sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Os Prazeres Solitários

Tenho tendência a me isolar, minha família por várias vezes insistia para que eu me entrosasse com gente da minha idade, mas na infância e adolescência eu não tinha interesse em contatos e julgava que meu mundo era muito distante da mentalidade do pessoal da minha faixa etária. Pensei que ser jovem era péssimo por falta de poder, prestígio, imponência, confiabilidade e tantas coisas que geralmente são alcançadas na fase adulta por algumas pessoas. Com o passar do tempo passei a encontrar pessoas interessantes que regulavam de idade comigo, então o tempo revelou que as pessoas têm um prazo de validade na minha vida. Essa entrada e saída de contatos sociais e a durabilidade das relações envolve muitos fatores e realmente os filósofos, cientistas e outros pensantes não erraram ao dizer que o comportamento humano é um enigma imenso e indecifrável. Aprendi que quando todos vão embora ou sigo meu rumo solitário só resta comigo o conteúdo desenvolvido com elas. É bom ser solitário sem raízes e grilhões que me prendam a pessoas e território, por isso amo desapegado de forma talvez mais racional, lógica, organizada e metódica em tantas realidades distorcidas e distantes do entendimento desse plano, e não sei amar de outra forma.

Amo de forma diferente, e é fundamental que a individualidade e privacidade de meu estilo de vida sejam valorizadas e respeitadas e esse é um trabalho só meu e de mais ninguém. A constância só me faz enjoar de qualquer pessoa ou lugar, é como se meu espírito fosse nômade e tudo ao meu redor precisasse ser mudado. Por mais que exista amor mútuo, é cansativo vivenciar a rotina depois de uns meses, eu certamente não sirvo para ser marido e pai e isso não é defeito, os maiores defeitos são os que nos ferem, o que fere outras pessoas pode ser mera questão interpretativa. Não consigo amar sem ter saudades, por isso considero a distância interessante e saudável para produzir assuntos para conversar quando existirem reencontros com pessoas que aprecio. Gosto de me aventurar pelos tantos mundos nos quais eu possa voltar para contar meus acontecimentos e se estiver tão próximo em todos os momentos perderei o prazer do reencontro que é um momento tão gostoso em nossa existência tão efêmera.

Para apreciar os mundos misteriosos e secretos de prazeres solitários é preciso ser introvertido, a criatividade se faz necessária para nos divertir desde que também tenhamos uma mentalidade avançada para ir além do senso comum. Esse aprofundamento pessoal de vasculhar seu próprio universo interior em busca de mistérios e segredos é tarefa árdua para poucos, muito poucos capazes de viver com o resultado de tamanha aventura. Aqueles que voltarem da caverna platônica de seu universo individual serão dotados de personalidade própria, incompreendidos por não mais estar sob o domínio do senso comum. Alguns dos prazeres solitários mais interessantes são: estudar e pesquisar sua própria personalidade conhecendo seus pontos positivos e negativos; produzir intelectualmente; desenvolver individualidade; criar convicções e limites; amar-se e respeitar-se. Dentre tantos prazeres solitários que descobri e desenvolvi esses são os maiores que conheço, mas outros introvertidos podem ter alcançado diferentes benefícios em suas jornadas íntimas.

É importante estar com a cabeça preparada para lidar com a solidão, perdas, fracassos, mortes e tantas outras coisas que colocam terror no interior de qualquer indivíduo, e se eu disser que foi e será fácil lidar com toda essa negatividade perpétua serei um hipócrita e demagogo de sangue sujo. Os sofrimentos desnecessários devem ser evitados, por outras vezes quando sábios os sofrimentos nos fazem perceber que existem dores que nos projetam para a evolução, e há quem diga que o sofrimento faz crescer, eu comprovo a veracidade dessa afirmativa, por isso não nutro esperanças. Os caminhos solitários são fascinantes, são jornadas únicas traçadas pelos interessados em explorar novos mundos dentro de si mesmos, onde realidades colidem, a paz e guerra mentais mesclam-se, realidade e fantasia convergem em interseções oníricas nas quais os filtros mentais separarão a possível veracidade e dessa forma firmamos nossa introversão capaz de nos levar e trazer de volta da zona crepuscular do fundo de nosso ser .


- Mensageiro Obscuro.
Fevereiro/2011.

Foto: Logotipo da série de TV "Além da Imaginação" (The Twilight Zone, 1953-1964) criada e apresentada por Rod Serling.

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