domingo, 13 de maio de 2012

Barulho no fim do corredor.... (Danilo Berardo)


Já era mais ou menos umas 6:15 daquela sexta-feira e o escritório estava vazio, mas eu ainda estava lá, minha sala ficava na quina do andar e as salas rodeavam o andar. Da porta da minha sala, em uma das quinas, eu podia ver dois corredores, podia ver até o fim dos dois corredores. Sempre foram corredores bem iluminados, mas naquele dia, apesar de 6:15 ainda, o tempo estava muito fechado e parecia que ia cair uma chuva daquelas tenebrosas.
Eu estava lá ainda, pois teria que fazer alguns ajustes em alguns computadores depois do horário comercial, ia começar só a partir das 7:00. De vez em quando eu ficava por lá até mais tarde e nas terças e quintas, sempre passava o rapaz do aspirador depois de umas 6:30. Mas naquele dia era sexta e estava tudo calmo, exceto pela tempestade que começava a se formar e alguns trovões e raios faziam barulho e luz lá fora.
O tempo foi passando e chegou 7:00 horas. Comecei os ajustes. A minha mesa ficava virada para a janela e ficava de costas para a porta da sala. Por volta de 7:20, tive a nítida impressão de alguém passar em frente à porta em direção ao fim de um dos corredores. Poderia ter sido alguém voltando para pegar uma chave ou alguém com algum trabalho agendado. Não era muito comum nas sextas-feiras e até onde eu sabia não haveria mais ninguém por lá naquele dia. Continuei meu trabalho.
Por volta de 7:35, eu ouvi um barulho vindo de uma sala distante, talvez na outra quina do prédio, parecia o barulho de algo metálico caindo. Resolvi dar uma olhada no andar. Chovia forte lá fora nessa hora e poderia ter alguma janela aberta. Andei pelo corredor e dei a volta no andar, não vi nada fora do normal. Não entrei em todas as salas, nem nos banheiros, nem na copa, mas tudo parecia calmo. Resolvi voltar para minha sala.
Continuei trabalhando e por volta de 7:55, ouvi de novo o barulho, mas agora mais perto. Logo em seguida a luz do andar piscou, como se fosse apagar. A chuva lá fora tinha parado, mas parecia que ia recomeçar. Resolvi rodar o andar de novo, mas peguei uma lanterna na minha gaveta. Desde que havia me tornado membra da comissão de prevenção de acidentes da empresa, tinha aquela lanterna e uma mala de primeiros socorros na gaveta mais embaixo.
Logo ao chegar na porta da sala, olhei para um lado e vi o corredor vazio, tranquilo. Ao olhar para o outro lado, vi uma sombra sumir lá no final, como se algo tivesse passado para o outro corredor lá no final daquele. Bom, aquilo já estava ficando muito estranho e não me senti mais muito confortável. Resolvi voltar para minha sala e arrumar minha mochila e ir embora o quanto antes do escritório.
Arrumei minhas coisas e desliguei meu computador. No mesmo instante em que o computador acabou de desligar, a luz inteira do andar apagou e ouvi um estrondo enorme de trovão logo após uma rajada de raios de luz. A lanterna ainda estava na minha mão e nessa hora só pensei em chegar logo ao hall de entrada do andar e descer as escadas.
Eu estava no 37º andar, mas aquilo não seria problema, pois todo mês fazíamos um teste de evacuação do prédio e mesmo sendo tantos andares, descia bem em uns 7 minutos. Isso, se eu conseguisse chegar ao hall de entrada.
Liguei a lanterna e peguei o corredor à direita da minha sala. Ao dar dois passos dentro do corredor, ouvi de novo o barulho de algo metálico caindo e em seguida uma respiração forte, ofegante, como se alguém estivesse no andar e cansado ou fazendo exercício.
Parei e tentei iluminar em volta de mim dando um giro de 360º com a lanterna. Não pude ver nada, mas ouvi a geladeira da copa abrir e fechar. Em seguida ouvi barulhos como se alguém estivesse tirando coisas da geladeira.
Andei rápido até a porta de entrada para o hall e ao chegar lá, a porta estava trancada. Lembrei que havia uma porta lateral de emergência para o hall de entrada, perto das escadas. Mas essa porta ficava dentro da copa, do lado da geladeira.
Forcei a porta da entrada e ouvi barulhos da geladeira de novo. Não havia outra saída. Desliguei a lanterna um pouco e o barulho parou.
Ainda estava escuro. Se eu caminhasse até lá com a lanterna apagada, seja lá o que estivesse por lá, não me veria também, estávamos no mesmo escuro. Resolvi tentar isso.
Fui andando devagar em direção à copa. Já estava bem perto e não havia escutado mais nada.
Pronto, estava do lado da porta da copa. Parado, no escuro, quase sem respirar.
Nesse exato momento, a luz volta.
Lá estou eu, do lado da porta, agora no claro, sem ouvir nada, sem saber o que fazer.
Um silêncio tenebroso se instalou no andar naquele momento.
Eu não sabia o que fazer de novo, apenas pensava.
Decidi entrar de uma vez na copa e passar por ela direto em direção à porta. E se a porta também estivesse trancada? E se alguém estivesse por lá? Que alguém?
A dúvida era paralisante.
Decidi então virar para a porta, olhar antes e agir depois.
Se não tivesse ninguém, ia direto para a porta.
Se tivesse alguém, poderia ver quem ou o que em uma fração de segundo e decidir o que fazer em seguida. Teria que ser uma decisão rápida, ou não.
Esperei mais um pouco, não ouvia mais nada.
Decidi, iria virar, olhar e agir.
Contei baixo até 3. 3... 2... 1...
Virei!
Da porta eu pude ver aquilo. Um homem enorme, gordo, alto, com uma roupa imunda, a geladeira aberta, ele com uma faca na mão.....
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.... passando manteiga no pão! J

Ufa!

Era o zelador roubando lanche do andar.
Boa noite!