segunda-feira, 28 de maio de 2007

FICÇÃO DO VERBO



Um arsenal de bazucas dispara sons ensurdecedores de choros causados por melancolias definhadas.

Observo, girando freneticamente em meu cavalinho cego em carrossel vazio
Oro,tento chorar,acaricio meu animal que não lembro que é falso.
Desengoço os ritmos, agrido os ares com beijos e sou atingida.

A ficção se torna tensa.
Um mar de música triste se entorna no meu corpo Fazendo alvoroço em cada vícera,em cada osso, nos nervos
Chupando o pescoço

O carrossel girou tão rápido que os cavalos se soltaram e foram morar na imaginação de uma criança anônima

O som rastreia e rasga meu corpo com maestria
Como numa cirurgia

Mais parecendo um concerto de gênio musical

É tudo tão perfeito que me esqueço de sentir dor

Me entretendo curiosa como um turista em um templo estrangeiro
Vendo os desenhos que vão se formando no meu corpo um a um

Símbolos aparecem e se apagam
com uma delicadeza vertiginosa

E é quente dentro da poça de sangue provocada por tal trabalho artístico de bisturis invisíveis

Os cavalos voltam,agora alados... unicórnios,com crianças alucinadas
montadas em seus flancos

Elas riem

Elas cantam

Elas gritam

Pedem ao bisturi mágico que me perfure mais

Talvez elas queiram fazer esculturas com meu sangue
Mamar ou pintar os chifres dos unicórnios

Não me zango

São crianças lindas

Terrivelmente lindas!
Com olhos que giram em espiral e mãos compridas e sedosas que passam sobre mim
Rapidamente....de forma lúdica

Elas sopram e todo mistério do mundo lhes escapa pela boca

Foram longe demais, coisa proibida,

uma consumação,ato profano,fantasia esquartejada.

Não houve outro resultado...

Caíram todas, uma a uma, lado a lado,mortas,cadavéricas.
Com os olhos costurados, as mãos atadas
E um símbolo no peito que significava:

" No principio era o verbo, no final a ousadia de desconstruir e criar a nova linguagem dos anjos sob a condição de sucumbir-se até o vale da morte.”

E desta forma,finalmente me foi permitido chorar
e foram com essas lágrimas que enterrei cada corpo infantil
Sonhei mesmo correndo perigo,com os mistérios e voltei ao carrossel já destruído

E em meio a pouca música torta e rouca que sobrava do brinquedo também me entreguei ao

cérebro sagrado e aflito...
(imagem:Basquiat)

4 comentários:

Anderson H. disse...

É todo bom, pesado, pulsante, mas a terceira estrofe é a que mais fez minha cabeça.

medusa que costura insanidades disse...

Acho que vocês não gostaram muito do texto não é???
Não tem problema,escrever é sempre um risco....
Valeu Anderson!

Deveras disse...

Ficou muito punk... Algo entre a prosa e a poesia, uma prosa poética?

Tá meio esquizofrênico, mas quase todos os textos têm o seu quinhão de esquizofrenia mesmo.

ficanapaz

Anônimo disse...

Tirei uns minutinhos para me socialbilizar de novo.Seu texto impuslsivo.De fato concortdo com meu amigo, que escrever é um risco.e por isso estás aqui.Para soltar sua essência.
Arrisque sempre, faça sempre! Aviva tua ser poético!