Ganhou
uma muda. De laranjeira.
Durante
a infância, sempre enterrou os caroços de laranja no canteiro. Esperou em vão.
Sempre.
Mas
agora tinha uma muda. De verdade.
Deixou
na varanda. No canto. Onde pudesse ficar protegida do sol em excesso. Não tinha
mais quintal. Nem canteiro. Nem infância.
Era
a sua muda.
Dia
seguinte, acordou e foi olhar a planta na varanda. Estava igual. Do mesmo
tamanho. Não havia flores. Ou laranjas. Pensou que podia ser um equivoco. E foi
fazer as outras coisas da vida. Mais tarde, voltou.
Olhou
mais uma vez pra sua muda.
Com
atenção. Achou que havia uma nova flor aparecendo. Logo descobriu o engano. Já
estava ali antes, constatou. Foi dormir.
Outro
dia. Foi ver a muda na varanda.
Nada.
Do mesmo jeito. Sem flores. Nenhuma laranja pendurada. Abaixou a cabeça e
chorou baixo. Foi procurar as outras coisas da vida por fazer. Um tempo depois,
retornou.
Mas
não havia nada de novo na varanda.
Pegou
o vasinho com a muda e lançou pela varanda. O barulho da chegada ao chão foi
alto. Os vizinhos colocaram a cabeça pra fora das janelas e das varandas,
olhando pra baixo e pra cima. Procurando. Ele também.
Como
se não soubesse o que acabara de acontecer. Ou talvez não soubesse mesmo.
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