quarta-feira, 20 de junho de 2007

Convidado: Rynaldo Papoy

MALDITO PEIDO


Ela chegou na festa e disfarçadamente procurou por seu amado: seu professor de filosofia, por quem estava apaixonada.
Ela era estudante do primeiro ano de psicologia e não imaginou que um professor de filosofia poderia ser um morenaço daqueles, que parecia dar a aula exclusivamente para ela.
Por isso, na festa da faculdade, naquela balada chique, ela colocou a melhor roupa, a melhor maquiagem e ainda passou umas horas lascando uma chapinha no cabelo. Não deixaria escapar seu professor de filosofia.
O problema é que naquele sábado, estava sofrendo de uma terrível prisão de ventre que a estava até deprimindo. Mas lutaria para vencer o problema, afinal seu objetivo era bastante nobre: ficar com o professor de filosofia, de preferência na frente de todo mundo, o que deixaria o beijo ainda mais gostoso. Pensando bem, se ele quisesse comê-la naquela noite mesmo, daria tranquilamente.
Encontrou-o, cumprimentou, ficou fazendo aquele joguinho de “tô a fim de você mas não muito”. Apareceram outras pessoas para conversar mas ela deu um jeito de ficar por perto do professor.
No entanto, sua barriga parecia estar crescendo, com aquele gás sendo produzido desesperadamente. Pediu licença e foi ao banheiro. Lotado. Não iria peidar ali na frente de todo mundo. Uma solução seria entrar na pista de dança lotada, peidar e sair. Ninguém perceberia.
Quando chegou na pista de dança, desistiu de novo. Tinha muita gente conhecida ali. E o pior é que quando estava de saída, apareceu o professor de metodologia científica, que resolveu conversar um pouco sobre amenidades. E ela ficou ali, ouvindo sua longa conversa, que parecia estar durando já umas duas horas.
E o gás em sua barriga aumentando, aumentando...
Quando conseguiu se desvencilhar do professor de metodologia, passou a andar pela balada, em busca de outro banheiro ou de algum lugar onde não houvesse nenhum conhecido, que a pararia para conversar.
Acho um local tranqüilo, perto da entrada da cozinha, mas quem estava andando por ali era justamente o professor de filosofia, que a pegou e a beijou, sem que ela pudesse esboçar qualquer reação.
O beijo foi longo e muito bom... embora ela não estivesse conseguindo segurar mais o peido. Iria explodir. Iria peidar ali na frente do gostosão e seria a morte!
Não estava agüentando mais. O peido parecia ter vida própria, pressionando seu esfíncter como uma turba de bárbaros querendo romper os portões de um castelo.
O professor a apertava forte e isto pressionava sua barriga ainda mais.
Ela pediu licença e disse que voltaria logo logo. Saiu correndo. Tinha que achar algum lugar para peidar.
Sem perceber, deu uma volta enorme e praticamente voltou ao mesmo lugar, onde achou uma saída para um jardim. Como estava muito frio, havia pouca gente ali. A estudante de psicologia olhou a sua volta e dirigiu-se à extremidade do jardim, onde aparentemente não havia ninguém.
E foi lá mesmo que soltou a bomba. Um longo e ruidoso alívio do gás que estava preso em seu intestino grosso. Quanto tempo durou aquele peido? Oito segundos? Dez segundos? Não sabia. Só sabia que foi o melhor peido de sua vida. Não bastasse a eliminação daqueles litros de gás podre de intestino, ainda deu um arremate, um flato retardatário.
Seu professor de filosofia, quando viu a moça dirigindo-se ao jardim, ficou curioso e decidiu segui-la. Sem que ela tivesse percebido sua presença, testemunhou o peido mais longo que já contemplara em sua vida, cuja música da balada mal conseguiu ocultar o ruído.
Quando a moça acabou, o professor teve vontade de bater palmas, mas achou que seria humilhante demais para ela.
A estudante, suspirando de alívio, olhou enfim para trás e viu o professor.
- Que você está fazendo aí? – ela perguntou, espantada.
- Eu vi você entrando no jardim e resolvi te seguir.
- O que você viu?
- Vi isto que você fez. - disse ele, na maior inocência, achando que ela daria risada.
- Ah, meu Deus, que vergonha...
Ela saiu correndo. Seu professor tentou segurá-la, dizendo que não havia problema nenhum, mas ela ficou constrangida demais.
Desvencilhou-se dos braços dele e sem se despedir de ninguém, deixou a balada e nunca mais voltou à faculdade. Ninguém a achou em sua casa ou em seu trabalho, pois ela também pediu demissão e mudou de casa para local ignorado.


Rynaldo Papoy

7 comentários:

MPadilha disse...

Puts! Não nada mais humilhante que isso,rsss. Eu faria o mesmo. Hilário! Porreta esse conto, muito divertido, to rindo até agora. Parabéns.

Klotz disse...

Estas situações sempre são engraçadas. A mocinha perdeu uma grande oportunidade de ficar para sempre com o professor. Teria apenas de dizer que fazia parte do ensaio diário de trompete.

Deveras disse...

Discordo do título.Deveria ser "Maldito Comentário". Se o professor de filosofia tivesse refletido mais um pouquinho...rs.

Livre, leve e despretencioso, o conto fluiu como uma boa bufa; soltada na hora certa.

ficanapaz

MPadilha disse...

Com certeza Cris, se o professor tivesse fingido não ouvir o apito teria comido a chaminé,kkkkkkkk

Carlos Cruz disse...

Estrepitoso, fétido, nauseabundo e...

Bom!

Lameque disse...

Pego emprestado uma linha do comentário do Deveras.
"Livre, leve e despretencioso, o conto fluiu como uma boa bufa; soltada na hora certa".

No dia em que alguém peidar a Abertura 1812 de Tchaikovsky emitindo odores de flores do campo talvez paremos com todo este preconceito em tono dos flatos.

Gostei do conto.

Rynaldo Papoy disse...

Pessoal, muito obrigado pelos comentários, fiquei felicíssimo. Artista sobrevive de aplausos!

Grande abraço e fiquem com Deus.