sábado, 26 de janeiro de 2008

Coisista ou A crônica do Eu

Eu sou um “coisista”. Passei, depois de tanta cobrança, a me considerar bom nas coisas que faço. Em geral sou mesmo um bom “coisista” – sujeitinho que tenta fazer de tudo. Muita gente está no meu pé discutindo comigo essa questão da humildade e da modéstia. Humildade é uma coisa que eu posso até ter, sabe, em uma zona morta do meu cérebro. Já modéstia não, sinto muito, não sou nada modesto, afinal nunca ganhei nada sendo assim e se perdi, foi algo que não fez diferença alguma em minha vida.

Acredito que não saberia viver em um lugar parado, um lugar rotineiro, monótono. Sou da cidade, sempre fui. Gosto de prédios, carros, motos, poluição sonora. Sou citadino ao extremo. Gosto de sair da aula por volta das nove e uns quebrados da noite apenas pra sentir o vazio das ruas depois de um dia inteiro de funcionamento das lojas, das barracas, dos frigoríficos, das bancas de revista, dos colégios. Gosto de ouvir o aglomerado de sons diferentes que se passa no meio do trânsito. Gosto de ir tomar café às pressas pra voltar à aula e, se a vontade for maior do que a força em minhas pernas, gosto de passar em um sebo de livros usados e sentir o cheiro da poeira e do ácaro daquelas folhas que estão ali há anos, mesmo que isso me custe uma semana ou duas com crise alérgica.

Eu me apaixono toda semana, mudo meu sobrenome todos os dias. Tenho um sério problema de memória. É muito comum, pelo menos no meu caso, acordar pela manhã e não saber que dia é.

Desde quando passei a observar o que acontece ao meu redor, de perceber as situações inusitadas do cotidiano, meus sentidos parecem mais aguçados. Consigo descrever o que vejo com muito mais facilidade. Posso colocar no papel acontecimentos em minha vida e transformá-los em situações universais, problemas que afetam todo e qualquer tipo de pessoa. A cidade parecer ter notado o meu avanço. Arriscando um tom poético eu diria que a cidade parece corresponder ao que sinto. Nunca consegui explicar todas às vezes que me pego com baixo-astral, com baixa auto-estima, ou até mesmo infeliz e por coincidência está chovendo. Ou quando recebo uma notícia boa, quando me alegro por um amigo que ligou pra dar um sinal de vida e lá está o tempo limpo, perfeito, o céu, as nuvens, tudo em harmonia com meu corpo e com minha mente.

Não são raras também as vezes que as estrelas sumiram à noite quando não consegui me concentrar para escrever ou compor. Ultimamente tenho me encontrado em paz de espírito (se é que isso existe), tenho aproveitado os momentos bons e os momentos certos, mesmo que durem pouco. E vocês notaram aquele dia que fez um calor danado? Só pode ser esse sol, cada vez mais forte.



06.06.06

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