terça-feira, 10 de junho de 2014

Convidado Emerson Sarmento



Sonho póstumo de um medo

Dia 20 de março de 2009 às 21:30 dm, o descontrole cerebral impera sobre a capacidade dos nervos condutores do corpo humano, obtendo todo um sistema nervoso e psicológico como refém. A ciência exata(mente), de fato, explicaria?
“Gente, vou dormir!”O sereno da praia Ponta de Pedra transpassava os poros da minha pele e passeava refrescando meus ossos trêmulos, enquanto que, lá fora o vento gritava e o mar tinha uma retórica plena e gritante, já o nervosismo, se dilatava em prol do pânico diante a escuridão do quarto. Naquela noite não decifrei o concretismo daqueles (sen)tidos, a objeção de ter o coração altamente acelerado e uma alma que congela como se fosse o Alaska a 20°graus abaixo de zero. Meu corpo não estava comigo, eu chorava no cantinho mais claro do quarto observando aquilo que chamo de alma entrar em estado de sublimação, ela realmente estava se desfazendo, como se desfez de mim, só faltaria então, transmudar-se da sua confusa razão para um lugar que não se conhecia o caminho e muito menos sua nomenclatura. Mas eu estava ali, parado.
As horas se passaram(23:33 dm), e tudo era apenas escuro e frio; onde eu estava existia uma fresta com a luz externa, não era uma grande claridade, mas ao menos consegui sincronizar eu em mim, como duas peças que se encaixavam para completar o quebra cabeça. Tentei descansar, mas a agonia prostrava minha existência como uma bela flor que é pisada em seu próprio jardim.
Para tentar desviar o desvairado e insano medo, pus-me dentro da possiblidade de criação. Inventar, talvez, um amor, uma mulher, uma heroína que me salvasse dessa carnificina espiritual. Ah… criei e tinha até nome, Anabela, com todo o burburinho e intensidade que depositei na criação, adormeci numa fração rápida de uma completude de felicidade que seria ilusória até certo ponto de um futuro sonho.
Em algum momento antes do amanhecer surge um sonho em um plano de perseguição contra minha auto-análise, vários objetos transladam-se em estranhas direções. Eu estava confuso, mas nada me atingia. Entrei novamente em um estado de interpretações de meus sentidos psíquicos, mas dessa vez, adormecido.
Depois das tantas ausências de respostas, uma das eternas vertentes perdidas dentro de um sonho, foi se acalmando até denotar um belo campo, e lá longe, uma menina  de vestido alvo com os cabelos ao vento.
Nesse lugarejo bonito andei em direção a garota,  no caminho fui observando o que tinha ao redor e cheguei a questinar “Aqui é a paz?” –  tinham vários arvoredos, o céu era azul anil com brancas nuvens correndo pelo céu e flores de várias espécies cercando a tal menina. Ao chegar próximo a também solitária menina, perguntei sem acreditar “Anabela? És tu?” – e com um sorriso singelo, ela faz que sim com a cabeça – e ainda um pouco perdido pergunto “ Aqui é a paz?” Anabela novamente sorri e responde “Eu que te trouxe aqui, sua mente me ordenou isso!”. Retribui o sorriso e estendi a mão para que ela segurasse e disse para ela “Vamos, me mostre tudo aqui!” Anabela replica “Calma, não corra tanto, tudo aqui depende da velocidade de nossos passos…” De repente paramos, e naquele momento, decidimos ficar paradinhos ali. No sonho sonhamos com a eternidade.
Uma interferência brusca ocorreu ali, e o que para nós era eterno, se derramou como a areia da ampulheta. Não pude enxergar muito bem o que acontecia, mas ali na frente,  tudo estava cinza e um tanto avermelhado;  as flores, os arvoredos estavam aos poucos desfalecendo,  pedras loucas e perdidas vinham em nossa direção. Uma das pedras vinha em direção a Anabela. Tive que intervim, e me atirei na frente dela. Pela primeira vez lutei contra mim, e julguei-me herói. Não lembro de dor, senão o “paff” atingindo minha testa.
Uma cachoeira vermelha pinta minha face, o encarnado era quente, mas eu sentia muito frio. O silêncio e a imagem de Anabela na minha frente eram só o que me restavam e aos poucos foram sumindo, sumindo, sumindo…
Já sem forças caio de joelhos, e o preto saciado sentiu-se realizado tomando conta de mim naquele momento. Enfim, achei que iria acordar…
Às 6:33 da manhã do dia seguinte o telejornal anuncia:
“Homem é encontrado morto com uma pedrada na cabeça de dentro para fora…”

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Um comentário:

MPadilha disse...

Meu caro Émerson! Vc por aqui? Que legal! Acompanho o Émerson há anos e adoro o que escreve! Muito bom! Seja bem vindo!