terça-feira, 28 de agosto de 2007

Simbiose do poente





Coagulado o pensamento tinge


a paisagem cor de carmim


em sangue filhote de navalha




Entre o desmaio e a febre


Ensaio palavras canibais


Imploro:lobotomias,injeções,ópio


Ou qualque outro procedimento radical


que me aborte de mim mesma




Desejo que os pedaços voem estéreis


e brilhantes confundíveis com as estrelas


Decadentes elas transbordam pedidos proibidos


Vomitam víceras passionais


Peço agúa pois já não aguento mais tanta porrada


Mas o hematoma tem minha cor preferida


E assim mais uma vez


Dou minha cara a tapa!




Quis ser amarrada á outro corpo


para compreender o mistério da simbiose


Mas cometi o crime


Da delícia do torpor


e da fragmentação da psicose




Adeus,adeus


Vou parir mais uma prece


Adeus vou voar em labirintos


que minha alma teme e desconhece




A revelação sucedeu-se em uma madrugada histérica


Eu velava meu próprio corpo


aos pés de confortos desorientados


Naquele momento descobri


Que eu não sou eu


Não sou uma


Não sou outra


Nem coisa alguma




O corpo coberto de espinhos


E as rosas doentes flutuando por cima deste


Choravam o milagre da libertação


Eu fazia coro com elas


Chorando por não ser um grito na relva


Ou uma gota de orvalho congelada


Por cavoucar a terra procurando tesouros


e cabeças inchadas de sonhos


até as unhas sangrarem




Por se eclipse


metamorfose


petrificação


vazio e miragem




Por ser o sonho de ser
em um poente do avesso

4 comentários:

MPadilha disse...

Caramba menina! Muito lindo! Nosso velório íntimo, nossa agonia diária e o prazer gritante que nos impulsiona a viver sangue. Amei. Sou tua fã linda.

[barba] Uonderias disse...

é intenso!
é denso
e outras coisas mais que rimam com
"enso"

Anônimo disse...

Bem comovente, esse poema.A ilustração diz muito com seu pensamento.

Anônimo disse...

Um redemoinho convulsivo.
Espasmos de dor e beleza.
Lindo!