quinta-feira, 5 de abril de 2007

Pipoca



Hoje é sexta-feira, começo do fim de semana. Dia de cinema. Dia de alto astral. Deveres cumpridos e descanso merecido.
Chego em casa já com duas comédias trazidas da locadora.
Banho tomado, roupa confortável, pés descalços e telefonema da namorada dizendo-se companhia para o filme e para a pipoca.
Para minha surpresa, vejo que no armário onde deveriam estar os saquinhos de pipoca para microondas, eu encontro apenas um caixa de goiabada.
– Não sou quadrado! Eu me viro!
Acho que ela não vai gostar de comer goiabada vendo filme. E se eu colocar no microondas? Acho que também não vai gostar.
Chinelo no pé, vou à padaria. Só tem milho para pipoca de panela.
– Não tem para microondas?
Me enchi de idéias, comprei um pacote de milho e ainda dois pães franceses.
Já em casa, procurando por pipoca, nada encontrei, nem no índice do velho livro da Dona Benta.
Como é que não tem nada?
Naqueles tempos nem havia microondas!
– Não sou quadrado. Eu me viro!
Cheio de autoconfiança e criatividade, pego o saquinho dos pães franceses e coloco duas xícaras cuidadosamente medidas do milho recém-comprado.
Feliz por me lembrar do óleo, coloco caprichada meia xícara por cima dos milhozinhos. Acho que xícara inteira é demais.
– Eu tenho uma boa mão. É o que dizem meus amigos da roda de pôquer.
Resolvo deixar o sal para depois.
Orgulhoso das idéias, grampeio o saco de papel por três vezes.
Apressadamente coloco no microondas, afinal a banca da pia já tem óleo demais para o meu gosto. Aproveito para secar o caminho de óleo entre a bancada e o forno.
Ansioso, nem espero a namorada chegar nem o filme começar. Aperto a tecla PIPOCA e providencio uma bebida. Vinho!
– Vinho é bom para namorar...

O ruído do forno está diferente!
Espio pela janelinha e vejo que o saco estourou. Abro a porta imediatamente a tempo de levar uma pipoca na testa.
Toca o interfone. A namorada já vai subir.
Ela chega e eu, cheio de brios, ofereço vinho e um pão com goiabada.

※ ※ ※ ※ ※
Este conto faz parte do livro não publicado Aventuras Culinárias.

12 comentários:

Anônimo disse...

Oi Roberto, to anônima mas sou eu MEZINHA, so consegui postar assim, o iogurt deu pane. Eu adorei a realidade do homem moderno, continua o mesmo, sem saber se virar. Tu conto é interessante nesse sentido, de mostrar o NÃO desenvolvimento, a NÃO evolução, do sexo masculino,rsss
Brincadeirinha, adorei, beijão.

Deveras disse...

Cara, nessas horas em que queremos mostrar nossas aptdões culinárias (tenho algumas, foda-se a modéstia) parece que sempre têm algo que conspira contra o homem na cozinha... Gostei... Conto ou crônica ? Sempre me embaralho com isso.

Tá gostado, de qualquer maneira, hehehe

MPadilha disse...

O que eu não faço para comentar vc hein Roberto,rsss
Por que não comprou queijo? Queijo e vinho é afrodisíaco.Beijos

Fernando Maia Jr. disse...

Muito legal, mestre Klotz! hehehehe Como sempre! Se eu tivesse dinheiro, publicava este seu livro - e o outro. :-D

Plena manhã de quinta, dormido apenas duas horas (fui prum forró aqui no Rio ontem). Nada como começar o dia com o bom humor que seus textos proporcionam! :-)

(Me, tb não avacalha com nóis, né? :-P)

Giovani Iemini disse...

mestre, estou fazendo tantos contatos que talvez a gente o publique através da editor do bar.
hehehe.

Anderson H. disse...

Sensacional cara. Vale a pena a publicação.

ofilhodoblues disse...

eaieuahieheiuheae
mto bom! o pão com goiabada no final, depois de tanto esforço para a pipoca foi ótimo...

flew!

Lameque disse...

Roberto em seu conto/crônica revela o quanto nós, estas criaturas XY, somos limitados nas artes culinárias. Sinto que há algo de autobiog´rafio neste relato.
Tu és um escritor porreta Klotz. Dr. Jekyll também é seu fã.

Klotz disse...

No livro há 48 contos em que me coloco no centro das histórias. A grande maioria é ficção, inclusive esta.
Eu não queria comprar queijo para ter um conto interessante. Só por isso.
Obrigado por lerem. Estão todos convidados para comer pão com goiabada.

Larissa Marques - LM@rq disse...

Adoro ir para a cozinha, mas esse negócio de cozinhar todo dia tira o tesão de qualquer um. Mas um homem, lindo, cheirosos cozinhar pra gente, que seja pão com goiabada e vinho, "manjar dos deuses" ou melhor dizendo "manjar da deusa"!
Beijo, Roberto.

Eduardo Perrone disse...

Beto...
Isso me deixa, ainda mais, na expectativa de ler teu livro.
Conto simples , divertido e, extremamente cativante, na medida em que, nos "ganha", pela total adequação ao nosso mundo corriqueiro. A personagem do Klotz pode ser qq um de nós. E isso é bom.

Véïö Chïñä‡ disse...

heheheeh!
Divertido pacas, Roberto.
Gosto do teu senso de humor.
Muito bom!