segunda-feira, 21 de novembro de 2011

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O INCONFORMISMO

Lito acordou cedo e foi até a cozinha, se serviu de café e passou requeijão no pão. Comeu, bebeu, tomou refrigerante e foi ao banheiro. Fez suas necessidades fisiológicas, escovou os dentes, se olhou ao espelho e lavou as mãos. Cuidou dos lábios que estavam rachados por tanta bebida vencida que havia tomado, passando uma pomada específica. Caminhou até fora de casa e ficou observando a serra, sentado à escadaria de entrada. Sua vida se reduz a poucas coisas, numa cidade sem muita razão de ser. A casa se localiza no nada, em meio a lugar algum. Só se vê um monte de grama envolta onde pastam as vacas, e a tal serra ao lado direito onde há uma gruta com cachoeira e de onde saltam de pára-glaiden. Há um mês que vive assim. Conseguiu emprego numa fábrica de tijolos ecológicos à beira de uma estrada, mas nem por isso veria problema se o seu coração parasse de bater.
Sua mulher o abandonou. Desde então não transa com mais ninguém. Além de sua mulher, sua mãe o expulsou de casa. Ele não sente muito por ter saído da casa da mãe, afinal de contas, de uma maneira ou de outra eles não tinham mesmo muito em comum, mas sente muito pela ex-mulher. Lito é um gênio, mas poucos sabem disso, sendo assim mesmo como funciona. Um verdadeiro poeta sul-americano dos tempos modernos que encontrou numa mulher tudo o que precisava e, não tivesse sido uns desvarios, ainda estariam juntos. Lito se levanta e entra pra dentro de casa, pega o telefone e põe-se a teclar os números. Alguém atende:
“Alô”
“Escuta aqui, cara, o negócio é o seguinte: vocês tão recebendo essa porra toda? Eu não vou ficar aqui escrevendo esse monte de coisas sem saber o que irá se suceder! Alemão, sinto muito!... Chamem do que quiser: “vaquinha magra do conformismo” coisa e tal, a verdade é que a gente gostava mesmo e eu ainda tenho leite pra tirar dela! Entendeu?!”
“Quem é que tá falando?”

“Você sabe quem é que tá falando, cara, não me venha se rogar de santo!”
“Porra, não fode a vida. A gente achou que você tava numa nice. E quanto àquela atendente?”

“Ah, agora essa?! Aquilo foi em caráter lúdico, qualquer um saberia! E avisa aí, avisa aí que eu quero a minha vaca magra de volta, senão eu não vou escrever mais porra nenhuma pra essa merda, tá me ouvindo?!... Passar bem!”
E bateu o telefone. Lito é o tipo de gênio que às vezes se deixa levar pela ira. Não que ele seja de má índole, mas é o fato de, acima de tudo, ser o tipo de gênio incompreendido, como a maioria dos gênios são. De um modo ele desabafara, agora. Foi até os fundos da casa onde há uma edícula. Entrou na edícula, ligou o som, serviu-se de um Curaçau Blue e se pôs a preparar um baseado. Isso o irá fazer ficar mais calmo, um pouco. Estacionou o copo na mesa e o cigarro num cinzeiro. Entrou no quartinho do fundo onde há o retrato da imagem de uma semideusa a quem confia e, num gesto ritualístico, prestou reverência pedindo que a trouxesse de volta.
O caso foi o seguinte: confiscaram-lhe a vaca. Supostamente estaria doente e contagiava um rebanho vizinho. A vaca era muito querida por ele e, embora magra, dava-lhe o suficiente. Mandou dezenas de cartas para a corregedoria, mas até agora nada. É a ex-mulher, é a vaca, tudo o torna depressivo. Voltou e bebeu o drinque. Acendeu o baseado e serviu-se com mais Curaçau, contemplando as garrafas. Ah, minha vaquinha sagrada, pensou consigo. Ele sabe que as chances são pequenas sem a sua amiga que tanto adora. Acomodou-se em uma cadeira à beira do jardim e sentiu o sol. Um rosto triste, então, pitou o cigarro... e bebeu o drinque. Não demorou muito até sorrir. Lito as vezes se lembra de coisas, e põe-se a rir sozinho mesmo.
(Escrito por Bobby, brother do Lito – em seu fantástico mundo)

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