ser postado aqui, e quando o Cris me perguntou se estava bom para o blog, não tive dúvidas!Excelente! Irônico e bem realista ao mesmo tempo. Uma salva de palmas!
Putz, sensacional! Além do texto enxuto e de toda a ironia presente, fica a mensagem de que arte e negócios são irreconciliáveis!
quando penso que já li de tudo por aqui tu me vem com essa! excelente trama, sem desvios, sem excessos. tua escrita tem conteúdo, sim, estilo. e não é pessoal, Cris, pois me agrada a tua narrativa, como a conduz.
Amores descartáveis, me inspirou, adorei a escrita, e farei um poema sobre...
Beijo, meu caríssimo!
Muuuuuuito bom. Gostei muuuuito.
Este sim é o verdadeiro lobo que se esconde debaixo da pele do cordeiro.
O final do conto é o mais comum possível. Acontece milhares de vezes por dia. Mesmo assim, da forma como foi escrito foi surpreedente.
Este é daqueles textos que eu gostaria de ter escrito.
Muuuuuuito bom. Gostei muuuuito.
Este sim é o verdadeiro lobo que se esconde debaixo da pele do cordeiro.
O final do conto é o mais comum possível. Acontece milhares de vezes por dia. Mesmo assim, da forma como foi escrito foi surpreedente.
Este é daqueles textos que eu gostaria de ter escrito.
Eu te disse Cris, eu te disse! :p
Ótimo Cris!
Só nas duas ou três últimas linhas, duas informações surpreendentes... e o jeito que você guiou o leitor até chegar nesse desfecho foi sensacional...
Com certeza, vai para o ranking dos seus textos com nota 10
eiaehiheaiaeuhae
flew!
(gostei da esvaziada do bar, no final) como diria bezerra da silva, malandro é malandro, mané é mané
eaiuheaiaehiuheaiuhea
Muito bom, conterrâneo! Confesso que o final, apesar muito bem conduzido, me deixou meio triste. Esperava ver sangue! (risos) Destaco essa frase como realmente inspiradora: "ele profetizou que ainda lançaria alguma coisa no prédio do Masp (nem que fosse o próprio corpo, lá do alto...)".
Um abraço!
muito bom!
não gostei do "a lua na madrugada os encontrou...", gostei de todo o resto!
abraços
Bom, sim. :-) Vendo o tamanho do texto, vemos que em pouco espaço vc conduziu uma história concisa.
Achava que o fim ia ser sangrento, ia ter morte. Gostei de não ter tido - vc fugiu do lugar comum, mostrando o que comumente acontece! Esvaziar o bar da moça, como bem disse o André, coisa de malandro mesmo; encher o nosso bar de visitas, coisa de bom escritor. :-)
Do texto, não gostei de alguns detalhes de estilo, apenas, coisa mínima - alguns usos de vírgula e ponto-e-vírgula, além de uma frasezinha que, acho, destoou um pouco do ritmo da narração (falo dessa parte: "Constatação essa que reiniciou todo o fogo...").
Um brinde a este bar - a cada, uma bebida que desce bem.
Agradecendo atrasado aos afagos e me penitenciando pelos erros.
Gracias.
fiquemnapaz
Cris... Posso plagiar?HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
BOM DEMAIS!
E, um detalhe... O "crescendo" do conto, encontra o ápice na transa, como aliás, convêm...rsrs
Mas, atentem para a "brochada"... Ao invés do "cara" se emputecer, deu de ombros, encheu a moringa , no 0800, e admitiu ser, ele tbm, tão canalha e adorável quanto ela!
Isso não é o maximo?
Eu mesmo respondo: É .
Ainda de queixo caido por aqui : ) Excelente!!!
hahaha! Muito bom! Mesmo!
Genial o fim. hehehe
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