sábado, 21 de fevereiro de 2009

Hippies of Cyber

Era véspera de natal.

Uma sexta-feira insana. No telão, cenas de um filme esquisito.

Uma garrafa de catuaba divido em três pessoas, algumas latinhas de cerveja, talvez quatro, e uns fortes goles em uma bebida ardente, acho que era vodka. Isso foi o necessário para prestar bastante atenção em um telão que, sincronizado com o som pesado, nos dava medo e delírio!

Entendam-me...

Saí de casa sabendo que a lua estava cheia. No céu, dava sinais de que proporcionaria-nos momentos únicos. O misticismo pairava!
O Sábio me aguardando com uma garrafa de catuaba na mão e falando alguma coisa com alguém no celular, pessoas vizinhas aprontando-se para a noite com seus carros estacionados, alguns vagabundos jogados na rua e um menino inocente pedindo alguns trocados para um bêbado no boteco afim de comprar qualquer coisa. Isso era o começo da sexta-feira noite na São Paulo afastada. Claro, nada comparado com as noites em Frisco ou Denver, mas ainda sim, bela por sua melancolia natural. Daria um bom retrato. Como percebi que o velho no bar nem os olhos conseguia abrir, do bolso tirei alguns trocados e dei para o menino que me agradeceu, olhei para a lua uma última vez e sai rumo à liberdade!

No ônibus com destino ao centro elitizado, onde a festa tomaria cor, aniquilamos a garrafa inteira em poucos minutos de viagem. Agora já estávamos em três, o Rodrigo já havia entrado no ônibus em algum dos pontos anteriores. O som dos fones de ouvido faziam o espírito elevar-se. Pessoas ao redor notavam nossa inlúcida loucura. Andávamos em sinergia, loucos pela vida! Três alguéns que buscam extrair tudo o que a metafísica vida nos oferece de mais intenso, desde as mais simplórias coisas até aquelas que chamamos de pecado. Intensidade é pouco para classificar-nos nesse dia! Ocupávamos o fundão do veículo, naqueles assentos últimos que formam uma fileira completa de cadeiras, eu sentava na janela direita ouvindo a transcendencia em música atravez do fone, enquanto os outros dois tratavam de planear aquela noite, davam-me a entender que mirabolizavam, conseguia ouvir as risadas dementes saindo daquele outro lado. A luz da lua vinha de encontro em seus rostos através da janela, faziam deles grandes guardiões templários pelo retrato místico que formavam. O Rodrigo com seu boné e as enormes levas de cabelo saindo por volta dele, parecia um maníaco iluminado gargalhando. O Sábio olhou pra mim e riu maquiavélicamente...

No bar de uma esquina, decidimos tomar umas cervejas antes de entrar. Cada um com uma lata enquanto andávamos na rua luminosa da avenida Paulista devidamente decorada pelas datas comemorativas à seguir, como todo ano. Luzes flamejantes lembravam o nascimento de Jesus, enormes arranha-céus enfeitados padronizavam aquilo que já estamos acostumados, pessoas andando pra lá e pra cá com pressa, vestidas formalmente para reuniões à portas fechadas. Alguns vagabundos com fome pedindo esmola do outro lado da rua cinzenta e esvoaçante. O centro!

Lá dentro, já estava normalmente alto. O telão chamava atenção por suas cores. O som no começo era progressivo.
Tratei de pegar mais cervejas enquanto os dois admiravam débilmente tentando entender a 'decór fluor'* àquele som fino. Peguei três latas, vorazmente extintas dentro de poucos instantes. Dançavamos e encontrávamos alguns amigos que também celebravam libertos. O Sábio tratou de pegar mais algumas latas, também em poucos minutos, nem mais uma gota. Mais tarde, o som já era outro, sessão descarrego! Algo que lembrava um maracatú, porém, não era necessário ninguém usar seus instrumentos para fazer o barulho, a tecnologia fazia tudo. Virou bagunça. Pesado e psicodélico, Disfunction o nome do projeto, fez todo mundo pular e dançar, todos celebrando estarem vivos e paralelos à qualquer preceito normativo de uma sociedade sistemática. Ali éramos todos um! Um grupo de "loucos" em busca da real inteligência humana. Abraços eram trocados. O guardião iluminado descarregava suas energias bem no centro da pista, todos notavam seu espírito, seu colar no pescoço sacolejava a cada movimento de seu corpo em sincronia com o som. Talvez umas duzentas batidas por minuto, e seu corpo as acompanhava em completa naturalidade, seus olhos estavam fechados... O Sábio permanecia estático, com um copo de vodka nas mãos, peguei aquele copo de sua mão e fui para outro ambiênte, subi as escadas e golava vez por outra aquela bebida forte. Lá em cima, hipnotizei... Descarregava as energias como alguém que à tempos não fazia. Sentia todas aquelas vibrações pulsantes de minha melancólica vida, jorrando-se para fora ao infinito desconhecido mundo de confusões, as duzentas batidas por minuto eram poucas para mim, meu corpo inteiro se mechia, perdi o controle, tudo o que fazia era pensar, enquanto meu corpo movia-se por si só, fiquei à mercê 'daquilo'!
Ah, o telão...


Decór fluor = Decoração fosforescente. Utilizadas geralmente em festas trance, psicodélica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, peço que, se possível, divulgue o site do poeta Ulisses Tavares (www.ulissestavares.com.br) em seu blog.
Mandando um email para nós você concorre a um livro por semana do escritor!
Desde já agradeço a gentileza.

Abraços!

Lívia disse...

Caraaa..adoreei essa postageem..
Muiito divertido Tudo o que disse..muito psicodélicoo..adooreeii...aaa sem contar que a sua maneira de escrever foi de uma forma beem louca..PARABENS..