Esperança
vermelha
Para
Vladimir Carvalho
Prédios
e sonhos erguidos em meio ao ermo.
Acampamento
cheio, improvisado. Ritmo de cidade em
construção.
Babel nacional: maranhenses, goianos, mineiros, paraibanos,
pernambucanos,
paraenses, gaúchos, piauienses, paulistanos.
Todos
explorados, calejados, esperançosos.
A
capital da esperança acelerando na velocidade de jipes,
rurais,
decavês, gordinis. Eldorado da poeira, da arquitetura futurista,
e
do concreto armado. Terra vermelha. Espécie de solidão
corrosiva,
de luta contra o nada.
Tratores,
patrols,
de esteira, retroescavadeiras. Todos americanos,
como
o dinheiro emprestado para tocar o projeto. Matéria
humana
genuinamente nacional. Gente pobre, calejada, sofrida.
Armações
de ferro por todos os lados. Toneladas infindas de
cimento,
tubulações e brita. Areia branca, rosa, saibrosa. Mistura
rápida
nas betoneiras. Candangos correm de um lado ao outro no
canteiro
sem flores, sem plantas, sem verde. Canteiro sim, mas
de
obras. Muito suor, muita terra vermelha revolvida, espalhada.
Obras
para todos os lados. Fatigantes, massacrantes, exaustivas.
Rodízio
de trabalhadores em turnos de 12 horas ininterruptas.
Obra
24 horas no ar, nas pernas e nas mãos. Operários sem
preparo
e sem equipamentos despencam nos ares. Do Congresso,
dos
blocos, dos ministérios. Gente sonolenta, cansada, mal alimentada.
Arquétipos
de prédios e instituições que não param.
Lá
embaixo, gente preparada para sumir com corpos, com
gente,
com mortos esfacelados. Lá em cima, gente treinada para
abafar
a mídia, driblar jornais, revistas, e os críticos mais acirrados.
Dizem
que alguns jazem entre paredes, gente misturada ao
cimento
e à brita dos palácios. Candangos desaparecidos antes
mesmo
da ditadura. Conterrâneos meus, seus, nossos. Conterrâneos
velhos
de exploração e de sofrimento. Conterrâneos velhos
de
guerra.
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Lourenço Dutra
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