segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

25 de dezembro


Morreu em São Paulo, no dia de Natal.
Não precisava ter ido pela Marginal,
mas era a última entrega do dia
e ele queria
estar em casa a tempo para o almoço.
Era tão moço!
Dezenove anos recém-feitos
e o coração daquele jeito,
dos muitos jovens, com muitos planos.

Em casa, a mãe e a namorada
preparavam rabanadas na cozinha,
entre segredos e risadas.

E ele que não vinha?

Na sala o pai lia o jornal,
sob o pinheiro iluminado em pleno dia:
“Esse menino! Eu bem dizia
que ele ia se atrasar... E hoje é dia
de trabalhar?”

Pernambucano esperto,
viera pra São Paulo no momento certo,
década de 70,
quando a cidade explodia em construções.
Ele, pedreiro caprichoso e atento,
toruxe consigo
garra e talento,
cresceu junto com as obras.
Hoje o dinheiro sobra
para fazer a festa dos amigos.

Soa a campainha:
é a vizinha
que vem trazendo a farofa do pernil.
“Que coisa, seu Libório. Onde já se viu?
Ninguém trabalha no dia 25!”
E chacoalhava indignada os brincos.

Aos poucos chegam todos.
Junto da árvore, um grupo canta um hino:
Toca o sino
pequenino...


– Onde estará, meu Deus, esse menino?

O menino dormia docemente
sobre o asfalto quente,
rosto coberto por uma camiseta
que um cara de lambreta
tirou do corpo, fazendo o sinal da cruz antes de ir.

Na camiseta estava escrito
(achei tão bonito):
“Natal! Paz na cidade
aos motoqueiros de boa vontade”.

Um comentário:

Iriene Borges disse...

Poesia triste como só a realidade pode ser!
Como diria Larissa Marques: reverências!