sábado, 15 de dezembro de 2007

E ATENA INVEJOU AFRODITE.

Era loira – e estonteantemente bela.

Como se isso não bastasse, a sapiência transpirava por todo seu ser. Seus neurônios espoucavam, impacientes, a cada aprendizado.

Era um colosso no mundo acadêmico e até mesmo nos assuntos carregados de empirismo.

Campeã imbatível nos concursos públicos, revelava extraordinária habilidade na gestão empresarial, na administração enxuta, nos tratados de ciências, nas dissertações filológicas. Tinha invejável destreza na condução coerente da sua vida profissional. Era metódica, disciplinada, prudente.

Foi tida como uma Atena contemporânea.

Assimilava conceitos e os processava de forma espantosa. Sabia geri-los com maestria, engendrando formas e métodos para conduzir sua vida.

Foi juíza, presidente de organizações societárias, diplomata em países de difícil trato; teve trajetória brilhante na política, nos assuntos ocultos de Estado, vasculhou com sucesso e salvas o universo científico, corporativo, fez articulações nos fóruns mundiais em suas prementes decisões de esfera global.

O mundo não lhe reservava segredos nem entraves.

Porém...

Estremecia diante dos homens - seu calcanhar de Aquiles.

Não obstante ser bela, inteligente, ativa em todas as áreas de atuação humana - era um grande desastre na condução dos flertes, dos amores que florescem nos encontros fortuitos dos corredores, no cair dos livros e papeletas, nas esquinas, nos hotéis, restaurantes e coquetéis

Sobre a cama, amargava toda a insatisfação muda, discreta, do parceiro, nos epílogos das transas cheias de frustração, paupérrimas de atrativos, sem as riquezas das preliminares, dos acessórios imaginativos do erotismo, do jogo da sedução, do atingir o mais franco e intenso orgasmo.

E sofria, dentro da toga e da profunda ilustração que abarrotava sua mente, buscando num frenesi os segredos da arte de envolver-se, de amar, de atingir a plenitude afetiva, perdida no acervo vasto da memória, entre fórmulas, enunciados, divagações de domínio científico, jurídico, biológico, nas extensões surpreendentes dos neurônios ocultados pelas madeixas loiras, pelo rosto rosado, pelos olhos verdes.

E Atena invejou Afrodite, como outrora Afrodite invejara Atena.

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