quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Três crianças


Eram três crianças no elevador. Sete ou oito anos, no máximo.
Antes, no play, algumas crianças brincavam. Naquela correria toda, o menino chamou uma amiga.

MENINO: Queria te pedir uma coisa.

A amiga tremeu.
Era apaixonada por ele. Ele pediria um beijo?
Suava um pouco.

AMIGA: O quê?

Disse, tentando disfarçar o nervosismo.

MENINO: Mas você tem que prometer que vai guardar segredo.

Mais nervosa ainda.

AMIGA: Ai, tô curiosa!
MENINO: Promete?
AMIGA: Prometo. Fala o que é!

Silêncio.
O menino despejou.

MENINO: Sabe ela?

Apontou pra uma menina de sete ou oito anos em pé sobre um banco de madeira, com um laço rosa na cabeça.

MENINO: Gosto dela, mas não consigo falar. Você fala pra ela que eu quero casar com ela?

A menina ia embora no dia seguinte. As férias tinham acabado e o tempo na casa da avó também.
Era hora de partir e o menino de sete ou oito anos estava completamente apaixonado.
Sua pergunta tinha ficado sem resposta.
Insistiu.

MENINO: Fala?

O menino declarou seu amor pela menina de laço rosa, mas não percebeu que acabara de partir o coração de sua amiga de sete ou oito anos.
Ela não conseguia responder.
Tinha vontade de chorar. Achava que ia ser pedida em casamento, que ficaria junto com o menino para sempre, com um casal de filhos, uma casa na praia e um cocker spaniel feliz correndo no quintal de uma casa no subúrbio.

AMIGA: Falo.

Não chorou.
E respondeu.
Saiu rápido pra ele não perceber a lágrima brotando no olho. Foi em direção à menina de laço rosa e cochichou alguma coisa no ouvido dela. Nada sobre o menino.
Voltou.

AMIGA: Pronto.
MENINO: Ela disse o que?
AMIGA: Nada.
MENINO: Nada?
AMIGA: Nada.
MENINO: Mesmo?
AMIGA: Ela não disse nada, tá?

Ele estava frustrado.
Achou que faria um pedido de casamento naquele dia. Que ela não precisaria voltar pra casa e eles ficariam juntos para sempre, com uma família grande, muitos filhos, uma casa na praia e um basset feliz correndo no quintal.
Só o que houve foi a continuação da brincadeira e a gritaria no play. Até as seis e o toque do sino da igreja na esquina.
Eram, então, três crianças de sete ou oito anos no elevador.
Quarto andar.
Saiu a amiga com seu coração partido. Olhou para o menino no elevador, seu amigo, e acenou antes de correr pra que ninguém visse seu choro. Seu sofrimento.
Quinto, sexto e sétimo andares.
Silêncio total. O menino de cabeça baixa. A menina meio triste pelo fim das férias. Ele não disse nada. Nem ela.
Ela gostava dele. Mas não tinha coragem de contar. Achava que, naquele último dia de férias, ele ia pedir sua mão. Que ela não precisaria voltar e eles ficariam juntos para sempre. Teriam três filhos, um gato siamês, um sítio com piscina e churrasqueira e morariam num apartamento perto da praia.
Talvez fosse diferente se soubesse que ele gostava dela. Mas não sabia.
Oitavo andar.
Os dois saíram. A menina queria um beijo e um abraço de despedida. Ganhou dele um tchau rápido, numa tentativa de esconder o choro preso.
Triste, abriu a porta da casa da avó e foi lavar as mãos para o jantar. Quase não mexeu na comida.
No apartamento da frente, o menino olhava pela janela pras nuvens escuras no céu.
No quarto andar, a amiga dos dois chorava deitada nas almofadas de bichinhos de pelúcia.
Eram três crianças de sete ou oito anos. Sofrendo por amor.


2 comentários:

Alda Inácio disse...

Olá, li e gosei da estória das crianças, quantos adultos já não viveram uma igualzinha não é?
Então deixo aqui um convite para você e todos os escritores darem uma opinião num blog que fla do escritor. É novo. E ali vamos debater assuntos sobre o livro e o escritor do futuro. Abraço.

http://escritor-do-futuro.blogspot.com

Silenciosamente ouvindo... disse...

Venho desejar a si e sua Família
um FELIZ NATAL
Bj.
Irene Alves