terça-feira, 19 de maio de 2015

Bye Bye, Brasil

Leozinho havia contado à sua família sobre sua decisão. Apenas seu comentário final não agradou a sua tia-avó e madrinha Eleonice: “Vou embora daqui para nunca mais voltar”. Leozinho se referia ao Brasil. O que Eleonice se perguntava era: “mas por que esse ressentimento todo? Afinal nosso país é tão lindo, não tem terremoto nem tsunami, o clima é maravilhoso...” – claro que isso era o que a madrinha de Leozinho achava. Já ele, mesmo com apenas 24 anos de idade, tinha suas razões para sentir o que sentia por seu país.
E foi através de uma pequena carta, escrita a caneta Bic, numa folha de caderno com linhas azuis, que Leozinho escreveu estas palavras e as entregou à sua mãe antes de embarcar no avião que o levaria para fora do Brasil. Assim Leozinho escreveu:

“Querida família,
Apesar de todo o meu amor por vocês, estou deixando o nosso país
Que hoje, já não amo mais
Toda a magia de criança se esvaiu
Como numa promessa vazia,
Uma após a outra, campanha após campanha
E a solução fica cada vez mais distante
Enquanto a favela vai inchando
A bala perdida pegando
A impunidade aumentando
Nossa, sem querer acabei rimando...
Ah, deixa pra lá
Vocês sabem que não sou poeta mesmo
Não vou mentir para vocês,
Nem para ninguém
Pois não quero tirar vantagem dos outros
Quero continuar tendo a mesma educação
Que aprendi com vocês, papai e mamãe
E pô-la em prática em um lugar que a valorize
Onde a oportunidade exista para o trabalhador
Onde os sonhos se tornem, de fato, realidade
Ou não – eu não sei!!!
Mas vou nessa do mesmo jeito,
Só para conferir
Até porque,
Não quero envelhecer aqui
Criticando o que até hoje
Nunca ninguém tentou sequer mudar
Rindo do que é para chorar
Se é para ser rico (e quero ser rico, viu papai e mamãe?)
Que seja num lugar menos desigual.
Acho que, sinceramente
Não me sentirei tão mal”

Ao final da carta, lida em voz alta para a família de Leozinho por sua mãe, Eleonice se viu emocionada. E, desta vez, deu toda a razão ao seu sobrinho-neto.

5 comentários:

jorge & miria disse...

Enfática e realista a crônica! Faço minhas todas as letras desse relato que representa hoje a realidade de desencantamento de grande parte do povo do país...
Bela sensibilidade ao abordar o tema, caro amigo André!

André Bortolon disse...

Sim, caro Jorge, é o destino que muitos de nossos concidadãos tomam... justo não? Um abraço à você, e obrigado pelo comentário!

JANE disse...

Muito boa crônica, real, absoluta!!!! Imaginei você partindo, para ir em busca dos seus sonhos!!! Abraço !

Cleide disse...

André, mudanças fazem parte de nossas vidas...No momento existe um "mundo"que está acabando e outro que está começando, e as pessoas naturalmente costumam lidar com isso de maneira que muitas vezes ferem os que ficam. Mas a vida é assim mesmo . Lindo ! Fico cada vez mais surpresa com suas crônicas, parabéns !

Adalgisa disse...

Tens nas veias o dom da escrita. Surpreendo-me mais e mais a cada leitura que faço das suas crônicas. Parabéns, meu filho!