Com a faca na mão ela soltava seus desaforos, dizia aos berros:
_ Ainda mato aquele infeliz, desde que veio morar aqui o desgraçado me trai, um dia hei de cortar seu pescoço e vou ficar olhando o infeliz se debater, ah se vou!
Enfurecida, começou a amolar a faca.
_Como é que consegue fugir para casa da vizinha sem que eu perceba? Ai, que ódio, é hoje que Teteu me paga, hoje irá pagar por todos os insultos que tenho que ouvir, as risadinhas de canto de boca que tenho que suportar, sem falar das reclamações do marido da vizinha. Bem que eu podia deixá-lo morrer nas mãos do Álvaro, bem que ele merecia o prazer de o matar.
Falava consigo enquanto separava os ingredientes para o jantar, descascou uma cebola, duas, e pôs se a picá-las, começou a chorar compulsivamente, não sabia se por Teteu ou pelas cebolas que faziam arder os olhos.
_Trato-te tão bem dando tudo de melhor, tenho cuidados, e até carinho por você, e ainda assim vai para a casa da vizinha, não vou me conformar, te conheço desde pequeno, não deveria se comportar assim!
Saiu para o quintal, com a dita faca, que brilhava de tão afiada, o galo já estava debaixo do balaio, mas Helena não sabia mais se queria matá-lo, era desobediente, trazia-lhe aborrecimentos, mas ainda assim tinha carinho pelo bicho. Com piedade cortou-lhe o pescoço e o serviu ao molho pardo no jantar.
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http://recantodasletras.uol.com.br/audio.php?cod=3434
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13 comentários:
hehehe, saquei logo que era um galináceo. bem escrito. bom conto.
Cozido em fogo alto, na panela de pressão, ninguém notará que a carne oferecida é de galo-velho-traidor (qualquer dúvida, pergunte ao Von Silva, ele dá expediente como aventureiro de cozinha também)... Maneiro o conto. Curto como uma vingança deve ser.
ficanapaz!
aeiuheiheaiuehea
maravilhoso larissa!
flew!
Larissa gostei do seu texto. A forma que você tratou o fujão foi muito digna. Parabéns.
Se fosse galinha, moradora da minha casa e freqüentadora dos quintais vizinhos o tratamento seria diferente. Ah, e como seria.
Arrancaria as penas uma a uma, até ficar pelada. Esfregaria sal e pimenta. Pegaria a faca cega para cortar o pescoço demoradamente. Jogaria a cabeça fora e corpo em óleo fervente. Serviria cortada em pedacinhos pequinininhos.
Sr. Deveras, espero que a receita seja do seu agrado. Obrigado pela referência ao von Silva.
Muito bom Larissa, confesso que já tinha lido ontem, não resisti e antes de publicar dei uma olhada. Vc superou todas as expectivas, fez um conto da maneira que gosto, com humor, surpresa, adorei.Meus parabéns amiga.
Vc me enganou até as últimas linhas Larissa e, quando eu leio pequenos contos gosto de ser engando.
Só fiquei intrigado com a reação desta senhora pelo simples fato do seu Galo haver pulado a cerca.
Ficou engraçado. =]
Beijins
Beijo a todos, mês que vem eu volto! Risos...
Ainda bem que ela o matou com carinho. Risos
Só mesmo você para fazer da morte um feito carinhoso.
Beijos
Muito bom. A história foi conduzida com primor.
quakquakquak
adoremos.
Mesmo um galinho pode ser alvo do ódio feminino...rs
Ótimo!
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