quarta-feira, 16 de julho de 2014

Adão Banguela

Ele acordou com um aperto na goela
com os latidos da cadela
e tratou de se levantar

Lavou a cara e limpou suas remelas
com seu corpo magricela
um emprego foi procurar

Adão Banguela
como era conhecido
entre rodas de amigos
não era muito de falar

Mas sem cautela
ele mandava, aborrecido,
em função do apelido
todos pra aquele lugar

Entra na fila e o povaréu se acotovela
todo mundo se atropela
pra família sustentar

Leva porrada e tanto chute na canela
sua vista desnivela
e fica a cambalear

Adão Banguela
vai andando indignado
acha o bar de seu agrado
e tenta se recuperar

Por bagatela
ele consegue um destilado
e fica logo baleado
bebendo até fechar

Pega a garrafa e se dirige pra ruela
entra na casa amarela
com a fome a lhe chamar

E na cozinha ele derruba uma panela
engole pão com mortadela
tentando não se engasgar

Adão Banguela
solitário e acabado
desvalido e mal-amado
então resolve se deitar

Apaga a vela
e num vislumbre embaciado
vê com os olhos marejados
mais um dia a terminar.

Um comentário:

JOSE-MARIA disse...

Muy evocador, gracias por compartirlo.