segunda-feira, 18 de junho de 2007

A CAIXA DE PANDORA


“Há muitas gerações, os deuses gregos criaram Pandora. Felizes com a beleza de sua criatura, deram-lhe uma caixa que supostamente conteria maravilhas indizíveis. Os deuses disseram: ‘Nunca deverás abrir essa caixa’. Enviada aos humanos, ela gostou deles e desejou compartilhar as maravilhas com os mortais. Ingênua, ela abriu a caixa e liberou todas as doenças, pestes, guerras, malefícios, enfim, todas as desgraças. Assustada, fechou a caixa rapidamente e salvou um único elemento: a Esperança”.
Sem contar a maneira estúpida e autodestrutiva como o Homem vem se tratando há muito tempo (atualmente, o presidente estadunidense é o maior exemplo disso), a humanidade apresenta um mal muito maior, que não ganha diariamente as manchetes dos noticiários por não dar ibope: o egoísmo de pequenos idiotas mesquinhos.
Por esses dias, estava eu no folclórico Bar do Va-va (está escrito assim mesmo) em companhia do pessoal de sempre: trabalhadores em final de expediente. Professores, carcereiros, vendedores, operários, advogados, engraxates, enfim, pessoas procurando tirar a poeira da garganta acumulada após um dia de trabalho. Cervejinha daqui, cervejinha de lá, um dos presentes (que não vou citar o nome por pura piedade) comentou um incidente com seu animal de estimação. Disse ele: “Meu filho entrou correndo dizendo que o cachorro tinha derrubado um motoqueiro entregador de gás. Eu corri e vi o rapaz caído e desacordado. Levantei-o e dei-lhe alguns tapinhas no rosto para que acordasse...”. Nesse momento, eu o interrompi. Perguntei como ele pode cometer tamanha imprudência, pois o correto é não mexer no acidentado até que chegue o resgate. Para meu espanto, o dito cujo respondeu-me: “Que resgate, o quê? Não deixei que chamassem. Ficou louco? Já imaginou a complicação que poderia dar para mim?”. Diante de tal argumento, achei melhor calar-me para não faltar com o respeito e mandá-lo para algum lugar distante e pouco recomendável.
Esse acontecimento seria apenas deplorável se não fosse tão comum. As pessoas estão preocupadas apenas com os próprios interesses e são raros aqueles que realmente se preocupam com o bem estar do próximo. Essas pessoas freqüentam seus templos religiosos, dão esmolas para crianças quando tem gente olhando, falam sobre Deus ou Nossa Senhora e quando a vida (eu disse: A VIDA!) de outra pessoa depende de um pequeno ato seu, simplesmente fingem que não estão vendo. E não é preciso ser um “cagão” que não chama socorro para um acidentado para inserir-se na qualificação de néscio egoísta. Políticos fazem isso com milhares de pessoas ao mesmo tempo, ao aprovarem, por exemplo, o aumento de tarifas de um transporte (o coletivo) que é extremamente deficiente. Não levam em conta que o cidadão depende do ônibus inclusive para levar seus filhos para enfrentar as intermináveis filas de postos de saúde, também precários por culpa deles. Eu gastaria terabytes para citar as inúmeras irresponsabilidades administrativas cometidas pelos políticos, governantes ou não (bingos, pensões alimentícias, construtoras fantasmas, cassa daqui, cassa de lá) e ainda sobraria assunto aos montes. O fato é: os políticos estão preocupados apenas com os próprios vencimentos e com o que fazer para serem bem votados nas próximas eleições.
Da caixa de Pandora saíram todas as desgraças do mundo: governantes loucos, políticos desonestos, empresários incompetentes e pessoas que se recusam a ajudar alguém que pode ficar aleijado ou morrer, apenas por sua ignorância suspeitar que podem “meter-se em encrencas”.
Mas o que podemos fazer? Conseguiremos um dia mudar isso?
Ah! Bela Pandora. Ainda bem que guardaste em tua caixa a ESPERANÇA.

5 comentários:

Klotz disse...

É triste ler a alma do poeta tomada pela indignação.

Gostaria de ler a alma do poeta semeando fé e esperança.

Giovani Iemini disse...

é isso, mestre wilson, acertou na veia. pandora nos deixou atolados em merdas. a esperança guardou para si senão os homens a destruiriam tb.
ótimo texto.

o poeta é um sonhador, mas mesmo os sonhos devem tem uma ponta de verdade, senão serão apenas fábulas. eu não vejo como sonhar com um país melhor, um mundo melhor, enquanto não melhorarmos o homem.
a esse, meus queridos, sou completamente desprovido de esperança.

katherine funke disse...

paciência e compaixão podem ajudar a gente a fazer pessoas como esse homem aí mudarem um pouquinho de atitude...

Deveras disse...

Um texto altamente reflexivo. A literatura também têm o paepl da indignação, entretanto sem ser panfletária, para este ou aquele salafrário que ganha (literalmente) nas costas do povo.

Grande Mestre, minha admiração subiu mais um degrau.

ficanapaz!

Anderson H. disse...

o buraco.