O Legislativo
Recebi, por correio, um nobre cartão do Senador Adelmir Santana, felicitando-me pelo natal e desejando um ótimo 2009. Quem é Adelmir Santana? Li, no cartão, que é senador pelo DF. Eu não sabia, mesmo me considerando um cara informado. Virei o cartão e estava lá, para todo mundo ver, sem a menor vergonha: carta impressa e enviada pelo Senado Federal.
- ta fazendo propaganda eleitoral com dinheiro público, sujeito?
Não me importa se há leis que permitam essa safadeza, não há justificativa que valide o gasto de qualquer verba de Estado para promoção pessoal. Para que serve, ao DF, um cartão natalino, em grosso papel plastificado, todo colorido, com a foto da cara enrugada do senador? Fui tão felicitado nataliciamente que aceito corrupção constitucional?
- não, Adelmir, saquei tua treta! – Joguei o cartão no cesto de papel reciclado do meu serviço. A faxineira vende o papel para fugir da miséria, diminuindo o prejuízo nacional dessas inversões estapafúrdias do bem público. – contudo, vou ajudar a te divulgar, não era isso que queria com a porcaria do cartão? – Estalei os dedos e os posicionei sobre o teclado. – Escreverei esta croniqueta para explicar a todos os meus oito leitores sobre sua hipocrisia. Serão oito possibilidades a menos de voto. Juntamente com a minha, são nove. - vai continuar gastando o dinheiro do povo para mandar cartões de natal, “senator”*?
O Executivo
Os dias ao redor do natal são exemplos de como o sistema executivo é irresponsável. Todos sabem que existe a tal folga extra-oficial, em que os servidores públicos se revezam no serviço para curtirem as festas. Na repartição, apenas metade das pessoas. Até ai, sem problemas – é igual no mundo privado. O que incomoda é que as coisas continuam funcionando.
Sim, o problema é que apenas a metade dos servidores é capaz de produzir o mesmo que o quadro completo. É de se supor que nos dias normais a quantidade de serviço seja o dobro, mas não acontece assim. No dia-a-dia o servidor se acomoda, fica indolente, não há estímulo pois não há cobrança. Ninguém bate no peito e diz: hei, vamos botar essa joça para funcionar! Nossos clientes são as pessoas mais importantes do país, são os contribuintes. O trabalho se arrasta eternamente, ninguém se importa.
O Judiciário
No dia 22/12/2008, o desembargador do TJDFT Mario Machado publicou um artigo no Correio Braziliense com o título Que juiz você deseja? Obviamente li o texto com atenção, um anarquista como eu não perderia a chance para questionar filosoficamente a teoria de estado baseado no sistema jurídico.
Qual não foi minha surpresa ao perceber que o desembargador tratava somente do aumento do subsídio dos juízes? Ele falava que recebem menos do que valem em relação à sociedade civil. Ao final, perguntava AOS PARLAMENTARES que juiz eles desejavam. Mais uma vez me surpreendi, achei que ele dialogasse com as pessoas comuns, já que estava num jornal e não numa publicação especializada. Resolvi responder, mesmo que minha opinião (e a dos outros cidadãos brasileiros) não importe:
- não queremos juízes como você, Mario! – Pensei em citar a pilhéria com o armário, mas ele poderia ficar ofendido. Juízes são muito sensíveis. - que se importam mais com seus os próprios benefícios que com a qualidade do seu trabalho. – Ainda estava tentado a fazer gracejos. – além disso, nós, anarquistas, não confiamos em juízes profissionais, que aplicam a lei fria e morta, sem olhar para as pessoas humanas. – Conclui, altaneiro, para quebrar a sensação de sacanagem.
Se o moço considera que recebe pouco para a importância que tem na sociedade, que corrobore essa mais-valia com argumentos plausíveis, no artigo havia apenas confete. Se basearmos a qualidade da justiça brasileira na certeza das decisões ou no alcance das punições, quaisquer “mil-réis” que o juiz receber é mais do que suficiente!
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* é o título do Lorde do Mal em Guerra nas Estrelas
3 comentários:
Bem pertinente. Tive o mesmo pensamento que você quando recebi o cartão não só do senador, mas também do Arruda (e duas vezes).
Além de gastar dinheiro com isso, é o tipo de forçação de amizade hipócrita: afinal, nem todos comemoram o Natal e, se a pessoa for muçulmana ou judia, nem mesmo o Ano Novo, pois o calendário deles é diferente do gregoriano.
hehehe, é, parceiro glauber, ser brasileiro dá vergonha!
UAU! cara corajoso, vc, dando nomes aos boys....
Em geral se lê esse tipo de crítica mais genericazinha, em q o cara critica e se protege...
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