sexta-feira, 7 de agosto de 2009

prosa e poesia


A força da palavra está na ponta da língua.

Há de se exercitar esse músculo saboroso, p’ra que nossa prosa seja espontânea, como o soco de um moleque de rua, na cara de um executivo dentro de seu carro, parado num sinaleiro da cidade de São Paulo.

E p'ra que nossa poesia seja gostosa e livre, como moça de 20 anos, de férias com amigas em Balneário Camburiú.

Contundente.
Inesperada.
E impossível de se evitar.

Faço dessas... minhas palavras.


Robisson Sete

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Cinzeiros (da série "Úteis & Fúteis")



Execro pensamentos bestas deflagrados por comentários idiotas de pessoas e objetos imbecis que nada sabem acerca de mobilidade e calor. Minha vida inexistente permeada sempre foi e será de movimento, emoção, energia, sentimento e aventura. Pra lá e pra cá, no vai-e-vem, acompanho, sempre calado, o ritmo, por vezes frenético, por vezes "piano" dos fumacentos humanos a soprar os fumos dos fumos coados e escoados por seus pulmões azeviches. Curto os calores, dos homens, dos fumos. Tem os cubanos, fedor assaz, calor demais, fumante loquaz. Tem os mentolados, aspirados por viados de olhos amendoados e mancebos amancebados com encéfalos desvairados. Tem os baratos sem filtro, subproduto destinado ao mercado interno cognonimamente chamado populacho. Tem variegados mais além. Malgrado malgrados, com grado ou sem, vêm todos a mim, aquecer-me, inocular-me vida das e de cinzas. Tão-só peço que me não peçam que aprecie ébrios. Atabalhoados, dificulta-lhes sobremaneira manter-me preso entre os dedos. Invariavelmente, deslizo por suas frias mãos úmidas. Destroço-me com estardalhaço. Grito, mudo, ao surdo mundo imundo rotundo. Desprovido de som e de forma, encerro meus dias de glória no fétido lixão. Sina ingloriosa. Vilipêndio de cadáver. Absoluto desrespeito. Sacrilegio o destino de meus algozes: apinhados de tubos, sarapintados de manchas, amarelecidos, macilentos, estúpidos, fumarão à sorrelfa, aspirarão a desgraça através de diminutos buracos na traquéia, olhos buliçosos e néscios. Nostálgicos, súplices, buscar-me-ão. Em vão.

Carlos Cruz - 28/02/2009

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

cai o pano

Eu devia engolir a fala

do modo que engulo o choro

e o retenho com um nó na garganta

e outras linhas emaranhadas

Mas a palavra me desata, me destorce

faca afiada me destrincha expondo trapos

desfia o alinhavo

da figura adiquirida em banca de retalhos

mostra-me em cada laivo a artesania

os adereços de rebotalhos

A isso que sou

boneca de sonho

títere do som

não cabe reter a palavra que resvala


Iriene Borges

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Instante

Não há anúncio
nem despedida

tudo flutua num seco aroma asfíxico

e no inverno,
nem mesmo sei quem é a neblina...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

CONSTRIÇÃO


ou Medusa narcísea



Como se fosse sugada, sentiu os músculos do animal que, vagarosamente, centímetro por centímetro a devorava. Nesse momento, o reflexo no lago lhe desvendou a Medusa, a dor dos ossos das pernas e do quadril esmigalhados não mais lhe incomodava... apenas, a formosura de se ver semi-engolida por besta excomungada de tempos bíblicos lhe ameigava. Penteava os cabelos, pois lhe faltavam serpentes.

novo Blog do autor: WWW.escritorflaviomello.blogspot.com

e-mail: prof_flaviomello@hotmail.com

domingo, 2 de agosto de 2009

Zig-Zag - Flá Perez

Para quem
acredita,

a verdade
seja dita.


E se você
não aguenta,

que a mentira
seja benta.

Do tempo

Hoje eu estava olhando o álbum de fotografias. Sabe, leitor, quando há rostos inequecíveis que você já havia enterrado no passado e eles ressurgem em alguma foto? Como eu pude deixá-los para trás; mas, se não deixasse, como eu poderia ter seguido em frente.

Ah, leitor, você não conheceu Hamir, o meu protetor. Ele tinha a sabedoria simples que só a vida simbiótica com a natureza proporciona; sabia quando ia chover só pelo vento, conhecia a índole das pessoas só pelo sorriso. Hamir adorava cenouras e fazia pouco caso das maçãs; sempre me carregava até em casa quando passeávamos ao ar livre. Certa época ele foi rebelde, mas jamais perdeu o brilho ou a doçura. Ah, leitor, ele, quando o conheci, era um árabe velho, serviu-me até quando precisou partir. Hoje eu achei um retrato nosso, não há nada na foto além de um nome e minhas lembranças.

O tempo passou, afinal ele está sempre a passar, no entanto alguns não passam com ele. O tempo não pára, nem espera. Que ironia é constatar que o tempo é a única certeza eterna nesse mundo. Só havia o tempo e as pedras, depois só o tempo, as pedras se consumiram em pó.

Até as sensações se vão com o tempo. Eu tinha uma vizinha que se deliciava com o bolo de creme da minha mãe, até o cheiro enchia de água a boca dela. Então a mãe dela aprendeu a fazer o tal do bolo, dois meses depois ela passava mal sóde houvir falar dele, dizia que estava enjoada de tanto comer.

O tempo é uma espécie de deus, não concorda, leitor? Repare:o tempo tudo sabe, está em todo lugar, sempre existiu, tudo pode, é a vontade do destino. Senão do destino, de Murphy. Cheguei a conclusão que o Tempo inventou até o amor. Qual o propósito? Acho que o tempo é um Deus sádico. Nós somos fantoches fadados às travessuras desse Menino-deus. Mas, sim, só o tempo pode trazer às chuvas, ou levá-las embora. Ele é quem fez férteis algumas terras e desertas outras.

A questão em si não é o porquê temos vida, porquê a ganhamos. A ciência já mostrou o que é a vida. O que nos instiga é por que temos consciência. Por que sabemos que estamos vivos, que morremos, que procriamos porque vamos morrer, por que somos racionais, seres pensantes, críticos,personalíssimos. Hahaha, leiror, não é engraçado a ironia? Não entendeu, leitor? Só criamos consciência com o Tempo; mas não está nesse detalhe a totalidade daquela, mas que é uma criação de uma consciência social.

Pois é, leitor, essa conclusão me lembra certa vez que eu quis pegar uma varinha de bambu a mais e a professora me repreendeu porque assim não sobraria para as outras crianças. Mas não é isso que eu quis dizer, não dessa consciência, não da consciência ética, leitor. Foi da consciência de ser a qual me referi noutra hora, na verdade nem na de ser, mas na de sermos. E como ser ou sermos é cruel, não? A consciência de que esta um dia acabará, ou não, sei lá, mas essa incerteza é a mais cruel de todas, e é isso que mata a humanidade dia a dia: as guerras, os estresses, as depressões, as fomes, tudo.

Voltando ao assunto das fotos, é cruel sabê-las quando aquele rosto já se desfez em osso e nem consegue saber que sentimos saudades, revivemos as lembranças, amamos. Amor... devo ser uma das cronistas mais românticas que já se houve, afinal, nem creio numa vida sem amor. Pudera, se mesmo Schopenhauer amava, quem sou eu para desacreditar o Amor? Não acredita que Schopenhauer amava, leitor? Que descrente! Se não amava por que viveria tanto? Por que se preocuparia em propagar seu canto para a humanidade? Ele amava o próximo, a seu jeito, mas amava. E eu? É mais fácil listar o que não amo, mas de nada interessa o que eu não amo, não para mim, pelo menos. Sabe, leitor, ame de se entregar, não ame pela metade porque você apenas vive pela metade. Perca, sofra, isso também faz bem a alma.

Eu já perdi tantas vezes que nem sei mais contar, e nem posso. O que perdi não é número para virar estatística. E não é porque perdi que deixei de amar. E nem deixei de viver porque dedico meu respirar para outrem. Alguns dizem que altruísmo é não viver para si, eu acho o contrário, viver só para mim seria tão egoísta que me privaria da própria vida. Mas efim, esse é um assunto para uma próxima conversa. Desculpe-me pelas divagações, leitor, mas é assim o meu raciocínio, a coerência é subtendida.

sábado, 1 de agosto de 2009

crônica DOIS GOLS

Fazia tempo que eu não jogava, achei que iria dar vexame, furei logo na primeira bola. Nem me abalei, sempre fui ruim mesmo, posso fazer meu máximo que nunca serei nem ao menos um jogador mediano, então relaxei e... fiz dois gols.

O primeiro foi bem bonito, driblei dois zagueiros e o goleiro antes de empurrar para a rede de canhota. Foi bonito pois não sei driblar e sou destro, a jogada aconteceu meio que por mágica. O segundo gol foi de oportunismo e também de perna esquerda. Entrei em êxtase. Por momentos pensei em Ronaldo como um igual. O poder da adrenalina do futebol.

Em casa, falei pra patroa: - Fiz dois gols. “Parabéns”, ela disse, e me beijou satisfeita. Dias antes ela viu a expressão de felicidade dum reserva que fez o gol da vitória na Seleção. Percebeu que era um prazer próximo ao orgasmo, só que muito mais difícil.

Fiquei pensando nos gols, relembrei cada milésimo de segundo, todas as decisões que tomei quando a bola estava nos meus pés, os problemas em superar os zagueiros, a necessidade de transpor a barreira do goleiro. A mágica funcionou e cumpri meu objetivo de maneira sensacional (às favas com a modéstia). Eu estava relaxado, acreditava em mim e o risco de errar não me importava. Seria isso uma fórmula de sucesso?

***

Meus amigos me felicitaram pelos gols no boteco depois da pelada (o verdadeiro motivo do futebol), fiquei bem agradecido e um tanto inflado. Antes de pisar no campo mais uma vez, pensei na responsabilidade em jogar bem novamente nesta volta aos gramados. Ponderei e percebi que minha responsabilidade era nenhuma, tudo o que eu queria era relaxar e me divertir. Então fiz dois gols outra vez.

O primeiro, bem bonito, parecido com o do jogo anterior. Nosso time ganhou quatro partidas seguidas, um recorde. Fui direto para o banheiro: chuveirada e bar. Queria beber mais felicidade.

Pequenas coisas representam tudo no final das contas. Por que dois golzinhos me deixaram tão feliz? Acho que eles são pequenas vitórias nesse deserto de derrotas que é a vida, por isso me agarro tanto nessas coisas que agradam. É difícil alcançar a tal adrenalina de prazer que o gol injeta no sangue. É uma explosão de triunfo por toda a batalha imponderável. É só você e o infinito, mas você o dribla e vence. Fazer gol é tão bom que deveria ser obrigatório no ensino médio.

***

Ontem só fiz um! Mas foi de virada, lá onde dorme a coruja. Nem agüentei acabar toda a pelada para beber minha cerveja, tava cansado e louco para emendar um prazer seguido no outro. No fim, só lembramos mesmo daquilo que é marcante, pro bem ou pro mal.

– só fiz um. – Disse e a patroa ainda falou “parabéns” e me beijou. Ela, esperta, sabe que um é melhor que nada. E um, nessa imensidão de ausências que nos cerca, pode ser a diferença entre a satisfação e a miséria.

- é, tem razão, foi ótimo. – Falei, e guardei para mim o pensamento “e nem contei que foi um golaço”.

ܔܢܜܔa lenda do corpo seco


Uma produção da Editora Biblioteca24 x 7, em breve lançamento na internet.
ܔܢܜA LeNdA Do cOrPo sEcO(๏̯͡๏) > CAPA DE RENÉ OCINÉ


terça-feira, 28 de julho de 2009

A rua





Para as pessoas que passavam por entre os postes daquela rua
A brisa do ar não era nada mais que algo obrigatório
As calçadas sujas e esquecidas pela pressa
Nem mesmo se notava um buraco novo
Às vezes quando um pé descalço passava
Admirado com a riqueza do cimento milenar
Pedia licença para as pegadas feitas por sapatos granfinos


As mãozinhas das crianças
Eram as únicas a encostarem-se ao chão das grandes calçadas
As mães rogavam pragas a cada toque
Ávido por um passeio até a boca
E as ciganas das ruas diziam
Só mesmo uma criança para saber o verdadeiro gosto da cidade


Os mendigos que xeretavam
Cada lixo
Cada canto
Procurando como grandes caçadores de tesouros
Encontravam na bendita rua
Sua cama
Sua família
E suas carências com ela compartilhavam


Ontem passei pela rua
Por entre os postes altos como antigas árvores
A cada passo me encontrava mais próxima de um universo egoísta
Passei por entre multidões sem rostos
Por animais e lojas sem nomes
Mas quando vi seus olhos
Ofuscados pelo forte sol em meu rosto
Quase me perco na rua conhecida


Fui embora com a lembrança de sua boca
Dona da praça daquela rua popular
Que de lá sei que só sai disfarçada
Pra me encontrar na lambida de um sorve
Da sorveteria da rua
De grandes postes
De mendigos putrefatos
De crianças remelentas
De ciganas salafrárias
De pessoas mascaradas
Do amor da lúgubre visão
De mim
Em você



Audrey Carvalho

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Fim de Noite

Fim de noite. Ele abre a porta. Ela entra em casa. Segundos depois, ele também entra. Ela vai direto para a geladeira, pega uma garrafa de Coca-cola de dois litros, quase no fim, e bebe o restinho direto do gargalo. Ele vai ao banheiro, faz xixi, lavas as mãos e vai para o quarto. Enquanto ele tira a roupa com cheiro de cigarro, é ela quem vai ao banheiro e faz xixi. Ele veste o pijama enquanto ela lava as mãos.

Ele liga a TV, começa a zapear pelos trocentos mil canais em busca de algo que mate a insônia, de preferência, ou, se não der, pelo menos mate o sono. Ela liga o computador, lê emails, abre o Orkut, entra invisível no MSN para ver se tem alguém com quem valha a pena conversar sobre o que quer que seja. Mas é claro que às cinco da matina só estão online os losers completos. “Eu inclusive”, pensa.

“Droga de festa. Gente mais chata”, diz ele para os botões do controle remoto. “Festa mais chata. Droga de DJ”, ela pensa. Morto de tédio, mas ainda sem conseguir dormir, ele resmunga, “Que se dane” e serve-se de um uísque. Ela desliga o computador, pega a Veja de duas semanas atrás, vai para o quarto e acende um cigarro que fuma enquanto lê o Mainardi pela décima vez. Agora é ele quem liga o computador, abre um arquivo de trabalho e tenta dar uma adiantada nas coisas da semana que vem. Claro que morto de cansado – e não exatamente sóbrio – tudo o que fizer vai ter que fazer de novo outro dia. Mas pelo menos ocupa o tempo. Ela joga a revista no chão, liga a TV do quarto e assiste a um capítulo de Allie McBeal que já viu tantas vezes que sabe os diálogos de cor. Mas ocupa o tempo, pelo menos. E preenche o silêncio.

Ele desiste de estragar trabalho, fecha o Word e abre o Orkut, lê emails. Vai ter outra festa amanhã. As mesmas pessoas, o mesmo tipo de lugar. Gosta das pessoas e gosta do lugar. Mas já está meio saturado tanto de umas quanto do outro. Melhor ficar em casa, ler alguma coisa. Mas, no fim, provavelmente vai acabar indo, sim. E morrendo de tédio. Ela, que já sabia da festa, tenta resolver se está ou não com vontade de ir. Passam os créditos finais de Miss McBeal e ela dorme embalada pelo sotaque horrendo do Dr. Phil. A essas alturas o sol já ameaça raiar e ele desiste de dormir na hora em que o zelador arremessa delicadamente o jornal contra a porta do apartamento.

São perfeitos um para o outro. Pena que, mesmo morando na mesma cidade, no mesmo quarteirão, nunca vão se conhecer, nunca vão se apaixonar, nunca vão ter três filhos lindos e quatro netos. Não vão montar casa juntos, nem viajar juntos para Barcelona, nem ver juntos o pôr-do-sol em Santiago, nem envelhecer juntos, nem esquecer juntos das coisas que viram e fizeram juntos.

domingo, 26 de julho de 2009

Tempo Morto

CESAR VENEZIANI

teu corpo banquete em carne e fruta
tua gruta caldo de cultura
é pura mostra do prazer paraíso
te preciso não só pra vida
contida em massa e pensamento

teu canto sonata gemido
emitido do atrito de sensações
sem padrões surgidas do nada
e do tudo que é nós dois
depois e antes pura magia

tua ausência é tempo morto
caminho torto campo seco inerte
que verte vácuo inócuo
e me torna eterna espera

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Verso tinto


[imagem: autor desconhecido]

noite fria à beira-mar,
uma copa e uma cabana
quente pra declamar:

versos livres e soltos
assim como meus cabelos
encaracolados em teu corpo

coberto com seda vermelha,
que induz um toque baterista,
que não pára nem a peia
até se tornar tão intimista

e arrancar um beijo
do meu tinto anseio,
beber um gole de mim
pra descobrir meu segredo


Autor: Lena Casas Novas

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Silêncio de Alma...


A face que quente do calor da conversa quase que emitindo fagulhas da excitação
que o momento proporcionava de forma violentamente
brusca sente o sangue fugir abandonando totalmente o semblante exposto.
O que ate então fora fogo e ímpeto se entrega agora a lividez e total
perplexidade enquanto lágrimas descem impactando a mesma face.
Não é dor ou nada que se possa traduzir alem de perplexidade absoluta.
O que era entendido e esperado como soma e conclusões compartilhadas
e associadas passam de súbito a solidão do ser que se vê no meio do nada,
abandonado pra morrer sem nenhum por que.
É algo perto do que sem entende por morte que chega sem doença,
sem aviso prévio.
Ela só vem no meio de um lindo entardecer e aborta a mais sonora gargalhada.
Percebe-se dessa forma: só no meio do vazio, como um grito que perdeu
a força antes de sair.
Assim a alma que agitada brincava de bailar com a outra, agora posta num canto qualquer se amontoa sobre si mesma,
apenas se amontoa.
Porque toda vivacidade se foi se um momento para o outro,
em menos que um piscar de olhos.
O beijo que unificava bocas, agora sela o silêncio imposto.
Apenas interrompido pelo constante soluçar incontido.
Secam as lágrimas, já não há mais o que chorar nesse silencioso vazio de alma que abandonada assim perdida se deixa
Só ficar...


Catiaho/Reflexo d ‘ Alma

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dilúvio

Quando os ventos da crise sopraram forte e a linha de pobreza começou a subir, meio mundo foi inundado.

A maior parte dos que viviam na parte de baixo do mapa afogou-se.


terça-feira, 21 de julho de 2009

Poema só

Desejo um poema
Em que a luz da lua
Serpenteie a sua aura fria
No absinto azul
Marinho.
Fada verde
Tecendo mandalas enigmáticas
Perfumadas de ópio e alecrim.

Desejo esse poema só para mim.
Sem o sol causticante de amarelo rajado.
Na penumbra de um sono caiado
Me exorciza a lua negra.

domingo, 19 de julho de 2009

Almas várias e dedos.

(Imagem retirada do Google)

Almas várias e dedos.

Entre dor e loucura,
os risos, sábios camaleões,
nas pontes solitárias
rompem o silêncio/tempo.
E as horas, crianças astutas,
mastigam dos segundos,
simbólicos cortes da vida,
obra refeita caminho
nos dedos dos Poetas.

Eliane Alcântara.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tez necessária

Da lástima em forma líquida
sobra o rímel escorrido na face

judia!

Envergo(nho)-me
pelas chibatadas
rumo ao campo
de concentração

E de novo tentar entender
é correr atrás da sombra
(vão)

Rosto borrado
atualmente antigo

A guerra nada mais é
que a menina que rouba risos

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ode ao teu Olhar

(Sonia Cancine)
.

Em silêncio ouço fortes gemidos
Que rompem a sombra da noite
Repleta de estilhaços de dor.

Dos instantes em que te vejo
Guardo-te no olhar e contemplo.

Das serpentes dos teus olhos claros
A íris bucólica do teu olhar
Agoniza-me e me seduz.

Olhos que prometem me cegam
Como se fossem reflexos de espelho.
Colhem lírios e embriagam-se de absinto
Afastando-me do ninho das ninfas.

De súbito, enxergam ao longe uma flor
Jamais vista, a mais bela, e
Tua luz é brilhante (mente) intensa.

Do alto dos montes, delirantes súplicas
De espírito intranqüilo, de grata prece
Abro, então, uma cova no teu olhar

Rogo-te o calor
A incendiar-me as entranhas e
Sob a carne impenetrável
No pulsar do amor

Olhos que aos poucos fenecem
Causam-me - medo.

Êxtase


Quem me dera...
Ao menos, uma vez

O prazer de sentir
O estado latente, dos desejos
De sensações inexplicáveis
Vividas num momento

Único...

Sem limites impostos
Sem preocupações expostas
Transcendente,
O que chamamos razão

O surreal, a se tornar físico e
Em cada suspiro delirante
A realidade bem longe

Por breves e inesquecíveis
Instantes e

A imaginação
Transportada
Para planos
De puro sentir...


(Janderson Cunha e Ro Primo)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mercadores de Almas

Párias malditos, semeadores da Mediocridade Humana,
Prisioneiros de suas crenças decadentes e vazias,
Acorrentados em dogmas e conceitos inferiorizantes,
São moralistas e contraditórios em negar sua realidade.

São picaretas e intolerantes, demonizadores de culturas,
Proselitistas religiosos, fundamentalistas arcaicos,
Pobres seres estagnados, mortificados em seu credo lixo,
Crentes no discurso apologético de um livro morto.

Grandes inimigos da razão e lógica, caçadores da perfeição,
São todos especistas, hipócritas, demagogos e machistas,
Cultistas fiéis do deus Dinheiro e seu poder distorcido,
Eis seu deus material e suas crias de almas viciadas e torpes.

Lânguidos são esses tristes fundamentalistas radicais,
Vestem seus símbolos de decência e abraçam seu diabo,
Travestem seu deus de esterco em mercadoria em templos,
Compram, vendem e alugam almas em prol de alienações.

Mercadores de Almas são os vermes consumidores viscerais da Humanidade.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2007.

-- Glossário --


Mercadores de Almas = nome pejorativo para líderes religiosos proselitistas, aplicado para definir clérigos católicos, pastores cristãos, aiatolás, gurus e assim por diante. Esse termo é associado a líderes religiosos manipuladores de massas de alienados, escravizados, manipulados e limitados pelo Sistema.

domingo, 12 de julho de 2009

na hora do pico

.
eu perdi meu lugar no trem
mas tudo bem, contanto que seja
por um bocado de gramas.

é que tenho certa necessidade
de que não seja vão
o decoro perdido, na hora do pico.

por favor, não me perturbe
na hora do sono
que me chega derradeiro.

limpe meu braço, segure minha mão
avise minha mãe
que venha me buscar...
.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

efígie




cansado de mundo
guerras e presságios
vem e conta sonhos
deixa essa efígie
que pressinto
nas tardes perdidas
em que divagas

ouço tua voz
vem do mar
num sussurro

não explico
só te escuto
num segundo

não discuto
miro teus olhos
incendiados de promessa
vazia e dolente
plantada no azulejo
dessas viagens viúvas

estranhas remessas
desejos e desvarios
que o vento sopra

beijo,teu cenho
de súbito, tristonho,
com temor, prevejo
com esse ato
que é hora de ir



segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vida - Edson Rufo

Simplesmente Medo

SIMPLESMENTE POR MEDO...

Edson Rufo

Portas que se abrem
Sonhos que se confundem
Soluções que não se encontram

Portas que se batem
Olhos dispersos
Abraços trêmulos
Passos inseguros

Portas que não se fecham
Objetivos se concretizam
Sucesso que vibra
Conquistas, alegria, estima

Portas que se trancam
Definitivas
Simplesmente
Por medo de buscar, de abrir, de bater




BLOG DO ESCRITOR, PALESTRANTE E TERAPEUTA:
escritorpoeta.blogspot.com

domingo, 5 de julho de 2009

Lua Negra

O grito torna palpável a solidão.

A estrada atada à linha fugidia,
o topo surdo da montanha
ou um nicho no granito
não ratificam tanto o ser só
quanto gritar na multidão.

O grito é faísca
de massa cinzenta em combustão,
imperceptível na tensa claridade.

O grito é rito
de intriga e desintegração
a riscar e trincar o obscuro.

Se a poesia lambe a face iluminada
o grito tange a lua negra,
sem arrecadar simpatia.

Sabe a censura da razão
e a ovação da boemia etilizada.

Seu palco é a rua, o relento,
entre a bênção das estrelas
e o irromper dos ratos nos bueiros,
onde qualquer cadela vadia
cuida ensinar-me amar a lua

Iriene Borges

sábado, 4 de julho de 2009

Um corpo enforcado


Desceu a corda lentamente pelo madeiramento que era suspenso por duas paredes, passou o laço pelo pescoço, deslizou o nó corrediço até atingir a nuca. Voltou-se para o espelho, olhou atentamente tudo a sua volta, suspirou, subiu no banquinho, se ajeitou, outra vez respirou, desta vez, mais fundo, virou o pescoço de um lado para o outro, relaxamento, fechou os olhos, respirou, novamente o pescoço, sentiu o vento marítimo, o som das ondas, ouviu o gracejo noturno. Balançou os pés para frente, para trás, apertou os olhos como quem diz, Estou com medo, o banquinho fraquejou, arqueou, lentamente, foi indo ao chão, árvore sendo serrada, ponte ruindo, castelos tombados... um corpo enforcado.

Um arrepio com razão


pintura: Diva Benevides Pinho - Avenida Paulista em uma noite de inverno (2º da série 450 anos de São Paulo








Há tantos dias
me chama...

Que há em mim?

velando as horas
contando os passos

assim
sem tropeços
desejo expresso

um café
um cinema
um passeio na Paulista
um sorvete de pistache

será?

você diz que à noite tem extras
e posso pedir

mais

e mais

e mais...


quinta-feira, 2 de julho de 2009

Flor de Cacto - Flá Perez

À gota
sobre o sulco da seca
a boca pálida e sem beijos
sôfrega espera.

Não choves

e o rio em meus olhos
torna em veios.

Banho-me

no cio que deixaste
em minhas veias.

Aguardo ao relento.

Intenso,
o Sol de amanhã
–que raiou ontem–
virá em contra-senso,
umedecer o pó
que tenho dentro.

Guardo que te esqueces...

E de manhã irá brotar
estranha flor
de gelo e fogo

que ainda
inteiramente desconheces.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

mojobooks

a editora virtual mojobooks irá publicar minha história A BALADA DE ALESSANDRA. tô satisfeitão.
a proposta da mojo é editar livros baseados em discos. o meu tem o ídolo WANDER WILDNER como inspiração.
em breve...!

Viva!




Não posso mudar o mundo,
Nem colar o dedo que está faltando
Azar da vida, que estão roubando
Sem volta, nem troco, só cobrador...


Devolve a virgindade, sem dor
Dê-me a simplicidade e ingenuidade
Para não te ver chorar...


Deixe-me gozar, sou eu que quero
E quando o absurdo de teu membro
Cair prostrado ao passar dos anos
Dê o ânus, mas não desista do prazer...


Ou se enterre de vez
.

A LeNdA Do cOrPo sEcO(๏̯͡๏)
1° Livro Impresso Da mE morTe - LaNçAmEnTo eM BreVe!!!(๏̯͡๏) /