domingo, 2 de junho de 2013

O tipo de barulho que jamais se esquece

Ela não aguentava mais aqueles ruídos noturnos. Não era gato, não era chuva, não era o irmão. Não era nada.
Mas ela ouvia. E sentia.
Toda noite o peso do medo tomava conta dela.
Naquela madrugada, saiu a andar sozinha pela casa velha, os móveis estalavam. Lá fora o vento batia nas paredes querendo entrar. Mas não era isso o que ela ouvia.
Ela abriu a porta e viu a casa abandonada no outro lado da rua.
Eram duas janelas e uma porta, mas eram também dois olhos e uma boca muito nítidos para ela. O barulho que ouvia vinha de lá.
Foi-se aproximando aos poucos. Um velho poste piscando ininterruptamente iluminava o caminho.
O portão aberto era um convite. Ela não teve a coragem para entrar, mas ficou encarando aquela casa ainda mais velha que a dela.
A casa tinha certa personalidade. Dava a impressão de ter tanta maldade em si que parecia respirar um ar demoníaco.
A menina encarou, rodeou, mas não entrou. Resolveu voltar para a cama. Foi ai que a casa piscou um olho. Na verdade fechou uma janela, mas ela viu com certeza, o olho da maldade espiando sua caminhada. Correu pra cama e se escondeu embaixo dos lençóis.
A casa em frente abriu o olho, ou a janela. A porta deu um sorriso. E soltou a risada. A menina ouve a gargalhada até hoje, mesmo aos 70 anos. É o tipo de barulho que jamais se esquece.

3 comentários:

andrea carvalho deca disse...

giovani, isso não te lembra nada não?

Giovani Iemini disse...

hahaha, a casa em frente à dos seus pais.
ficávamos contando mentira até tarde da noite e imaginando horrores reais, olhando pra essa casa de olhos e boca. medão. éramos jovens...
bjks

andrea carvalho deca disse...

é. eramos jovens e criativos. ainda somos, vai?!