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Foram dias e dias de uma escalada perigosa, de abrir trilhas, de consultar mapas - mas finalmente ele alcançou o Mestre no topo da montanha.
A região inóspita abrigava um monolito gigantesco - o verdadeiro cume da cordilheira. Lá estava sentado o ancião, em típica posição de lótus.
-Mestre! - exclamou ofegante o recém-chegado.
O Mestre, naturalmente, sequer moveu-se.
O viajante aproximou-se mais. O ancião tinha longas e mal cuidadas barbas, cãs caindo sobre as finas espáduas. Era raquítico e encarquilhado. E tinha ares de pouquíssimos amigos.
-Preciso da tua ajuda, ó Mestre!
-Senta. - respondeu o velho secamente, abrindo agora os olhos. E, imóvel, olhando-o de esguelha, continuou:
-Que buscas?
O recém-chegado disparou a tagarelar, eufórico, mordiscando a língua, gesticulando como louco, atropelando as sílabas e lançando cusparadas irritantes por todos os lados.
-Tenho sede e fome de sabedoria! - concluiu, tomando fôlego após a longa e disparatada sessão de palrice.
O Mestre tomou uma pequena trouxa. E dela retirou uma garrafa de Coca-Cola.
-Toma! Bebe!
Antes que o recém-chegado pudesse soltar qualquer asnice, o Mestre estendeu-lhe, na sequência, um delicioso e fumegante Big-Mac.
-Toma! Come!
-Mas... Mestre! - balbuciou decepcionado o exausto e faminto viajante.
O lanche estava com um excelente aspecto: alface, cebola, cheddar e o típico gergelim salpicado na sua abóbada. E o refrigerante! Uma verdadeira tentação, com suas malditas borbulhas de gás.
O viajante não resistiu. Devorou aquele sanduíche com dentadas vorazes, e tomou em goladas medonhas o delicioso líquido gaseificado. E nunca, nunca em toda sua medíocre vida, sentiu-se tão plenamente saciado!
Na sua parca estatura espiritual, descobriu que lhe bastava a saciedade crua e rasa proporcionada por aquele hambúrger maravilhoso e aquele líquido insuperável. Não viveria sem eles!
E, convicto disso, mergulhou novamente na Civilização.
Mago Eremita, 14/08/2007.
5 comentários:
como são sábios os mestres!
e q boa cozinha esse mestre deve ter, bem equipada...
:o)
(Sempre penso no efeito q teria um copo de Coca-Cola, se levado a tempos medievais... É o q eu levaria comigo, se fosse viajar no tempo pra essa época: uma garrafa de Coca! já pensou o espanto da galera, ao ver um líquido escuro e borbulhante? coisa de bruxa... claro!)
Os tentáculos do palhaço já alcançaram a montanha?
Putz...
Certa feita, implicaram com um ermitão que comeu uma feijoada na pensão da D. Maria, situada no sopé do monte.
Interessante. O conto.
Gostei, Mago! Acho que a idéia valia mais linhas, mas passou o recado.
Mago você foi perfeito.
Coca-cola na Terra e Deus no céu.
O Mestre sabe das coisas.
Quase passei sem ler.Formidável!Gostei muito!
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