quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Dia de Lourenço

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- não enche! - lourenço, impaciente, rejeitava toda e qualquer tipo de aproximação por parte daquela turminha aborrecente de imbecis. - não dou autógrafos para principiante, vaza! - irritou-se com uma delas, enquanto acendia o dona-flor baiano. - tu me paga, Gio! - condenou, em pensamento, o patrão por ter caído na carapuça - nem mil anos me farão esquecer a guilhotina que armaste pra mim... - concluiu.

aquela tumultueira de moleques correndo de lá pra cá infernizava a vida de qualquer um. mas antes era diferente, lourenço apenas cuidava da faxina, se encarregava de recolher estilhaços de copos quebrados e outros afazeres semelhantes. mas agora não, saiu do anonimato por sua recente aparição num tablóide londrino que anunciara seu que seu último romance seria transformado em filme.

- bela merda - criticou-se, ao ser questionado sobre o roteiro do filme - aquilo lá é isso aqui, uma bosta! entende? - tentou explicar - um bando de retardados querendo aparecer para uma câmara desligada, saca? um hospício? 'um estranho no ninho' lembra? aqueles malucos assistindo à tv desligada! é o que é isso aqui!! um bando de doidos sem noção alguma do que fazem. - finalizou.

ressentido, levantou-se vagarosamente e foi ao banheiro. a pretensa mijada deu lugar a cagada 'humanitária'. a tudo aquilo que ouviu e àquilo que ouvirá escapava-lhe o eco de sua merda caindo n'água. o barulhinho de seu peido tornou-se a sonata da ópera dos bdeianos. ninguém imaginava que aquele faxineiro, hoje vestido a rigor, também tinha seu dia de astro.

- adeus! - despediu-se ao limpar o traseiro com uma das folhas de sua última antologia...
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