sábado, 9 de julho de 2011

MARIA

MARIA
Romeu e Julieta?


Estávamos sentados
Eu
Lia
José
O lugar
Bar Hipódromo
Baixo Gávea
Conversávamos bobagens
Bebíamos muito
Cheirávamos cocaína
Na mesa em frente
Sentado o tal do Fábio
Namorado da Maria
Não falo com Maria desde o fim de nossa história
Contei ao Fabio as barbaridades que fiz com Maria durante o romance dos dois
Deve ter três meses que não falo com Maria
Cheguei a vê-la uma vez
Ignorei
A vi tremendo de raiva
Querendo matar-me
Voltemos ao Hipódromo
Percebi Fábio observando-me algumas vezes
O fato dele não levantar e vir tirar satisfações comigo
Deixou-me tranquilo em relação a minha infantilidade
Ele ficou com ela depois de eu ter dito tais sevícias
Certamente, ela o convenceu que era mentira.
Homens acreditam em qualquer coisa, quando estão embucetados.
Sabemos só a verdade existencial da mulher dos outros
As nossas mentem sua essência
Não contei a ninguém o observar-me dele
Foda-se
Uma morena deliciosa entrou no bar
Cabelo negro liso
Costas nuas
Um rabo muito tesudo
Deliciosamente, caminhando em direção ao toalete.
Passou por mim
Olhou-me os olhos
Sorriu
Piscou
Nunca foi tão fácil
Mentira
Mulheres são fáceis
Levando-se em conta a maioria numérica das fêmeas no mundo
Fica óbvio o desespero delas por homens
Os homens estão virando viados
Elas descontroladas
Levantei da mesa
Fui atrás do rabo tesudo
Sempre vou atrás de rabos tesudos
Uma coisa mais gostosa na mulher que a própria mulher
É o rabo
Já namorei vários rabos
Levei os rabos pra jantar
Levei os rabos à praia
Levei os rabos ao cinema
Sempre gostei de levar minha vida de mãos dadas aos rabos deliciosos das fêmeas
Na porta do banheiro
Eu espero a saída da morena rabuda
Ao sair
Vendo-me esperando
Foi suficiente
Beijamos loucamente
Entre um beijo e outro
Sugeri a minha casa
Ela aceitou
Chegando lá, trepamos.
Seis vezes
Todas sem camisinha
É ilógico
Deve ser
Assim tem sido minha ativa vida sexual
Mulheres não estão nem aí para preservativos
Querem sentir a porra jorrando dentro
Mulheres são reservatórios de porra
Não sou eu que digo
Quem afirma isso em autobiografia publicada
É a francesa e crítica de artes
Catherine Millet
Bagatela à parte
Acordarmos pela manhã
Eu e a deliciosa morena
O rabo e eu
Trepamos
De novo
Duas vezes
Ela tomou banho
Foi embora sem eu saber nada
Nem mesmo precisei levá-la à porta
Adoro mulheres independentes
...
Dois dias passaram
Eu em casa sozinho à noite
Toca o telefone
Atendo

EU - Alô

ELA - Alô

EU - Quem tá falando?

ELA - Sou eu Maria, posso falar com você?

EU - Tá maluca, tá me ligando depois de tudo que falei pro corno do seu namorado.

ELA - Tudo bem com você?

EU - Você é barata mesmo

ELA - O Fábio falou que viu você no Baixo Gávea

EU - Pois é eu o vi e daí

ELA - Por que você não falou comigo outro dia?

EU - Depois do que eu fiz?

ELA - E daí, tô morrendo de saudades de você, te adoro.

EU - Porra, eu te vi tremendo naquele dia, achei que você queria me matar.

ELA - Eu te amo

EU - E o Fábio?

ELA - Esquece o Fábio, ninguém é homem como você.

EU - O que você quer?

ELA - Quero você, me fode hoje.

EU - Claro que não, já tivemos cinco anos de doença sentimental juntos, não quero.

ELA - Eu faço o que você quiser, pode-me sodomizar.

EU - Não quero

ELA - Por favor, eu pago o motel, preciso da sua pica.

EU – Nem vem

ELA - Me come amanhã, amanhã é meu aniversário, eu dou perdido no Fábio, olha a moral que tô te dando.

EU - Tá bom, só vou te comer e você paga o motel.

ELA - Obrigada, não vai se arrepender, te amo.

Dia seguinte
Encontramos um ao outro
Abraçamos
Dei os parabéns
Fomos ao motel
Transamos como condenados
Três longas vezes
Depois conversamos
Nossas vidas sem o outro
Maria disse amar-me
Eu diria
Amarrar-me
And...
... End...
Pediu pra voltar
Esvaindo em lágrimas falou ter que confessar coisa horrível

ELA - O Fábio falou que você tava com uma morena no Baixo Gávea

EU - Quem?

ELA - Uma morena

EU - Sou solteiro, você tem namorado, tá me cobrando o quê.

ELA - Eu mandei a morena pra você

EU - Você é maluca, sabia que era roubada te encontrar. Sempre da merda.

ELA - Eu estava com raiva de você, você me ignorou.

EU - Eu já disse, achei que você queria me matar.

ELA - Eu te amo

EU - Ama porra nenhuma, por que mandou uma mulher ficar comigo, você é louca...

ELA - Ela tem aids

EU - Você é doente...

ELA - Eu estava com muita raiva de você

EU - Não acredito

ELA - Por isso te liguei, por isso estou aqui, por isso transei com você sem camisinha, agora eu também tenho aids, estamos ligados pra sempre, quero sofrer com você, eu te amo.


FIM

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

5 comentários:

Paulo Laurindo disse...

Caraca, o barato sai caro, seu moço! O velho Nelson Rodrigues deve estar batendo uma.

Unknown disse...

Olá Pablo
antes de mais , parabéns pelo blogue. :)

Gostaríamos muito que desse uma vista de olhos no projecto DVB, de saber a sua opinião, e qual o interesse em desenvolver o seu trabalho neste novo formato.

\"Transformamos\" os seus trabalhos (já editados em livro, ou não), num DVB- Digital Video Book, uma ideia original da Pastelaria Studios Productions

O projecto é recente, é uma inovação, tal como explicamos no nosso blogue:

http://pastelariaestudios.blogspot.com/


É exactamente isso, os seus poemas seriam \" trabalhados \" em DVB . Um livro que se vê como um filme!

Penso que se adequa , na perfeição, aos seus textos , poemas e pensamentos...

Prestamos, essencialmente , um serviço criativo.

A minha sugestão seria, enviar-nos os seus \"registos\", e nós faremos um orçamento.

Posso adiantar que, por ser um projecto novo e, embora o trabalho criativo (audio, voz, imagem, construção do DVB, etc) seja bastante , queremos chegar ao maior número de autores de obras escritas mesmo que essas estejam na gaveta .



Fico a aguardar uma resposta e, qualquer dúvida… estamos por aqui.

Um abraço,


Teresa Maria Queiroz

Giovani Iemini disse...

carau... hehehe.
fera.
manda ver na parada acima!

Anônimo disse...

Oi Pablo,
Mas que roubada rabuda, não é mesmo?
Confesso que no meio do texto, quando vi que a morena deu fácil me toquei que havia algo errado, pensei na hipótese da AIDS, foi dito e feito, acertei em cheio, mas ainda assim minha percepção não estragou o elemento surpresa por completo, afinal, tudo era uma trama da esposa, o que tornou o final surpreendente, vou explicar por que.
Uma pessoa comum pensaria: "Ah, essa morena rabuda tem Aids", uma pessoa observadora pensaria: "Será que essa rabuda tem aids e a ex dele que tá morrendo de raiva contratou para infectar ele?", mas a ligação da ex quebra as duas deduções anteriores fazendo o leitor achar que "pensou demais" ou que viajou, principalmente depois que ela o chama para ir no motel, o que desarma os argumentos imaginativos do leitor e que são confirmados no final de forma fulminante. Mas será que a morena rabuda tinha aids mesmo ou a esposa usou a morena como argumento para justificar a própria aids que acabará de passar pra ele e pagar de "eu te amo e sou louca por você" fazendo ele perdoar ela e ao mesmo tempo que puto se sentir amolecido pela "atitude" de amor dela, será? Quem sabe!

Valeu Pablo, aquele abraço para você!

Pablo Treuffar disse...

Sensacional, o bom de escrever é que o texto se torna independente, esse texto, por exemplo, eu sempre fiz pensando no sentido de envenenamento por causa da passionalidade do relacionamento, como digo no título, pra mim é uma versão de Romeu e Julieta usando a AIDS como veneno. Minha idéia foi falar de relacionamentos doentes e nada mais. Um dia alguém disse que esse texto era em prol da conscientização do uso de camisinha, um texto para dar a devida noção da necessidade de preocupação com as doenças sexualmente transmissíveis, ou seja, uma apologia ao sexo seguro. Quando escrevi isso nem passou pela minha cabeça, não mesmo! Agora vem essa:

“Mas será que a morena rabuda tinha aids mesmo ou a esposa usou a morena como argumento para justificar a própria aids que acabará de passar pra ele e pagar de "eu te amo e sou louca por você" fazendo ele perdoar ela e ao mesmo tempo que puto se sentir amolecido pela "atitude" de amor dela.”

Quando escrevi, tinha certeza que o personagem principal tinha pegado AIDS da morena, por vontade e causa da Maria, mas lendo o entendimento do Sergio, acho que ele pode ter razão, na verdade Maria tinha AIDS e quis arrumar um jeito de morrer com seu amado sem ser “crucificada” por isso, e daí inventou a historia da morena aidética pra se inocentar quanto a sua doença que ela passou pro protagonista.

Muito bom Sergio. De fato como já escrevi uma vez “Não é lido o escrito, é lido o entendimento do escrito, o entendimento é de cada um” isso justifica toda e qualquer interpretação sobre qualquer texto.

Podemos ir mais além, não existe o fato em si, só a interpretação do fato, o pensamento sobre o fato, ou seja, só existe o pensamento, o fato é o de menos!
Porque duas pessoas contam a mesma historia que viveram juntas de forma tão diferente uma da outra?
Mas isso é outro assunto, outra coisa, deixa a filosofia pra lá.