quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Convidado Louis Alien

À MAIS FIEL DE TODAS AS GAROTAS


Ela liga às 5 da manhã, pra avisar que não vem. A voz rouca e sexy dela me faz arrepiar por inteiro. Adoro a sensação. É como escorregar num tobogã de lâminas e mergulhar numa piscina de álcool.

é ela, que nem precisa se identificar: a mais fiel de todas as garotas. nunca me deixa na mão. mesmo quando não vem, ela faz questão de me avisar. E é sempre esse arrepido elétrico percorrendo meu corpo. nossa história começou há muito tempo atrás, nos tempos de eu menino. ela gosta de mim, eu sei. e eu gosto dela. esse gostar se entende pela aceitação de espaço e tempo.

tem sempre um espaço e um tempo certo pra encontrar essa garota, que anda por aí no meio de todo mundo, que já esteve em todo tipo de lugares, conheceu todo tipo de gente, já bebeu e usou de tudo, já esteve em tudo.

ela me pede pra ir com mais calma:

"babe você sabe que sou louca por você, mas ainda não é a hora. cuida das coisas, diz e faz tudo que deve ser dito e feito antes de eu te abraçar... cada dia é o último, e pode ser mesmo."

o rádio toca um blues dos anos 40, daqueles gravados num take só, eu reflito nisso pela crueza da coisa. a crueza dela está em todas essas coisas cruas e pulsantes. sinto o toque dela através do fone, como um sussurro ao pé do ouvido, e as ondas de choque aos poucos tornam-se calor. o frio lá fora passa subitamente. ela gosta de causar esse efeito em mim.

ela sabe tudo sobre mim.
não me julga por nada.


me aceita exatamente como sou, se estou ou não. se vou e não volto. abro uma garrafa de vinho e a saúdo. pergunto se ela quer, e ela me responde que bebe comigo sempre. que está sempre por perto

ela desce pela minha garganta quando o vinho rola pela minha boca, desce suave, doce, lenta. como o caminhar dela, que já a vi em muitos lugares.

eu a encontro em becos escuros, em ruas desertas. em bares vazios quando o amanhecer não passa de uma promessa nublada e escura. na casa de amigos, ao redor dos inimigos, através dos espelhos claros e embaçados do mundo...

ás vezes penso que ela é meu mundo. ela me diz que isso é uma besteira caótica apoteótica romântica típica dos poetas loucos como eu. rio e isso significa paixão louca, e esse sentimento passando por besteira é a escada pra novos horizontes, novas galáxias e planetas.

ela desliga o telefone. quando acordo, ela já partiu, mas não há solidão, só há aprendizado e uma paixão elástica esperando por preenchimento.

apesar dela estar em tudo que digo, ela é solitária. Eu também. afinal, a Morte parece ser de todo mundo, mas não é de ninguém




Louis Alien

4 comentários:

CARLA STOPA disse...

Envolvente reflexo de mim...Ah, esses amores elásticos...

Flá Perez (BláBlá) disse...

sabia que um dia vc ia bombar por aqui
desde o seu sucesso no BDE de Parati.

bjbjbj

Louis Alien disse...

Eis que quase um ano depois, volto à vida e me acho aqui! foi muito bom estar com vocês em Parati!

Louis Alien disse...

Mais de um ano, né?