quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Alguma coisa.

Distante acena o sono aos meus olhos e ficam preguiçosos os pensamentos.
Um certo ar de quem morre folheia-me o corpo um certo ar de quem dorme,
Ah... Este maltrata a alma. Tortura é forte atributo ao filho da puta do sono!
Ingrato que me arrebenta com a mente e confusa escorro sem saber se dia ou noite.

Subo aos céus em busca de uma fumaça, na goela falta o vício, sufoco-me.
Poeta de nada que valha risco o isqueiro sem pedra, queimo sem fogo.
Escuros estão meus desejos, em meus olhos estão saudades. Morta pareço viva.
Tenho fome, sede, frio. E a fome dos que morrem nas ruas é outra mais fria.

O sexo a um canto nos anos pendurados sobressai a gozo e riso,
O café esfria, a xícara já não tem asa e voa o infinito - lábios cerrados.
Já não há vinho, tinto ou branco é o passo passado na calçada da vida.
Só granizo sem ser gelo acompanha meu furioso silêncio.

Bato a porta de minhas idéias, mordo a língua para esperar o amanhecer.
Vermelho sorri endiabrado o sono fugitivo. Incendeio papéis. Solto a louca.
Do fundo vejo a criança sorrindo, a mulher gritando, a senhora chorando...
Alguém sabe de alguma coisa? Perdi a lição número oito ou tropecei no sete?

Olho a cinta liga, nada liga o que desligado foi do coração pela chaminé aorta.
Janelas bandeiras sorriem ao dia um crepúsculo intermediário aos meus saltos.
Saio de mim. Visto saia, rodo um fetiche no colchão e soletro desumanidade.
Preciso beber um vidro de tranqüilizantes e comer a bula para suportar tanta miséria.

Indecente, na esquina, um filósofo esperneia ou come uma galinha sem penas,
Desovam mariposas e toda semente vai liquidada para o lixo virar manchete.
Sem drogas, drogada pela hipocrisia de poucos (e são muitos!), estremeço cruzamento.
O cúmulo da vida cabe na insônia. Atenta penso: e esta porra toda tem jeito.


Eliane Alcântara.

***

A todos os que de alguma forma fazem ou fizeram parte da minha vida
desejo Feliz Natal e Novo Ano abençoado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Eliane nao poderia deixar de vir aqui "neste teu dia"! Como ja vens nos habituando a tua escrita esta cada vez mais bela, gostei mt deler! desejo-te um feliz Natal e um prospero Ano Novo a tds qts passam por aqui q ue no proximo ano a tua escrita seja ainda mais bonita e cativante! beijinhossssssssss

Anônimo disse...

Muy belo!

Fernando Maia Jr. disse...

Caramba! Eu ia começar justificando a minha "ausência" no dia 14! Obviamente, não ia deixar de comentar seu texto, mas, depois de lê-lo, o comentário necessariamente tem que vir primeiro!

Eli, um texto de fôlego - impossível lê-lo pausadamente; clara proza poética e muito bem feita, parabéns!

Há um surrealismo literário nas entrelinhas, que nos lança imagens incomuns e originais na maioria dos casos (há imagens comuns, mas onde não as há?). Esse surrealismo, inclusive, é muito conveniente às sugestões de delírio (seja por vício ou por alucinação) que o texto traz. Tudo isso valoriza muito o texto.

Essa proza também é uma porza de momentos - de diversidade de momentos. No começo, ele chega a soar fora-de-moda: prosa poética por si só é uma coisa perigosa; e todo a melodramaticidade inicial soa muito romântica, antinga - um Álvares de Azevedo metido nos nossos tempos de García Marquez. Mas esse momento é uma importante introdução aos outros momentos da prosa: em alguns instantes, nota-se esse egoísmo do drama romântico; noutro, uma solidariedade da narradora, quando diminui seu drama ante ao drama alheio (a fome da rua). Há também um vai e vem entre o moralmente certo e o subversivo, o que constantemente distorce as idéias que vão se formando na cabeça do leitor. O momento final é o de retomada da claridade: a narradora sai da alucinação, pausa a narração em si e entende a confusão do (seu) mundo. Mas essa clareza, contudo, não surge sem revolta necessária e compreensível de que entende que tá tudo errado: o "porra" mostra bem isso. :-)

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Sobre minha falta: como alguns sabem, sou geólogo e trampo para a Petrobras. Nesses primeiros dias de dezembro, estaba embarcado, trabalhando na sonda de petróleo. Tivemos um problema com a internet lá (o que é mt comum, porque tudo funciona com antena e tal e estamos sempre nos lugaresmais inóspitos - ou o mar, ou o sertão nordestino, onde a luz que tem é só a do sol e até as lágrimas são secas). Por isso, sem internerd, não deu pra postar nada! :-/ Agora estou de volta a civilização. Se no começo de janeiro eu for de novo embarcar, vou deixar meu texto com alguns de vcs, para um primeiro postar aqui só pra garantir! :-) Desculpa e obrigado, pessoal!