Minha provável simpatia com o nada mantém meus lábios murchos, neste corpo cuja capacidade de se estimular já foi perdida. Ultimamente os rijos membros que em mim adentram já não causam assombro algum, este mesmo que se faz necessário para que de fato eu me interesse. Formas diferentes, tamanhos variados e minha insatisfação equipara-se à monotonia do momento, uma reunião formal em que o encontro se dá por convocação e não convite.
Embuste. Uma arte tão sórdida e tão ácida que me arrepia, mas se somente isso me excita, creio que sou o mais sádico e preguiçoso dos órgãos, pois talvez meus dois únicos desejos sejam o vislumbre do desapontamento – duas burcas negras, perdidas num céu obscuro, a velar minhas reações à distância enquanto a língua procura desesperadamente umedecer um cáustico deserto – e um banho morno, depois de fugir deste embaraçoso momento.
Pêlos finos ou grossos, todos se mostram bastante interessados quando me veem adornada com enfeites, mas a verdade é que não me lembro o que fazer quando despida. Enrugo-me e fico tímida, a ponto de me ocultar por detrás das carnes e o que sobra é uma luta, sim, uma batalha, tentativa sôfrega de reanimar um corpo morto.
Ultimamente meus deleites têm sido coisas de velhinhas e suas maquinarias perfeitas, observando os namorados na rua. Contudo, escondida, me enlevo com outro tipo de manipulação. Não sei se os paus antes comiserados de meus amigos andam fugindo em surdina, como ladrão que desiste do roubo, mas a verdade é que não ligo. Me entrego ao alcool e à insatisfação e fumo um cigarro doce, cujo aroma é mais saboroso do que qualquer coisa viscosa descendo a garganta.
Viro pro lado e nem peço para fecharem a porta, pois já o sabem. O amargor que lhes fica na boca é como veneno, amarra. Devem ir lavar-se, já imaginei, pois são leves como plumas depois de uma tempestade de necessidades. E eu fico morta, olhos semi-cerrados, a ver a parede do meu quarto que pede, há meses, um novo reboco.
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2 comentários:
Teus paus e vaginas aqui são até modestos. Quem domina o texto inteiro é o coração.
Muito grata pela visita, Parreira!
Bjão!
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