terça-feira, 17 de abril de 2007

Meu Cheque Pré-Datado

“Eu passei toda a minha vida sondando a morte. No final, eu sei que tudo o que eu pensei estava errado.”

Essa era a frase que eu tinha escrito naquela noite antes de fechar os olhos e dormir.

Acordei numa espécie de Banco.

Estranho.

Estava sonhando?

Eu era o último de uma fila gigantesca. Não precisou nem de um minuto para mais umas cinco pessoas aparecerem atrás de mim. Nem os vi chegar. Virei o rosto e eles apenas estavam lá.

Notei que um homem, lá na frente, estava ao caixa, atendendo um por um. Não havia mais ninguém prestando esse serviço. Ele se vestia todo de branco, tinha um cabelo curto preto e um bigode engraçado. Fiquei observando-o e percebi que frequentemente ele sorria e entregava alguma coisa à pessoa da vez. Eu não conseguia discernir o que era. Às vezes era algo volumoso, outras vezes quase nada, praticamente simbólico.

A fila andava.

Alguns saiam sorrindo, outros chorando; estes últimos eram a maioria.

Olhei para trás e a fila estava quilométrica novamente. Eu devia estar no meio dela.

Não compreendia nada ainda, mas minha curiosidade aumentava. Pedi informações a quem estava na frente e nas costas, mas ninguém respondeu. Sinceramente, não sei nem se me escutaram. Não pareciam escutar-me. Fixavam o olhar para frente, talvez ao caixa, talvez ao nada.

Resolvi acalmar-me esperar até ser atendido.

Não demorou tanto quanto se pode imaginar. O atendente era um funcionário bastante eficiente.
Chegou minha vez.

- Olá... – falei timidamente.

- Senhor, gostaria que você me desse o papel que está no seu bolso. – ele me falou.

Fiquei sem entender e pus a mão no bolso. Havia, sim, um papel. Tirei-o e vi que era uma espécie de cheque, apenas com algumas diferenças do tradicional. Não tinha a mínima idéia do que era aquilo! E ainda por cima eu nem andava com cheque no bolso! Havia alguma coisa muito estranha.

Mesmo assim, entreguei-o.

Ele olhou o cheque maquinalmente pegou uma pasta para conferir algumas informações e balançou positivamente a cabeça.

- Bem, o dia está certo. – falou.

Abriu a gaveta e começou a tirar diversas coisas.

- O que significa tudo isso? – arrisquei perguntar.

- Como assim? Você morreu e eu estou conferindo o valor do seu cheque pré-datado. Está tudo certo.

- Eu morri? – perguntei assustado.

- Claro. Bem, aqui está seu quinhão. Adeus. Próximo!

E eu saí a passos lentos, olhando para o que tinha eu recebido. Estava desolado.

“Só isso?”

Próximo!


André Espínola

9 comentários:

Deveras disse...

Pô, vc deixou no ar a pergunta que não queria calar: afinal, o cara se deu bem ou mal? Pelo visto, recebeu um trocado e foi tocado para o quinto...

Tava muito bom cara, tava prendendo a atenção bem legal, mas este final no ar me deixou meio bolado. Acho que é por que são 02:40 da matina e li isso esperando um final mais chocante.

Aê, ou bota uma asa no sujeito ou joga um tridente na mão dele, caraio!

Hehehe, ficanapaz!

(Eu bebo na segunda que é para chocar a sociedade !!!)

MPadilha disse...

Cara, um quinhão só? Já vi que o coitado vai passar fome naquelas bandas também. Quem mandou não investir mais? Ou então, não fazer contrato com o tinhoso. Ficou bom André. Vai se tornar especialista em falar de morte. Prefiro vc nos contos, bem criativo. Beijos

Giovani Iemini disse...

bom conto. descontrói a idéia pré-concebida da morte e dá outra visão sobre o "pós-vida", deixando no ar que não é do jeito que pensamos e, o pior, nem entendemos o porquê.

Lameque disse...

Confesso que estava perdido durante a leitura. Perecia um devaneio, a descrição de um sonho do autor, quando fui brindando com um final atordoante. Gostei muito.

emanuel disse...

hã?

o q?

ahhhhhhhhh

fala sério!

Anônimo disse...

Olááá André Lindo? Saludos! Gostei do texto. Você está escrevendo bem. Visse? Um cheiro de saudades. Maria José Limeira.

Anaconda de Deus disse...

tamo nessa vida para trabalhar e não a diversão, então acordem enquato é tempo.

Klotz disse...

Na literatura não existem histórias novas. Existem jeitos diferentes de contá-las. Gostei do final.

Fernando Maia Jr. disse...

Muito divertido! :-) E interessante. Bom conto! :-)