Agora não quero falar
de coisas coloridas,
bonitas, delicadas,
de flores e borboletas.
Não quero falar de nada.
Hoje estou monocromático.
Por que não cantar o cinza
do asfalto e do cimento,
da gasolina e do diesel,
da poeira e da fuligem?
Por que não cantar o cinza
duro, frio, onipresente?
Os diversos tons de cinza
sobre cinza da cidade?
E uma vez cantado o cinza,
concreto armado e neblina,
e pintada a cidade em P/B,
aí, sim, falar de flores
e até, talvez, borboletas.
Sobre o fundo de cimento
não mais apenas bonitas,
mas praticamente perfeitas.
3 comentários:
É, singularmente, um poema reflexivo. Me faz pensar a cidade em que vivo e o mais das vezes, pouco vejo. E mais ainda me coloca em check-point: quando é que consigo olhar para a cidade, esse complexo orgânico, vivo, ao mesmo tempo amamentativo e desconstrutivo, quando é que consigo olhar a cidade com atenção e a necessária perspicácia para compreendê-la? Talvez um surto, sómente uma surto versificado para melhor vê-la, cidade, essa mulher bêbada em minha vida.
quando a gente pensa que é uma homenagem ao cinza, eis que a coisa vira.
essa é bonita pela surpresa.
Além de estar bem escrito, é um belo texto.
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